Assim que a gente acha uma mesinha pra sentar, todo mundo se senta e começa a conversar. Nic começa a discutir com Juca porque ele tá no lugar do lado dele, e ele quer que eu sente lá; Edu e Biel começam a conversar de outra coisa e as meninas ficam discutindo o preço do que elas vão querer do cardápio... e eu? Bem, diante disso tudo só fico em silêncio, segurando um sorriso, admirando os amigos tagarelos que Nic tem.
A verdade é que eu sempre quis ter amigos assim. Do tipo que gostam de você, que são tão próximos que podem ser considerados seus irmãos. Apesar de ficar um pouquinho triste porque nunca tive isso, fico feliz porque ele tem.
- Sai daí porra, já falei. Deixa a Ray sentar do meu lado. - Nicolas fala quase sem mexer a boca, como se quisesse murmurar de um jeito que eu não consigo ouvir. Seguro a risada, porque eu tô ouvindo direitinho cada tom ameaçador, que me faz arrepiar: - Juca, se tu ficar de gracinha...
- Calma, pô. - Juca dá risada. - Caralho, tu fica mó neurótico por causa de um lugar?
- Eu quero ficar perto dela.
- Tu já tá perto dela.
- Quero ficar mais perto dela. - sinto um arrepio e meu corpo fica quente quando Juca sai do lugar dele e Nic faz questão de empurrar meu banquinho, pra eu ficar perto dele. Ele junta o dele no meu e uma mão se enrola na minha cintura, me fazendo ficar mais quente ainda e sentir um frio na barriga intenso que deixa meu rosto quente. - Isso. Bem assim. - murmura, com aquela voz grossa e regada do sotaque carioca que me deixa arrepiada. Ele pega o cardápio e coloca na nossa frente. - Escolhe o que tu quiser que eu pago. - vou abrir a boca pra tentar fazer ele não pagar, mas ele fala: - Não. Eu vou pagar e pronto, Ray.
Sinto meu rosto esquentar.
- Tá, eu vou querer um... hot dog normal.
- Certeza? Tem um monte no cardápio. Não é pra tu escolher o mais barato.
- Eu quero um simples mesmo.
- Certeza?
- Certeza, Nic. Mas mesmo que não fosse isso, eu também não ia te deixar gastar cinquenta reais num lanche. - meu corpo só falta pegar fogo quando ele me cola na lateral do corpo quente dele e cola os lábios no meu ouvido, murmurando naquela voz que só falta me deixar louca, louca a ponta de não conseguir me conter e beijar a boca dele. Meu corpo derrete e ele segura minha cintura com mais força.
- Eu gastaria mais de mil reais por ti, Princesa. - meu coração dispara feito louco, e é injusto ele se afastar pra continuar olhando o cardápio e me deixar quente e derretida do lado dele, querendo a boca dele de novo no meu ouvido... em outros lugares. Meu coração é quase a única coisa que eu escuto, e o corpo quente dele é quase a única coisa que eu sinto, junto com o cheiro de Nicolas que me faz ficar zonza de desejo.
Olho pro pescoço dele, pra mandíbula viril na pele bronzeada, e não consigo me conter antes de afundar meu rosto lá e sentir a pele quentinha no meu rosto. Vejo que foi um erro, porque assim que eu deixo um beijo na pele do pescoço dele, sinto o corpo dele estremecer e Nic deslizar a mão quente da minha cintura pra minha coxa e apertar, fazendo meu corpo entrar em chamas. O lugar onde ele aperta esquenta minha coxa, minha barriga, meus braços, em todo o lugar, e eu quero mais. Quero tanto que ele...
- Querem que eu fale pro garçom pedir um quarto também, porra? - Edu fala, eu me afasto de Nic, que manda um dedo do meio pra ele e me faz rir.
Fico quentinha no corpo de Nicolas pelo resto da noite, hipnotizada nos traços dele, naqueles olhos cor chocolate, que sempre escurecem quando olham pra mim e me deixam fraca. Não quero que a noite acabe mais... mas ela acaba, depois que eu como o cachorro-quente mais gostoso do universo e tomo coca-cola no mesmo copo que o dele.
