Na Solitária

318 37 6
                                    

Havia feito um dia e meio que a Doutora Lowove tinha sido levada para a solitária. Ela estava agoniada, pois pensava que não sairia tão cedo dali ao confrontar o Coronel.

Sentada encolhida em um canto da parede daquela pequena cela, S/n pensava e repensava sobre tudo que a colocou nesta situação. Apenas um feixe de luz do dia entrava pela pequena janela alta que havia ali, de resto tudo era muito silencioso.

Até que em poucos minutos, barulho de passos se aproximando da cela se fez presente. Pela pouca claridade, S/n pôde ver pelo vão do portão de ferro a sombra de quem quer que estivesse do lado de fora. Em poucos segundos o cadeado do portão foi destrancado e este fôra aberto com uma certa brutalidade, por ter as dobradiças enferrujadas. Assim que a claridade de fora invadiu a pequena cela, S/n teve dificuldade de manter os olhos abertos. Lutando contra a claridade, ela com muito esforço conseguiu ver quem era aquele que havia chegado. Ao reconhecer o Coronel, sua esperança de sair dali dissipou no ar e Lowove respirou entediada.

Joll se agachou dobrando os joelhos em frente a moça e a analisou minimamente. Ela por sua vez, recusava encara-lo.

-A senhorita continua relutante. Isso é curioso.

Ela nada disse e ele se atreveu a levar a mão até o queixo da mulher e o virar para que ela o olhasse nos olhos.

-Por que está do lado deles? Você não precisava passar por esta situação precária. _ele olhou em volta da cela e depois para a moça.

-Enquanto existir pessoas que os defendem, jamais desistirei desta posição.

-Não é uma escolha muito inteligente da sua parte, Doutora. Essas pessoas que você defende não estão aqui agora para lhe defender. Acha isso justo?

S/n pensou sobre isso e Joll achou que tinha conseguido afeta-la com o que disse. Então continuou:

-Tenho uma proposta a fazer: _ela o olhou novamente após ele soltar o queixo dela_-Junte-se ao pelotão. Cuide do bem-estar de meus soldados e você estará contribuindo para uma sociedade mais justa.

-O senhor fala de justiça, mais tortura pessoas indefesas e abusa de sua autoridade para prejudicar inocentes. O senhor é cruel! Eu me recuso a compactuar com sua conduta imoral em interrogar estas pessoas.

Joll olhou para o chão. Desta vez ele quem fôra atingindo por ela. o Coronel só não sabia o porque essas palavras lhe fizeram sentir tão mal. Porém tamanho era o seu orgulho e ele se recusou a demonstrar fragilidade diante da mulher. Joll respirou fundo, se reergueu e saiu da cela.

-Continuarei trancada aqui até você deixar seu orgulho de lado e reconhecer seus erros? Talvez isso demore a vida toda, então por que não me mata de uma vez?

Joll parou de costas para ela. Ele não tinha palavras para responde-la, então apenas saiu dali deixando a porta da solitária aberta, atitude essa que nem mesmo Lowove esperava.

Aproveitando a oportunidade, S/n se colocou de pé e deixou a prisão, tapando os olhos com uma das mãos sobre as sobrancelhas por conta da claridade do sol de meio-dia.

Enquanto saía, ela viu ao longe que o Coronel estava prestes a entrar na carruagem que o trouxera aquele dia. O homem falou algo ao Magistrado e abriu a porta da cabine, mas antes de entrar ele pôde ver entre os óculos escuros, Lowove olhando em sua direção, porém ele a ignorou, entrou na carruagem e em poucos segundos deixou o vilarejo.

S/n andou até onde o Magistrado estava parado e ficou ao lado dele.

-Para onde ele está indo? _ela perguntou vendo a carruagem se afastar. O Magistrado olhou para ela e de volta para a carruagem.

-Fico feliz que ele tenha lhe soltado, Doutora. Parece que você foi a única que o convenceu de algo desde que ele chegara a este vilarejo._respirou fundo_- O Coronel está voltando a Londres, mas acredito que não será por muito tempo. Ainda o veremos novamente e temo com o que poderá acontecer quando este dia chegar. _dito isto, o Magistrado fez uma reverência e se afastou deixando S/n pensativa para trás enquanto as portas da entrada do vilarejo eram trancadas.

Pouco tempo depois, S/n chegou em casa sendo recebida com um abraço apertado da pequena Sarah.

-Senti sua falta. _disse a menina_-Quando me disseram que você estava na solitária, fiquei com medo de fazerem mau a você, assim como fizeram com os presos. Eu soube que aquele Coronel torturou-os sem nenhum pudor.

-Quem lhe contou isso?_S/n sentou em uma poltrona da sala enquanto Sarah sentava a sua frente.

-Eu ouvi Dona Mai conversando com o Magistrado quando fui ajuda-lo a preparar a compressa.

S/n tocou a testa sentindo sua cabeça latejar.

-Não é educado ouvir conversas de adultos, Sarah. _A menina abaixou a cabeça pela repreensão

-Eu sei. Me desculpa. Eu só estava preocupada com você. Queria saber quais eram as intenções daquele Coronel, afinal você é inocente, não tinha porque te prenderem. Isso foi injusto.

-Injustiças é o que este Coronel está acostumado a cometer. _S/n olhou para algum ponto a sua frente enquanto ainda esfregava a testa _-Ele não é um bom homem.

-Depois do que aconteceu, acredito que nenhum guarda ou autoridade seja.

S/n concordou com a criança.

-Quer que eu traga algo pra você?_Perguntou Sarah vendo que sua tutora estava se sentindo mal.

-Não é necessário. Obrigado. Você quer me contar como foi seu dia?

Sarah sorriu, ela sempre seria grata pela atenção que recebia de S/n, e a doutora fazia questão de zelar pelo seu bem-estar sem pedir nada em troca.

...






Quebrantado Coração Onde histórias criam vida. Descubra agora