consume | ray marcelle.

19.

- Por favor, Hytalo...

- Não, Ray Marcelle. Tu já tá desaparecendo de tudo que a gente faz, povo tá perguntando de você além de você mal abrir o instagram na sua própria conta. Como é que você quer deixar de ir na recepção do Lotus? Não sei o que tá acontecendo com você, mas seja lá o que for já tá mais que na hora de parar com essa palhaçada.

- Eu posso ir nas próximas, eu prometo. Eu só não quero ir nessa...

- Não, Ray. Vai nessa e pronto. Inclusive, depois que se arrumar vou anunciar uma nova brincadeira lá na sala. Vê se não se atrasa. - Hytalo sai andando.

Fico parada no meio do corredor, tentando saber como vou fugir de Pedro a noite toda. Como vou fazer pra não chorar.

Tentando saber como vou fingir que não chorei a noite toda e não devo ter pregado um olho, que não tô exausta, que não gostaria de dormir e nunca mais acordar.

Meus olhos pesam uma tonelada e doem só de piscar, meu peito mais ainda, meu corpo parece ter um chumbo de pressentimentos ruins e eu não sinto mais vontade de fazer nada.

Cheguei num nível de cansaço que... que talvez eu nem consiga mais fingir. Que talvez eu simplesmente suma, ou fuja, ou só continue nesse ciclo de agonia, como consequência dos piores erros que cometi na minha vida. Eu me odeio tanto, tanto, tanto.

Me odeio por ser eu, me odeio por ter sido tão hipócrita, tão desonesta, me odeio por fazer todo mundo me odiar. Me odeio por ter tido uma crise, por ser simplesmente quem eu sou, me odeio por enganar Nicolas, por não ser a garota perfeita pra ele, por esconder quem eu realmente sou; que é um fracasso. Me odeio por ter feito o que eu fiz.

Minha garganta dói, mas meu olho nem chega a lacrimejar. Acho que qualquer lágrima já secou.

***

Mal me arrumei.

Acho que não seria novidade, considerando que da última vez também não fiz isso. Só me preocupei em deixar o cabelo arrumado e colocar um vestido tubinho com um tênis da mesma cor, só pra dizer que eu fiz questão de me vestir pra ocasião.

Pego uma bolsinha qualquer e desço pra sala, onde tá todo mundo junto e produzido. Incluindo Pedro. Não olho pra ele e faço questão de sentar bem longe. Sinto que se eu só olhar pro rosto dele vou começar a passar mal. Sinto medo do que ele quer fazer. Do que ele disse que não tinha como eu fugir.

- Tão esperando quem? - Dayllane desce as escadas, toda linda e produzida.

- O Hytalo! Ele disse que ia falar alguma coisa pra gente. - Kamylinha fala.

- Já tô ficando sem paciência. - Yrley resmunga. - Se ele fizer todo esse suspense pra no final dizer uma coisinha besta eu vou hablar, mas vou hablar bastante.

- E se for mais tempo de celular? - Ketlyn pergunta.

- Pois eu duvido. A não ser que ele coloque tarefa de casa pra aumentar. - Andyn fala.

- Cheguei. - a sala toda se enche de gritos e vaias. - Ei, ei! Chega, vou falar a surpresa agora! - todo mundo vai ficando quieto e se ajeitando no sofá, esperando ele falar a tal surpresa. - Bom... depois de muito pensar, eu decidi que tá na hora da gente sair um pouco de João Pessoa e dar uma rodada nesse Brasil por algum lugar. - ergo um pouco o olhar pra ele, enquanto todo mundo começa a sussurrar e suspirar de surpresa. - Não pode ser pra São Paulo porque em São Paulo a gente já foi, e como eu tô muito em dúvida e não sei por onde a gente pode começar, decidi que é vocês que vão decidir. - os gritos voltam de novo, cada um tentando falar por cima do Hytalo e sem conter a animação. - Calma! Não é simplesmente decidir. Quem mais fizer tarefa de casa semana que vem e juntar a maior pontuação vai poder decidir pra onde a gente vai. - os gritos voltam, mas o som fica abafado pra mim, porque tô presa em pensamentos distantes.