- Nic. - sussurro perto do ouvido dele, e ele para de conversar pra olhar pra mim. - E se você não me levar embora? - ele vira o rosto pra perto do meu, tão perto que consigo sentir o calorzinho do rosto dele emanando no meu. Tão perto que fico perdida nos olhos escuros dele. Ele olha pra minha boca, e meu corpo se enche de calor.
- Tem volta não, em. Se eu te cato eu não devolvo, Ray. - dou risada baixinho. Ele leva a mão pro meu rosto, e ele se enche do calor da mão dele quando ele usa o dedão pra limpar alguma coisa no cantinho da minha boca. Vejo que é ketchup, e sinto um frio na barriga enorme quando ele chupa o restinho do molho do dedão. Ele volta a me olhar, a me deixar fraca do olhar dele. - Quando tu vai falar pra mim o que aconteceu, hum? Tu tava meio tristinha que eu sei. - ele desliza meu cabelo no dedo dele.
Meu coração se contrai, e aquela sensação que só ele me faz sentir volta pro meu peito de novo. Volta como um furacão dentro do meu coração.
A mesma sensação do dia que chorei na chamada com ele, a mesma sensação de quando ele perguntou o que tava acontecendo e eu só quis desabar... nunca senti vontade de contar tudo pra alguém. Dói demais. Mas é só Nic perguntar, é só ele fazer uma simples pergunta, que tudo fica na ponta da minha língua... que quero chorar e contar tudo que mais me perturba na vida pra ele, que quero afundar meu rosto no pescoço dele e só... chorar e soltar.
Mas soltar significa falar pra ele sobre... o meu passado. Sobre o passado que faço de tudo pra tentar esquecer, sobre o passado que mal posso lembrar e já entro em desespero. Ele não pode saber, se não vai ser exatamente como as milhares de pessoas que me odeiam... e só de pensar em Nic me odiando... eu não ia aguentar. Não ia.
Ele deve ver meus olhos marejando, porque passa o dedo no cantinho deles e beija no lugar.
- Não precisa ser agora. - sussurra.
- Tamo indo. - Juca para na frente e dá um toque com Nicolas. Ele levanta pra fazer outros toques com Edu e Biel.
- Tchau, Ray! - Danynha vem na minha frente pra me abraçar, e eu levanto e abraço ela de volta.
- A gente quer te ver mais vezes, amiga. - Mari fala, e eu abraço ela também.
- Eu também quero... vocês podiam passar o número de vocês!
- Claro!
É aí que eu lembro.
- Ah, não vai dar... eu tô sem celular. Mas quando eu tiver ele de volta ou falo pro Nic me mandar.
- Tá bom! - Danynha fala.
- Cê podia ir amanhã na praia com a gente, acho que os meninos vão combinar de jogar altinha.
- Ah... eu vou ver se eu posso ir!
- Beleza! - elas me dão mais um abraço e vão embora.
Sinto mãos envolverem minha cintura e me puxarem pra um corpo quente, e eu viro e não consigo evitar envolver os braços ao redor do ombro dele e abraçar Nic com força. Afundo meu rosto no pescoço dele. Meus olhos lacrimejam, e eu não quero ir embora. Não quero me desgrudar do corpo quentinho dele, do cheiro dele; não quero sair desse abraço como saí daquele que eu dei na primeira vez.
Ele me abraça mais ainda, e nossos corpos se grudam num encaixe tão gostoso que gemo baixinho. Nic afasta nossos rostos pra poder olhar pra mim.
- Como vou continuar a falar contigo? - murmura.
- Não sei... talvez pelo celular das meninas... Hytalo não quer me dar o meu.
Ele respira fundo.
- Tô pensando seriamente em te roubar.
- Rouba? - peço, e ele solta um grunhido antes de afundar o rosto no meu pescoço e me cheirar.
- Roubo mermo, fica esperta. - solto uma risada abafada.
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consume | ray marcelle.
Romance"às vezes queremos aquilo que alguém tem, e por não sabermos nos expressar acabamos roubando a chance dessa pessoa." e se a ray, pela primeira vez, houvesse um par romântico na turma? e se ele nunca nem tivesse chegado perto de ter se relacionado co...