Capítulo 8

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J

Eu escutei o galo e o portão. Levantei e tranquei a porta. Deitei na cama novamente e me permiti dormir mais.
Não sei quanto tempo, mas acordei com umas dores na costa. Talvez de tanto ficar na cama.

Levantei e arrumei o cabelo. Quando saí do quarto, vovó veio em minha direção e checou minha temperatura.

- sem febre, está sentindo alguma coisa?

- Dor nas costas- falo rouca

- Hum, vou fazer um chá- ela pega uma panela e procura algo no armário

- Acordou tarde hoje em, tava em um sonho tão bom que não queria acordar?- Penelope pergunta

Não sabia que horas eram, mas me assusto quando vejo que eram quase uma da tarde.

- Nossa, eu dormi muito- digo

- Já já o chá fica pronto, vai se arrumar querida

Fui para o banheiro e quando voltei Penelope já não estava mais ali.

- Tá ansiosa para amanhã?- vovó pergunta colocando o chá numa xícara

- Hum? O que tem amanhã?

- Vão acampar, você, Penelope e Sn

- Ah

- Você trouxe repelente? Melhor usar dessa vez- ela me entrega a xícara

- Ok- eu tomo um gole, sentindo um gosto muito ruim. Faço uma careta e escuto a mais velha rir - que troço horrendo

- Vai ficar boa em 5 minutos.

Errada ela não estava.

Eu fiquei boa logo.

Então decidi aproveitar o resto de tarde que ainda tinha indo no açude ao lado.

Me sentia um pouco desanimada, mas não indentificava o porquê.
Fui andando em passos vagarosos, ouvindo os barulhos relaxantes da natureza.
Voltarei aqui mais vezes.
Quando cheguei no rio, Sn estava sentada na beira do rio, com os pés dentro. Ela deveria estar pensativa, pois não percebeu quando cheguei.
Dei alguns passos em sua direção me aproximando.

- misericórdia, que susto- ela diz se virando e colocando a mão no peito.

Seu semblante mudou para sério.
Sentei ao seu lado.

- eu já vou sair-- ela diz olhando pros seus pés movimentando a mão

- Por que ?- pergunto. A intenção era ficar sozinha, mas a companhia de Sn era melhor.- tá me evitando?

- tu que tá fazeno isso

- hum?

- Penelope falou que tu num quis entregar a roupa pra eu

- Ela deve ter entendido errado - pensei em explicar melhor, mas não queria colocar Sn contra Penelope - Tive que ligar pra minha mãe lá da cidade, por isso não pude ir

O ciúmes de Penelope está começando a me incomodar. As vezes parece que ela gosta de Sn.
Não que isso me incomode também. Eu acho.

- Você acredita em mim?- pergunto

Ela olha rapidamente para mim e sorri, logo desviando a vista. Entendo como "sim".

Ficamos em silêncio por um tempo, aproveitando a vista e os sons. Era agradável ficar em silêncio com Sn. Eu começava a me sentir melhor.
Senti um olhar me queimando e me virei para Sn. A mesma parecia fotografar cada célula do meu rosto.   Até perceber que eu também a olhava.

- hum... Tu parecia triste ontem. Brigou com seu "pretendente"?

- Pretendente?- pergunto. Logo lembrando da noite passada - ah, Não tem pretendente,  é brincadeira da Penelope

- Mesmo?

Sorri com seu interesse.

- Você está bem curiosa sobre isso, está interessada em mim?- provoco

- OQUE! Não, não, não, não - ela repete nervosa- besta

- Ficou nervosa?- continuei rindo

- Não. É que lembrei da minha mãe. Ela disse que é errado mulher com mulher - ela mexe os pés na água

- hum, entendi - digo, me aproximando um pouco mais. Nossas mãos estavam centímetros de distância - Mas não é errado Sn, lá onde eu moro tem vários casais assim, pra todo lado.

- Nossa, deve ser diferente- ela me olha-Tu já beijou uma menina?

- Já- digo e ela arregala os olhos

- Meu deus! E como foi?

- Foi normal- tento segurar a risada- É algo normal hoje em dia Sn. Você só não tá acostumada e foi criada com ensinamentos diferentes

- Hum, deve ser estranho- ela volta a olhar o rio pensativa

- Quer que eu te mostre?- pergunto e ela me olha em crédula, dado um tapa nas minhas costas - Aí, já entendi

Ficamos em silêncio apenas por alguns segundos.

- espero que tu fique bem logo- ela murmura

- Já me sinto melhor, obrigada Sn- ela me olha confusa

- hum?

- Estar com você me deixou melhor - digo e vejo as bochechas dela ficarem vermelhas. Ela desvia o olhar prós seus pés e os movimenta em baixo da água.

Olhei para nossas mãos próximas, tentando criar coragem para junta-las. Então o fiz.
Coloquei minha mão sobre a de Sn, vendo ela olhar rápido e encarar por alguns segundos.
Achei que ela iria se afastar, o que não aconteceu.
Ficamos em um loop de silêncio.
As vezes eu olhava para nossas mãos, sentindo o calor dela.

Não sei quanto tempo ficamos assim.

flower - Jenna e snOnde histórias criam vida. Descubra agora