Capítulo 6 - pêssegos.

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"Raiva e amor andam sempre juntos".

Pov Brunna

Virei-me e desliguei o despertador antes mesmo dele começar a tocar. Eu já estava acordada havia mais de uma hora. Tinha me debatido na cama a noite inteira pensando e analisando qual seria meu próximo passo com Ludmilla. A segunda aula com ela tinha sido um desastre completo e isso já era um eufemismo.

Eu tentei manter a calma. Deus, como tinha tentado. Mas não foi o suficiente. Deixei que ela me enfurecesse mesmo assim. Não fazia ideia do que Oliveira tinha que deixava-me tão pilhada, tão fora de controle. Ela era, no fim das contas, como todos os outros para quem dava aulas. Bom, isso não era totalmente verdade, ela era muito mais combativa, agressiva e muito mais atraente também...

Tentei não reparar nela para além de minha aluna, mas era difícil ignorar uma mulher que estava deixando-me completamente maluca.

Esfreguei as mãos no rosto. Não poderia ser estúpida ao ponto de me envolver, em qualquer sentindo, com qualquer um dos meus alunos. A política de não confraternização da penitenciária era clara, e gostava demais do meu emprego para colocá-lo em risco. Sempre fui profissional e ninguém, nem mesmo Ludmilla, poderia fazer-me esquecer disso.

Mas como fosse possível, Oliveira ficava ainda mais linda quando estava furiosa. A raiva dela parecia fazer sua pele brilhar e as linhas de expressão, que imaginava serem marcas causadas pelo ódio dela por tudo ao seu redor, se dissolviam, deixando seu rosto sereno e perfeito. Ela era, naqueles momentos, a criatura mais estupenda que eu já tinha visto.

Por mais assustada que tivesse ficado ao vê-la atirar a carteira contra a parede durante a aula, tinha sido incapaz de desviar os olhos, observando com fascinação o monstro que habitava dentro dela rugindo. Ludmilla era animalesca e, naquele breve momento, completamente livre. Era esse único pensamento que fazia com que as partes do meu corpo ganhassem vida, de um jeito espetacular, era o lado de Ludmilla que desejava e detestava com o mesmo fervor.

Mesmo assim, o que quer que meu corpo pensasse sobre o assunto, sabia que o fato do guarda ter torcido o pulso dela era completamente inaceitável. Oliveira não merecia aquilo. E iria dizer isso a Anthony Ward assim que chegasse ao trabalho. Mas, por algum motivo, o diretor não estava lá na hora em que cheguei.

Um pouco desanimada e ainda muito confusa, comecei a organizar minha sala, tentando ao máximo não pensar se Ludmilla iria aparecer. Puxei a gola da blusa, frustrada, ao perceber que a maior parte de mim queria ela na sala do que a parte que não queria.

Soltei um palavrão em voz alta.

- Levantou com o pé esquerdo? - a voz de Patty, parada na porta, dissipou os pensamentos da minha cabeça por uns cinco segundos antes da batalha dentro dela recomeçar. Eu apenas sorri e ergui as sobrancelhas, incapaz de expressar de maneira sensata por que estava xingando uma sala vazia - Ela foi afastada - disse Patrícia de modo casual enquanto colocava a bolsa sobre a cadeira.

- O quê? - virei-me para Patty sem entender do que ela falava.

- Oliveira - respondeu, dando de ombros - Ward disse a ela que seu temperamento está fora de controle. Ela é uma ameaça a si mesma e aos outros.

- Que droga e como ela reagiu?

- Como sempre reage: alguns palavrões e uma carranca - ela deu um passo em minha direção - Isso vai afetar a liberdade condicional dela.

Ergui as sobrancelhas, surpresa. Nem sequer sabia que Ludmilla estava sendo avaliada para isso.

- Quando o pedido de liberdade condicional vai ser revisto? - perguntei interessada.

Desejo proibido.Onde histórias criam vida. Descubra agora