Capítulo 3

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O caminho para casa foi seguido de total silêncio, o que me deixou extremamente satisfeita, meus tios trocaram alguns olhares durante o caminho, mas preferi ignorar e me concentrar na janela, o que também não foi uma boa ideia.

Eu nasci ali, andei por essas ruas, entrei nessas lojas, estudei nas escolas dessa cidade, mas tudo isso foi quando eu ainda tinha meus pais, quando eu ainda não era conhecida como a menina que em uma noite ficou órfão. Tentei por anos evitar as lembranças, mas estar aqui de novo traz tudo à tona. Eu pensei que estava bem, mas reprimir certos sentimentos só o faz piorar com o tempo.

**

— Marina! — ouço a voz estridente de Sara ao passar pelo portão. Me surpreendo por ela ainda estar acordada a essa hora. Temos a diferença de idade de apenas um ano, mas me orgulho por ela ter seguido um caminho diferente. É mais estudiosa, organizada, dorme cedo, acorda cedo e tem o seu futuro todo planejado.

Sou recebida por um forte abraço quando me aproximo. Eu amo ela, principalmente porque apesar de anos separadas, nada mudou em nossa relação, é como se eu nunca tivesse ido embora.

Como você está? — Suas mãos passeiam pelo meu rosto e meus braços, checando se tudo está inteiro

— Ei, eu estou bem — A afasto com delicadeza e sou impactada com seu olhar. Ainda me assusto com seu cuidado comigo.

Ouço a porta da sala se fechar atrás de mim e vejo tio Marcos se aproximar.

— Nina, — ele me chama com a voz calma. — Nós entendemos o que você fez, também sentimos falta deles, mas não podemos passar a mão na sua cabeça pelo que aconteceu...

— Para por favor — Meus olhos se enchem de água. — Eu sei que o que fiz foi errado, mas vocês não fazem ideia do quão difícil é viver sem eles e mais ainda é estar nessa cidade de novo. — A dor volta, as lembranças me consomem e os questionamentos sem fim tomam o controle. — Onde estavam em todos aqueles anos em que eu estava sofrendo? Vocês não viram pelo que eu passei para tentar aceitar o fato de que sou órfão e não tenho mais ninguém lutando por mim, então agora, não venham querer ser os meus pais.

O gosto salgado das lágrimas invade meus lábios. Passo o dorso da mão para enxugá-las, mas é em vão.

Tia Tereza tenta controlar o choro, e seu marido a abraça como uma forma de apoio, consigo ver sua expressão de dor e me arrependo por cada palavra, mas é tarde de mais, uma vez que saíram, não tem como fazê-las voltar.

Meus pés dão passos involuntários para trás até meu olhar encontrar o de Sara.Há tanta pena e desgosto que sinto meu coração se estilhaçar.

Subo as escadas direto para o quarto de hóspedes, bato a porta ao entrar e me sento no chão, as costas apoiadas na cama enquanto as lágrimas descem incessantemente e perco a força por tanto chorar.

Ouço a porta se abrir levemente e tia Tereza surge em meu campo de visão. Ela quer permissão para entrar, como se fosse uma intrusa, quando na verdade eu sou a intrusa em sua casa.

Quero me desculpar, mas se abrir a boca, é bem capaz de sair apenas lágrimas então apenas assinto.

Ela caminha calmamente, quase como se estivesse com medo. Desvio de seus olhos o tempo todo, tentado evitar a dor estampada neles. Tia Tereza senta ao meu lado e apóia as costas na cama.

— Você tem razão — Curiosa, me viro em sua direção. — Não sei pelo que você passou, não conheço seus sentimentos.

Meu coração se constrange, pois sei que fui dura com as palavras anteriormente

DEPOIS DO PÔR DO SOL - Romance Cristão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora