capítulo 3

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Dia seguinte

S

- Mãe?- entro no quarto, ouvindo ela tossir- eu vou na cidade vender queijo agora, se a senhora precisar a mana tá no jardim

- Sn?- ela me chama quando ia fechar a porta- venha aqui filha

- Hum?- me aproximo

- Você está brava comigo?- ela pergunta

- Não estou brava- me afasto novamente - Dona Joana já deve estar chegando, preciso ir.

Saí rápido sabendo que ela não ia conseguir falar nada.  Coloquei os queijos num caixote e a mochila nas costas. Fui até em frente a portaria e fiquei esperando a caminhote aparecer. Demorou mais do que costume, eram mais de 10h da manhã.

Quando a caminhonete parou ali perto, eu coloquei o caixote na parte de trás e entrei no banco do passageiro. Então reparei quem estava dirigindo.

- Jenna? O que tá fazendo aqui?- perguntei

- Eu resolvi dar um dia de folga prós meus avós - ela sorri-  Então hoje eu serei a sua companhia, caipira

Bufei e senti o carro se mover antes que eu pudesse sair.

- Coloque o cinto- diz ela se concentrando na estrada

- Era só o que me faltava - digo cruzando os braços  olhando pra frente

- Coloque o cinto - fala novamente

- Jenna você não manda em mim, vou colocar quando eu quiser.

O carro parou.

Olhei pra garota e ela já estava muito perto de mim, puxando o meu cinto. Pela a primeira vez eu prestei atenção no seu rosto. Os olhos dela se encontram com os meus, me fazendo sentir um leve choque interno. Deu pra sentir sua respiração quando seu rosto chega mais perto. Ouvi um click do cinto e a mesma sorri se afastando.

- Tente não babar, Sn- ela ironiza e eu bufo novamente revirando os olhos


[...]

Jenna estava tentando me ajuda a vender os queijos a um tempo, ou atrapalhar. Ela gritava e fazia manobras estranhas com eles. O tempo todo eu precisava dar tapas em seu ombro ou brigar com ela. Parecia estar fazendo isso de propósito.

Mais suas palhaçadas chamavam atenção, e conseguimos vender mais da metade em 1h e 30 minutos.
Já era 12h e estávamos na cantina da Feira, esperando nossos almoços.

- A comida daqui é confiável?- pergunta Jenna

- Totalmente confiável, Jenn - digo roendo as unhas

- Jenn?- ela questiona

- seu nome, anta

- Jenna, você  erra de primeira- ela cruza os braços

- Jenna

- É bom estar aqui, ninguém sabe da minha existência - ela olha em volta

Nossos pratos finalmente chegam.

- Como assim?

- É bom estar aqui, só isso- ela encara a carne no seu prato- isso é carne bovina?

- Sim, tripa e bucho do boi

- Tripa, bucho- ela parecia com nojo ou que nunca tinha visto aquilo antes. Eu ri.

A garota olha pra mim, seu nojo sumindo em segundos e um sorriso aparecendo em seu rosto. Eu paro de rir na mesma hora.

- Coma, não pode ficar com  fome, vamos sair daqui apenas no fim do dia

- Não se vendermos tudo antes - ela olha para o meu prato- Porque no seu prato tem frango e no meu esses negócios?

- Eu escolhi pra você, especial de boas vindas

- Eu não irei comer- ela afasta o prato e me encara- eu nunca comi isso, vou acabar vomitando

- Tudo bem- eu troco o meu prato pelo o dela- come.

Evito o sorriso dela e de olha-la o resto do almoço.

Depois de almoçar, voltamos para vender o restante dos queijos. O sol estava pelando a nossa pele de tão quente.

Por sorte vendemos todos antes das 17h da tarde. Eu pedi para Jenna me esperar no carro enquanto eu ia no mercado. Quando eu percebi a mesma já estava atrás de mim.

- Você me persegue?- pergunto olhando o preço dos macarrões

- Queria ter certeza que você não iria sumir daqui

- Bestalhada

Procuro o macarrão que mamãe gosta para sopa, ela ficará melhor com algo quentinho. Peguei o resto das coisas que precisava e voltei com a guarda costas para o carro.
Em silêncio ela dá partida.
Não demora até sairmos da cidade e meus olhos se deliciarem com o pôr sol laranjado.
Abro a janela e observo a grande bola laranja descer.

- O que está olhando?- pergunta Jenna

- o Pôr do sol

Ela para o carro e eu a encaro.

- Hum?

- Eu também quero ver, Sn

Ela desce e eu acompanho. Nos encostamos lado a lado no carro para olhar o pôr do sol.
Por muitos segundos eu esqueci a minha casa, a minha mãe, o meu padrasto e minhas obrigações.
Olho pra Jenna ao meu lado. Ela estava concentrada no céu. Seus cabelos curtos estavam presos e a mesma contia um sorriso harmônico no rosto.
Ela percebe e eu tiro a vista rapidamente, olhando para o céu.
Eu agradeci quando ela não falou nada, ficando em silêncio. Sem provocações.

Entramos novamente no carro e voltamos para casa.

Desci do carro ainda sem falar nada, peguei o caixote e abri a portaria, me virando para o carro onde Jenna me olhava. Ela abre um sorriso, esperando o mesmo de mim.

- Obrigada Jenna - digo e fecho o portão, correndo para dentro

flower - Jenna e snOnde histórias criam vida. Descubra agora