5 ANOS ATRÁS POR MARINA
Minha família adotiva me informou que eu voltaria ao abrigo provisório em poucos dias, não questionei o motivo e não tentei ficar, já estava acostumada com casais se enjoando da minha cara e me mandando de volta. Entretanto eu sabia que era porque ela finalmente tinha conseguido engravidar, o volume crescente em sua barriga era cada vez maior e eu provavelmente seria um peso, então só me restava aguardar pela despedida. Dizer adeus a uma nova escola e a outra família não era novidade para mim, mas me despedir de Nicolas era e essa, sem sombra de dúvida, foi a parte mais difícil.
Não me disseram o dia exato em que partiria, o que me deu tempo. Pensei e tentei planejar como seria dali para a frente. Podíamos fazer ligações e chamadas de vídeo, entretanto eu sentiria falta do seu toque e de ver o real brilho dos seus olhos verdes os quais a câmera nunca conseguia capturar. Talvez pudéssemos pegar um ônibus aos finais de semana e nos encontrar em alguma cidade, mas com qual dinheiro? Em qual tempo agora que Nicolas ficaria nos cursos preparatórios que o pai planejou? Ou até quando resistiríamos a isso? Não seria pior se fosse uma escolha nossa desistir um do outro depois de tanto desgaste? Eu não poderia fazer isso com ele. Doeria menos se eu me despedisse antes, se o fizesse acreditar que não tinha nenhuma alternativa de mantermos contato.
Eu estava no terraço antes dele chegar, calculando meticulosamente cada palavra que diria, mas encará-lo tornava tudo extremamente mais difícil e só percebi como seria impossível me despedir no dia que dançamos na chuva. O dia em quase disse que estava apaixonada.
Não podia imaginar como seria viver sem tê-lo ao meu lado, sem deitar sobre seu peito e ouvir as batidas do seu coração, sempre forte e reconfortante, ou sem sentir seus lábios sobre meu cabelo ou seu carinho em meu braço. Sempre muito cuidadoso em tudo o que fazia, sempre estudando minha expressão e meu comportamento para saber se permitia ou não. Como seguiria sem ele? Como eu diria a ele que fui rejeitada de novo por outra família? Era doloroso e vergonhoso demais. Por isso, decidi não tornar a despedida mais difícil do que já estava sendo.
Soube que não o veria a partir do dia seguinte, algumas horas antes de encontrá-lo no terraço novamente.
Fui correndo para casa depois da escola, peguei talheres, pratos e taças. Peguei a primeira cesta que coubesse tudo dentro para poder voltar antes de nos encontrarmos. Seria nosso último pôr do sol juntos, o que viria depois, somente Deus sabia, então precisava me despedir, mesmo que somente eu soubesse que se tratava de uma despedida. Olhei ao redor, averiguando se tinha esquecido de alguma coisa, até ver o vasinho com flor sobre a mesa. Era simples, mas era o que tinha no momento. Peguei e passei no mercadinho a caminho da escola.
Olhei ao redor, procurando alguma coisa. Nunca aprendi a cozinhar, a opção seria pratos prontos, peguei uma lasanha congelada e convenci as cozinheiras da escola a esquentarem pra mim.
Quis esperar no terraço, mas estava perdendo tempo, então fui procurá-lo. Ele estava cantando no campo de futebol. Estava tão envolvido na música que não reparou em como chamava a atenção. Um sorriso involuntário se formou em meus lábios conforme eu me aproximava e o observava em uma dança desengonçada enquanto recolhia cones e bolas pelo campo.
Cada parte daquela noite foi extremamente dolorida, minha mente insistia em sair e vagar por uma realidade em que tudo pudesse ser diferente. Senti seu abraço pela última vez, ouvi seu cantar pela última vez e quase não resisti quando ele me deixou em casa. Eu queria abraçá-lo e dizer que nunca o esqueceria, queria renunciar a todo o meu plano e chamá-lo para vir junto comigo ou me ajudar a fugir. Eu só não queria deixá-lo.
Na manhã seguinte eu fiz apenas um pedido para minha família adotiva.
— Não quero saber o motivo — Digo encarando-os, apesar de desviarem o olhar de mim. A dor e a culpa estampada em suas faces. — Já estou acostumada, e eu agradeço pelo tempo que estive aqui, entretanto, pelo que estão fazendo agora, me devem um favor.
— Nina, nos perdoe...
Balanço a cabeça interrompendo
— Só um favor— Peço. E contínuo após confirmarem:
— Quando esse celular tocar, — Entrego o meu aparelho antigo em suas mãos— atendam por favor, só poderá ser uma pessoa, o Nicolas. Digam que eu voltei ao abrigo. Não deem muitas explicações, apenas falem que provavelmente não nos veremos mais e desligue. Não passem número de contato nem endereço. Nada.
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DEPOIS DO PÔR DO SOL - Romance Cristão (DEGUSTAÇÃO)
Espiritual! FICÇÃO CRISTÃ ! - ROMANCE Eles só tinham um Motorhome, um notebook roubado e um sonho, mas isso foi mais do que suficiente para embarcarem em uma das viagens mais loucas de suas vidas. Preparados para iniciar essa jornada junto com a Nina? Mes...