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Que ele realmente gosta de conversar comigo, que realmente gosta de me ouvir falando besteiras, que realmente sentiu tanta saudade quanto eu... e isso me deixa quase cega de desejo. Quase fervente, de tão quente que eu fico por causa dele. Deixo nossos corpos grudados e pouso as duas mãos no rosto dele, vendo a raiva se transformar em outra coisa intensa. Deixo um beijinho na bochecha dele, e ele sorri, de olhos fechados.

Leva uma das mãos pro meu queixo, vira meu rosto com cuidado e me dá outro beijo na bochecha... mas mais lento que o meu. Os lábios selam minha pele, e eu sinto cada pedaço meu se desconfigurar com a boca dele na minha bochecha. O leve molhadinho dos lábios dele fazendo minha bochecha formigar.

- Caralho, olha ae! - Edu dá risada. - O cara fica que nem um cachorro abandonado!

- Deixa eles, Eduardo. - a outra garota aparece na nossa frente com um sorriso animado. - Eu sou a Danynha, mas pode me chamar de Dany. Eu amei seu cabelo.

- Ah, jura? Obrigada. O seu também é lindo. - sorrio.

- Valeu.

- A gente já pode comer ou seis vão continuar enrolando? - o único garoto que não falou nada até agora, finalmente fala. Inclino a cabeça de leve, meio curiosa. Ele não faz muita questão de se apresentar pra mim, mas acho que pela cara eu já entendo que ele não é de muita conversa. Deve ser o... Pedrin? Isso. É o único que sobrou. Biel é o namorado da Mari, Juca é o engraçado que me chamou de linda, Edu o cabelereiro (também engraçado) e Pedrin é o mais sério deles.

- Bora lá pedir. - Biel fala.

Começamos a andar e Nic faz menção de me puxar pra ele, mas sinto outras duas mãos puxarem meu cotovelo pro lado e pra longe dele. Sou colocada entre a Dany e a Mari.

- Depois vocês ficam de boiolagem, agora a gente quer conversar com ela. - Mari fala.

Nicolas revira os olhos.

- Só não vai me explanar de novo, em?

- Pode deixar. - ela fala. - Então, de onde exatamente você surgiu, amiga?

- Eu...

- A gente não quer que você fale que é famosa e blá, blá, blá, porque disso a gente sabe. - Mari fala.

- Sabem?

- Claro! Ray, é bem difícil não conhecer o Hytalo Santos hoje em dia...

- Bem, eu não conhecia. - Dany diz. - Só conheci depois que o Nicolas mostrou você pra gente e disse que você era meio famosa. E é claro que a gente foi procurar você depois no insta e achou tudo relacionado... - meu coração tranca, e começa batucar em pânico. Sinto aquela sensação maçante, aquela sensação ruim de tá prestes a ser rejeitada de novo... essa é a hora que elas vão me rejeitar como todo mundo. Que vão me lembrar de que eu não devia nem chegar perto do Nic, porque ele não merece alguém tão... ruim como eu. Alguém que fez coisas tão horríveis com outra pessoa... -... mas isso não importa pra gente.

O quê?

- Tá na cara que você é diferente na vida real, e a gente não trabalha com aparências da internet, e sim com a realidade. - Dany fala. Fico tão surpresa e desacreditada que paro de andar. Acho que as duas conseguem ver a indignação nos meus olhos. Fico me perguntando se é uma pegadinha..., deve ser, não deve? Ninguém com sã consciência, me conhecendo da internet, vendo os vídeos dos stories antigos do Hytalo... ninguém deixa de se importar com o que eu fiz.

- É sério, amiga! A gente não se importa. - Mari fala. - Nicolas parecia que tava falando de uma pessoa completamente diferente, e é claro que a gente acreditou nele, porque ele é nosso amigo. E agora vendo você a gente acredita mais ainda. - fico confusa, porque nunca ninguém quis ser minha amiga por vontade própria.

Não sei por quanto tempo fico paralisada, olhando pras duas, vendo elas sorrirem e darem risada com a minha reação. Uma leve vontade de chorar toma conta da minha garganta quando elas voltam a enganchar meu braço no delas, e a andar comigo. Como pessoas que querem ser minhas amigas. Querem de querer.

- O que a gente quer saber é tipo, como você conheceu ele e essas coisas. - Mari fala.

- A-ah... - penso. - Foi numa festa. Eu nem teria ido se dependesse da minha vontade, porque... eu tava bem desanimada. Por motivos pessoais e porque minhas aulas iam começar, e eu não tenho nenhuma amizade.

- Ah, você ainda tá na escola? Terceiro ano que nem eu? - Danynha fala.

- Sim.

- Ai, é um saco, né? Ainda mais com pressão de vestibular.

- Demais. Você já sabe o que quer fazer?

- Minha primeira opção é relações públicas. E você?

- Não faço ideia. - dou risada, mas ela sai nervosa, porque eu de fato não sei.

Não sei em que momento da minha vida eu pulei a parte de me perguntar se eu tinha algo que eu queria ser, quando saísse do ensino médio... talvez servir de fantoche pra internet seja um dos motivos; porque eu só me preocupava em ser alguém na frente dos celulares. Porque eu achava que meu objetivo era ser a pessoa que eu era na frente dos celulares. Porque nunca parei pra pensar numa vida fora deles.

- Ah, não tem problema. Escolher com calma é a coisa mais preciosa que a gente tem que ter, porque imagina escolher uma coisa que a gente não vai gostar depois? Nada tira nosso direito de tentar de novo, mas acho que é importante a gente ter certeza do que gosta. - faço que sim.

- Verdade... mas e a Mari, também tá no terceiro ano?

- Sem querer ofender vocês duas, mas graças a Deus, não. Meu sofrimento agora é na faculdade.

- Ela faz na pública?

- Faz, e faz artes, pra infelicidade dos pais dela. - Danynha dá risada. - Se eles achavam que iam ser ricos pela filha, foram enganados, na moral... - Mari dá um beliscão no braço da Dany.

- Pelo menos que tô fazendo o que eu gosto. E vocês precisam fazer também, por mais que nada seja completamente fácil. Se um dia quiser fazer faculdade, faz na UFRJ, Ray. Universidades públicas são as melhores e mais gigantes, e a nossa é linda.

Sorrio.

- Pode deixar.

notinha: atualizei os personagens, gnt! podem imaginar os amgs do nic como vcs quiserem, só coloquei o jeito que eu imagino eles lá. bjss <3

consume | ray marcelle.Onde histórias criam vida. Descubra agora