Parte 1

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Sua pele clara e seus cabelos castanhos e longos; seu toque macio e seus lábios carnudos; seu estilo discreto dos anos 2000 e seus gostos peculiares que me acostumei no decorrer do tempo. E seus olhos verdes, tudo que me faz abaixar a guarda. Oh, sim! Ela me leva às nuvens; ela sabe como me prender... Claro, menos na primeira e terceira semana de todo mês, quando troco de lugar com meu irmão gêmeo.

Quando éramos mais novos, sempre fazíamos coisas normais de jovens inconsequentes. Como, por exemplo, um rodízio de namoradas. A famosa troca. Ah, vai dizer que não sabe o que é isso? A parte boa de sermos idênticos, é que elas nunca desconfiavam. Pelo menos, é o que achávamos. Idênticos em aparências, mas não tão idênticos em personalidades; com o tempo aprendi a imitá-lo muito bem. Ok, menos naquele dia que esqueci de passar o perfume fedido dele. Sim, era o meu naquele dia, quase nossa brincadeirinha ia por água a baixo.

Meu irmão se chama Carlos; e eu, Rui. Somos medianos; nem alto, nem baixo: medianos. Na medida certa do prazer, como sempre digo. Cabelos ondulados e castanhos. Nossa pele é parda; e nossos olhos: escuros. Mas saiba, para ela, eu sou ele. Não se esqueça disso!

Tic tac, tic tac, o tempo passa voando. Me olho no espelho, visto a melhor roupa, passo o perfume e dou uma bela piscada para minha adorável namorada que está logo ali.

— Ruth, meu amor? — digo em voz alta.

Droga! Já faz um tempo, mas ainda não me acostumei. Seu nome é Marina.

Eu fico estático, respiro fundo. Olho lentamente para o lado. Ali está ela, sem esboçar tanta simpatia. Na verdade, já faz um tempo que ela anda meio apática. Não sei o porquê, até paramos de transar. Mas tudo bem, eu não me importo. Será que ela percebeu alguma coisa? Acho que não.

Termino de me arrumar, pego minha maleta com algumas roupas e digo a mesma desculpa esfarrapada de sempre. "Um cliente me espera para um café da tarde. Um novo caso, não irei demorar". É o que Marina pensa, sempre pensou.

— Tchau, amor! Tô indo. — beijo os lábios de Marina.

— Tchau, meu bem. Se cuida! — Sem tanta energia, Marina retribui meu afeto, com um selinho mórbido e preguiçoso.

— Tchau, meu bem. Meu chuchu, minha deusa, minha estrela da manhã! — Sigo meu papel, do qual treinei muito. O amante adorável. Ou, quase isso.

Após me despedir da Marina, na sala, saio e já me encontro, em seguida, no corredor do arranha-céu, rumo ao elevador. Pego meu celular, tento entrar em contato com Carlos, novamente.

— Carlos, ando preocupado com você, irmão. Se estiver bem, mande um sinal. Já faz alguns dias que você não responde. Hoje, começa sua semana. Não esquece! Falei pra Marina que eu não iria demorar. Temos até o sol se pôr; caso contrário, ela irá desconfiar, provavelmente. Fico no aguardo da localização que irá ocorrer a troca dessa semana. — deixo uma mensagem de texto via WhatsApp. As ligações vão para caixa postal constantemente.

Já dentro do elevador, percebo meus pés inquietos. A ausência de comunicação de Carlos me deixa preocupado. Alguns segundos se passam, é chegado minha hora. As portas do elevador se abrem. Me deparo com um grande salão bastante chique em tons de dourado e creme. Há um belo lustre logo acima e uma recepção elegante bem ao lado. Sigo rumo à saída. Já sinto a luz do sol de domingo me abraçando através das enormes vidraças. Agora passando pela enorme entrada da recepção, sinto os ventos balançarem meus cabelos. Olá, liberdade? Prédios e mais prédios, carros e mais carros, uma bela selva de pedra. Com os pés sobre a calçada, finalmente começo minha jornada: viver minha nada mole vida.

Andando pela calçada, penso como café da Marina é tão ruim, o pior da cidade. Tomar um café dos deuses seria tudo agora. Necessito! Paro na esquina, olho para o lado e para o outro, dá para atravessar.

Já do outro lado, sigo animado até a cafeteria Norman Coffees. O melhor da cidade! Me sinto criança de volta. Chegando próximo, já sinto o cheiro divino. Entro, olho ao redor, aprecio cada detalhe daquela parede marrom escuro, aveludado, com quadros de artes. O paraíso! Em seguida, sento próximo à bancada. Peço meu café. Não demoro tanto para pensar novamente na falta de comunicação de Carlos. Pego meu celular... nenhum sinal de vida! A preocupação me come vivo. Meus pensamentos acabam voando alto. Tic tac, tic tac!

— Aqui, moço, seu café! — diz a atendente. Me desperto.

— Obrigado, linda. — solto uma piscada. Ela sorrir.

Não demoro mais nenhum minuto. Destino: escritório de Carlos. Alguém precisa descobrir onde essa criatura se enfiou.

Saio da cafeteria, agora me encontro na calçada. Espero o trânsito amenizar. Atravesso. Agora, do outro lado da rua, sigo para o leste. Segundo o endereço, fica alguns quarteirões daqui. Como Marina nunca o achou?

Se Você Não Me Ama Mais, Minta Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora