Brasil com z

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Aclamado por estrangeiros que moram na zona temperada, "a cidade maravilhosa" e suas paisagens e natureza. Brasil com z. Um garotinho sétimo-anista estadunidense puxa um papo na língua mais difusa do mundo com seu "friend" enquanto fala que foi visitar o Brasil. Fala, como sempre, samba, bom de bola e bom de cama, praia, palavrão, mulheres nuas com frio, calor, capoeira, Cristo Redentor e Amazônia.
Brasil com z, um show de arte e cultura nunca antes visto, miscigenação, choque de cultura, revolução artística de 22, forró ao metal, o som da cuíca, do berimbau e do piano. A história dos reprimidos, e dominantes, triste e por partes célebre. O povo sempre alegre e hospitaleiro que sempre busca a zoação e a brincadeira. Uma festa que nunca acaba mesmo se nevar ou cair um temporal, com desastre natural não é necessário se preocupar. Comer uma feijoada ou um baião de dois, na Floresta Amazônica ou Pantanal.
Brasil com z, o Brasil que os brasileiros gostariam de morar. Todo dia, pegar seus pertences e ir até o calçadão de Copacabana, entre aquelas ondulações que se misturavam e se rebatiam com as ondas do mar, para pintar um quadro com as cores mais vibrantes, composto pelos banhistas, surfistas além dos vendedores de picolé que atazanam o turista; logo depois ir dar um mergulho rápido e então ir jogar uma pelada na praça perto de casa, finalmente chegar cansado e escutar um samba enquanto toma um banho para expulsar toda a mentira e esteriotipagem desse cenário fictício tanto como utópico.
Brasil com s, venha pro país do futebol que não ganha uma copa do mundo há 24 anos. A maravilha que esconde o sofrimento.
Bandidos correm pelas ruas com armas semiautomáticas expostas que assustam até o PM. Os mesmos ladrões que as vezes são ou foram da polícia, sem falar dos que já estão soltos em Brasília com aprovação do povo, vivendo às custas da própria população que cada vez fica magra enquanto a barriga deles quase os matou por sufocamento ontem à noite, saiu até no jornal!
O coração do carioca, em geral, do pobre (a maioria de nós), o lugar que tem tudo para quem tem tão pouco, o Mercadão de Madureira. Eu ando por corredores confusos e longos com coisas desde fúteis até artefatos religiosos e escritórios. Pessoas e mercadorias por todos os cantos, eu, com uma coxinha e uma coca na mão, perambulo, perdido, enquanto tento esconder ao máximo meu celular que enfiei na minha calça para não passarem a mão. Nessa cena típica brasileira, penso em por que comprar alí ao em vez de comprar na Amazon ou em qualquer serviço online. Brasil com s, o país de terceiro mundo vendedor de commodittie, que não sobe barreiras alfandegárias por causa da OMC. O novo brasileiro, vende e faz compras no estrangeiro, nossa fome não importa, o que importa é a gula deles, a carne não é mais para nós. O Brasil com s foi dominado pelas potências. Nos nossos livros de história somos expectadores e não protagonistas. Enquanto os índios e africanos, explicados em poucas palavras, o temor e medo, o sofrimento e a chama da nossa alma superada por outros países, colônias hereditárias, escravidão e o nada amigável descobrimento do Brasil, "começou ali" o caminho para o desenvolvimento do país que anda em passos mais lentos que de tartaruga, e toda essa base de sofrimento gerada por espelhos e miçangas. Desde a rebeldia e coragem de zumbi dos palmares, homenageado por uma discreta estatua de seu busto no centro do rio até o homem deitado assistindo Netflix. Tiradentes até a praça em que foi esquartejado . Antônio conselheiro e o arraial de canudos, ou seria açude de canudos? Os nossos heróis morreram de overdose....
Brasil, seu filho está no estrangeiro e o meu na favela. Seu filho cursa direito e o meu cursa guerra. Menino de rua, todo dia de manhã eu escolho um novo nome, vejo a malícia. Por que você também não vem dançar onde é proibido, ignorar a plaquinha e pisar no gramado? Meu filho subindo as escadas do Vidigal acostumado e incentivado a viver o que realmente acontece ali dentro, mesmo as com as pequenas e coloridas casinhas construídas em lugares de risco e sem nenhuma preparação, a cena continua preto e branca tirando o azul do mar que contrasta, para se limpar a mente.
Brasil com s, o pulmão do mundo. A floresta ateada em fogo, onças pintadas, capivaras e araras pedem socorro. A dependência de mais desenvolvidos para nos doar uma esmolinha e um conselho de como cuidar de nossa natureza, mesmo depois disso as cinzas ainda ascendem ao ar e num ato singelo de desespero caem sobre a não mais mata. Alí construídas rodovias, onde andarão os carros abastecidos por gasolina de R$4,29, quando o motorista consegue encontrar um bom preço! Além dos ônibus e até BRTs construídos e destruídos, tanto o automóvel quanto seu ponto de parada com janelas quebradas e sem tetos procurando aquilo que não tem.
Brasil com s, samba enredo feito dos ossos já antigos, carcumidos e até já meio amarronzados do próprio bossa nova. O samba morreu, se aposentou, comprou uma passagem e se mandou, já não é mais bem vindo em qualquer bloquinho, samba enredo é só na TV.
E esse sou eu, o "verdadeiro" brasileiro, cujo o ano só começa em fevereiro.

Ars ludusOnde histórias criam vida. Descubra agora