A Consciência de Joll

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Após as refeições daquela manhã, S/n estava arrumando algo na cozinha quando ouviu que Sarah havia chegado com o Magistrado.  A doutora deixou a cozinha enxugando as mãos no avental e sorriu assim que os viu em sua sala.

-Senhor Magistrado! Que bom que veio.

Eles apertaram as mãos.

-Era pra ter vindo assim que recebi seu bilhete, mas surgiram alguns imprevistos no caminho. _falou enquanto tirava o cape de sua cabeça

-Está tudo bem. Afinal o senhor é um homem muito ocupado. _eles sorriram.

-Ele está aqui?!..._perguntou o Magistrado enquanto brincava com o cape militar que tinha em mãos.

-Sim. Está dormindo agora por conta da dor. Quando o encontramos, ele não estava bem. Desmaiou a caminho de casa e só acordou agora pela manhã. Ele tem um corte profundo no supercílio esquerdo e outro próximo a costela do mesmo lado, foi necessário dar-lhes pontos. O ombro direito está deslocado e preciso volta-lo para o lugar, mas o Coronel está fraco demais para qualquer locomoção, então achei melhor esperar.

-Entendo. Posso vê-lo? Serei rápido.

-Por favor, siga-me.

S/n levou o Magistrado até o quarto onde se encontrava o Coronel. Sarah os seguiu. Assim que entraram, Lowove ouviu o Magistrado soltar o ar pelo nariz, logo depois ele deixou o quarto e voltou para a sala sendo acompanhado por elas.

-Ele veio até mim à alguns dias antes disso acontecer. Um soldado queria cavalos descansados para levar o Coronel de volta à Londres. Quando fui ver o que estava acontecendo, presenciei um homem infeliz dentro da carruagem. O Coronel parecia ter saído de uma guerra naquele dia e por um momento pensei que ele tivesse entendido as consequências de seus atos insanos.

S/n sentou na poltrona e Sarah sentou no braço desta ao lado da doutora enquanto o Magistrado caminhava pela sala sendo seguido pelos olhares das moças.

-Acho que alguém tramou contra ele._continuou_- E é compreensível depois de tudo que este homem causou. _Se virou para encara-las_-Vocês fizeram bem em resgata-lo, mas aconselho a não contar a mais ninguém sobre seu hóspede, pois as pessoas podem não aceitar a informação.

-Eu sei o risco que corro com este homem em minha casa, mas não posso desampara-lo agora.

-Entendo. Eu poderia oferecer um lugar em minha casa para ele, mais seria muito arriscado mante-lo escondido por lá. Se Mai o descobre, ela o entregará a população sem pensar duas vezes.

-Eu sei. _Lowove levantou _-Por este motivo ele tem que ficar aqui. É o único lugar mais seguro no momento, pelo menos até a cicatrização das feridas.

-Estou de acordo. E  ficarei a disposição para o que você precisar, doutora. Conte comigo._eles voltaram a apertar as mãos

-Obrigado senhor. _ele acenou rapidamente e alertou.

-Por favor, tome cuidado.

Lowove acenou com a cabeça e levou o Magistrado até a saída onde ele se despediu antes de deixar a casa.

-S/n?_Sarah a chamou e a doutora olhou para ela enquanto trancava a porta _- Você acha que há alguma chance do Coronel se redimir?

-As chances são mínimas, mas a esperança é a última que morre.

Sarah sorriu com a resposta

-Minha mãe era quem dizia isso.

-Sua mãe era uma mulher sábia, querida. _S/n passou a mão no rosto da menor, deu um beijo no topo da cabeça dela e voltou a cozinha deixando a criança na sala.

Na noite daquele dia, a doutora preparou uma sopa de legumes e levou ao Coronel. Enquanto Sarah jantava na cozinha, S/n ajudaria o homem a tomar a sopa. Ela arrumou os travesseiros atrás da costa dele e o ajeitou para ficar sentado, logo sentou-se ao lado esquerdo da cama e começou a esfriar a sopa na colher antes de leva-la a boca do Coronel.

Enquanto ele tomava da sopa, uma curiosidade o pegou e Joll precisou perguntar.

-Por que está fazendo isso?

Ele esperava a resposta dela enquanto S/n voltava a preencher o talher com a sopa. Vendo que ela não queria responde-lo, o homem colocou sua mão esquerda acima da tigela impedindo que a mulher continuasse com o que fazia e voltou a perguntar:

-Por que está me ajudando?

-Porque é o meu trabalho. _ Ela respondeu

Joll assentiu e encostou a cabeça na cabeceira da cama.

-Podia ser qualquer um, mas escolheu logo a mim? Alguém que a tratou mau e puniu todas aquelas pessoas. Você não tinha motivos para me estender a mão, doutora. No seu lugar, eu não o faria.

-Eu não iria, mais alguém teve compaixão e me convenceu ajuda-lo.

Joll afastou a mão e olhou para algum ponto do quarto. Ele não sabia como reagir diante aquela afirmação, pois nunca tinha se sentindo assim em toda a sua vida.

Como o Magistrado havia dito, aquele homem parecia infeliz e S/n percebeu isso.

Vendo que ele tinha perdido o apetite, S/n se levantou, recolheu a bandeja e deixou o quarto. Assim que ela saiu, Joll respirou fundo e olhou para o céu noturno através da janela sentindo-se   mal pelo que ouviu, pois sabia que não merecia nenhuma compaixão.

Três dias depois...

Os dias passaram e Joll recuperou suas forças. S/n apenas se dirigia a palavra à ele quando necessário. Vendo que o Coronel já conseguia se sentar sozinho na cama, a doutora achou que aquela era uma boa hora para colocar o ombro dele no lugar, mas para isso, ela precisaria da ajuda da pequena Sarah.

Assim que a menina adentrou o quarto, a atenção do homem foi para ela, pois até então pensava que estivesse sozinho com a doutora naquela casa.

-Sarah, preciso que você o distraía para que eu possa colocar o ombro no lugar certo.

-Entendi. _A pequena pareceu ignorar o olhar do homem por alguns instantes enquanto dobrava um pano. _-Aconselho a morder isso, senhor, porque sentirá uma dor e tanto.

Joll abriu a boca para questionar, mas Sarah foi mais rápida aproveitando o momento e enfiou o pano na boca dele fazendo-o calar. Na oportunidade, S/n lançou um sorrisinho de canto de boca sem que ele percebesse e rapidamente realocou o ombro para seu devido lugar. Joll pulou com o susto e uma lágrima escorreu de seu olho por causa da dor.

-Pronto! Foi molezinha._disse Sarah tirando o pano da boca do homem que a olhou com seriedade.

-Obrigado Sarah. Poderia pegar um copo d'água para ele, por favor?

A menina assentiu e deixou o quarto

-Sua filha?_Joll perguntou enquanto S/n amarrava o lençol novamente no braço dele.

-Não... _Joll assentiu_-Os pais dela foram mortos por homens como você.

Afetado pela notícia, ele desviou o olhar dela. Em seguida, S/n deixou o quarto e Joll mais uma vez se sentiu incomodado com o passado que certamente o assombraria pelo resto de sua miserável vida.

...













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