Eu gosto estranhamente do pôr do sol, eu amo esta majestosa despedida do sol de até outro dia. Que descendo ao horizonte parece acenar com delicadeza para mim, fazendo tudo em volta de si enrubecer.
Eu gosto do pôr do sol, mas não do cenário protagonizado pelo astro central, e sim da luz alaranjada que cai no meu rosto, me aquecendo levemente. Esse raio de sol que pinta toda minha casa em outro quadro e a dá outras caras, repaginando-a de cabo a rabo. Essa escasa luz que me faz sentir a famigerada saudade. Sentando na cadeira da cozinha me lembro de comer um bolinho de chuva ou quiçá um bolo da minha vó, na simples infantil inocência. Numa tarde como esta que estive na praia mas o sol nunca decide se pôr do lado da água, naquele dia era pior, estava atrás das montanhas; mas apesar disso a paleta de cores não mudaria.
E se for possível, também sentiria falta do que nunca me ocorreu, e de todas aquelas vidas que não vivi. Crio tantos cenários na minha cabeça ao redor dessa iluminação alaranjada que já perdi a conta, a minha imaginação nunca foi abaixo da média. As vezes também me transformo num idoso e me culpo pelas atitudes que não tomei, e pelas experiências que tropeçando, deixei de ter.
Essa luz laranja que ao som de uma música de chopin, me faz imaginar suas mãos possivelmente raquíticas teclando seu piano delicada e freneticamente. Um dó, um sol, um dó uma oitava acima, um mi, um lá e outro sol. Um sol igual ao que brilha acima de mim.
E depois de tudo isso, escrevo este texto numa tarde livre. Para no futuro me lembrar mais uma vez das tardes alaranjadas e ocupadas que tive.
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Ars ludus
Non-Fictionuma compilação de histórias de angústia, filosofia e amores. Exposição do absurdo focado em sentimentos e perguntas levadas as vezes até ao ridículo.