Capítulo 15

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Em pouco tempo, Tio Marcos encontra um lugar seguro para estacionarmos. Ele tem os ombros caídos e os olhos vermelhos. Fazemos os ajustes necessários para passarmos a noite e o incentivamos a se deitar e descansar para logo voltarmos ao plano original: uma viagem direto para a conferência. Como ficaremos apenas uma noite, tentamos não tirar muitas coisas do lugar para quando partirmos na manhã seguinte não termos muito trabalho.

Desço as escadas do motorhome e respiro o ar puro, sentindo o sopro do vento em meus cabelos. Nicolas deve estar em algum lugar aqui fora, vou aproveitar a parada para podermos conversar.

— Nem sempre as coisas são do seu jeito... – Ouço sua voz ao telefone. Sento-me no degrau do trailer apoiando os braços no joelho e espio. Sua testa está franzida e os lábios em linha reta.

— Não foi isso que a Mamãe me ensinou e eu lembro como se fosse hoje de cada ensinamento e de cada conselho que ela me deu, e não incluía nada disso – suas palavras são firmes. Evito prestar atenção à medida que a conversa se estende, mas parece um assunto sério e com alguém que Nicolas se importa muito com a opinião. Espero apenas pelo momento em que desligue o telefone.

Tomo fôlego ao descer do trailer. Nicolas está encostado na lateral do trailer com os braços cruzados, preso em pensamentos.

— Posso me juntar a você? — Questiono.

Ele abre um espaço maior para que eu me encoste ao seu lado.

— Sobre aquela noite...

— Não precisar dizer nada se não quiser. — Retruca

— Não, eu quero. De verdade.

Ele finalmente me encara, seus olhos estão receosos ao olhar os meus, como se tivesse medo do que encontraria neles.

— Obrigada por ter me ajudado — Suspiro — Eu pensei que talvez não quisesse mais falar comigo ou estivesse bravo por eu ter ido embora sem dizer nada.

Nicolas balança a cabeça.

— Não, eu estava mais para magoado do que bravo — ri despretensiosamente — Mas aprendi a lidar com muitas coisas difíceis da minha e vou sempre te ajudar, Nina, independente do que aconteça.

— Preciso que saiba que eu fiz aquilo porque sabia que era o melhor.

— O melhor? Ir sem nem me dar a chance de te abraçar, sem me dar o direito de pelo menos tentar impedir? A impressão que tive é que eu não valia uma despedida, não faria falta.

— Não, Nicolas — Digo com certa urgência na voz, minha mão segura seu braço para que me olhe. — Achei que se eu mostrasse que não haveria maneiras de mantermos contato seria menos doloroso. Talvez me esquecesse mais rápido.

— Eu ainda tinha muito para te dizer. Talvez conseguíssemos, talvez pudéssemos ter feito nossa amizade se prolongar independente da distância.

Solto um longo suspiro, me sentindo atingida por suas palavras. O arrependimento de não ter vivido uma realidade diferente.

— Eu queria acreditar que sim — Meu coração ricocheteia no meu peito. Preciso mostrar que nunca foi minha intenção magoá-lo.

Ele se escora mais no trailer, como se não suportasse sustentar seu próprio peso mais a mágoa.

— Realmente achou que eu te esqueceria? Depois de tudo o que conversamos e vivemos?

Não sei o que dizer. Sempre achei que tivemos uma relação intensa apesar de não termos muita noção disso na época, mas pensei que fosse apenas unilateral. Acreditei que estava indo sem me despedir com medo de como ele se sentiria, entretanto, era mais sobre mim, em como eu me sentiria.

DEPOIS DO PÔR DO SOL - Romance Cristão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora