Quebrantado Coração

254 26 12
                                    


  A doutora limpou a ferida da costela e a da testa de Joll, depois organizou seu material de trabalho e sentou-se na beirada da cama e começou a contar sobre a doença de Sarah enquanto Joll escutava em silêncio e olhando para um ponto específico no chão. Ele se compadeceu com a situação daquela criança e não conseguia aceitar que alguém tão jovem estava destinada a partir tão cedo.

S/n terminou de contar e respirou fundo tentando conter o choro. Joll desviou o olhar do chão e olhou para a doutora.  

-Ela sabe?_ Perguntou com pesar e limpando algumas lágrimas dos olhos, S/n negou sacudindo a cabeça.

-Não tive coragem pra contar. Eu descobri  ano passado quando os sintomas começaram. As ervas medicinais ajudam a retardar os sintomas, mas o fim será inevitável e eu não serei capaz de salva-la. Sinto-me impotente.

  Ela abaixou a cabeça e voltou a chorar, comovido com a emoção dela, Joll se levantou, aproximou-se da cama e  sentou ao lado de S/n. Sem jeito, ele levou sua mão esquerda para a costa dela e esfregou em círculos a confortando. Sentindo o carinho lhe acalmar, S/n encostou a cabeça no ombro de  Joll enquanto ele a mantinha em um abraço de lado.

Ele ficou assim com ela por alguns minutos até que Lowove se afastou e limpou as lágrimas antes de agradece-lo.

-Obrigado. _disse ela se levantando, mas no mesmo instante, Joll a segurou pelo pulso e se colocou de pé trazendo-a para seu peito enquanto a abraçava ternamente.

-Eu sinto muito. _disse ele acima da cabeça dela_-Mas saíba que você está fazendo o seu melhor por ela, então não se culpe.

Grata, S/n fechou os olhos e se permitiu relaxar dentro daquele abraço.

Quando ela se acalmou ainda mais, eles se separaram. S/n o agradeceu com um sorriso e se dispôs a preparar um chá para eles. Joll a acompanhou até a cozinha e a observou enquanto ela colocava a água na chaleira e no fogo.

Minutos depois eles tomavam a bebida em completo silêncio apenas aproveitando a companhia um do outro. 

Na manhã seguinte, Sarah acordou revigorada. Ela também estava muito tagarela, praticamente obrigando Joll e S/n a ouvir sobre o sonho que tivera na noite passada. Eles se reuniram na cozinha para o café da manhã e mesmo achando o momento divertido, eles prestavam muita atenção em tudo que Sarah falava, ela parecia achar o máximo te-los ali para ouvir seus contos  de aventura.

Cada frase dita por Sarah, era um olhar divertido lançando entre Joll e S/n e de vezes um sorrisinho de canto de boca vindo da parte dele, pois o homem passara a admirar cada reação da doutora, cada sorriso, cada gesto, cada detalhe, e não podia negar o quanto a mulher lhe chamava atenção.  

Joll havia pensado sobre isso durante a noite, e chegou a conclusão mais óbvia: Ele começara a se apaixonar por ela. 

-Foi sem dúvidas o melhor sonho que já tive. Vocês dois estavam lá. 

Essa informação deixou-os surpresos.

-Estávamos lá? No seu sonho? _A doutora perguntou curiosa enquanto cortava mais um pedaço da Broa feita por Mai.

-Sim! Vocês dois estavam lá. E tinham um casal de gêmeos.

Joll quase se engasgou com a bebida. Ele olhou para S/n por cima da xícara e viu que ela parecia perdida em pensamentos.

-Eu achei fofo. _Sarah completou _-Eles se pareciam muito com vocês. Bem que podia ser verdade né? tipo, vocês poderiam namorar.

-O quê?_Joll e S/n perguntaram ao mesmo tempo olhando deles para a menina que estava sorridente

-Oras, S/n é livre e desimpedida e o senhor também, quer dizer, _ela olhou para o homem_-O senhor é solteiro, não é?

-Sarah?

Joll olhou para S/n e balançou a cabeça como se dissesse que estava  bem com a pergunta e não precisava chamar atenção da criança.

-Bom, _Joll começou a responder_-Na verdade eu tive alguns amores fracassados durante a minha vida. Hoje não tenho ninguém. 

-Viu só? O senhor e a S/n formariam  um casal perfeito.

-Tudo bem, já chega mocinha. Vá escovar os dentes e se arrumar, pois Mai já deve está lhe esperando.

S/n falou e Sarah concordou, ela deixou a mesa e em seguida saiu da cozinha.

-Crianças!_Disse a doutora sem jeito e Joll concordou com a cabeça enquanto seu pensamento recriava cada detalhe da história contada por Sarah.

Eles terminaram o café em silêncio e Sarah veio se despedir pouco tempo depois, deixando-os sozinhos em casa.

Joll ajudou S/n a retirar a mesa, mas havia uma pergunta que ele queria muito fazer a ela, só não sabia como a mulher reagiria. Porém, ele estava curioso e não pôde evitar perguntar.

-O que houve com o seu noivado?_Ouvindo a pergunta, S/n parou o que fazia e se virou encontrando o Coronel encostado na mesa enquanto olhava em sua direção.  _-Tudo bem se não quiser responder. Sarah me disse que é um assunto delicado pra você e eu nem deveria está te perguntando sobre isso. Desculpa. _ele desviou o olhar dela para o chão. S/n baixou os ombros, suspirou e se encostou no fogão de barro.

-Uma semana antes do meu casamento, descobri que Ronald estava me usando para conseguir cidadania inglesa, já que ele era Alemão. Quando contei ao meu pai, ele ficou extremamente agressivo e em um confronto com Ronald, meu pai o matou na minha frente. _S/n abaixou a cabeça ao lembrar do ocorrido_-Meu pai fugiu quando fui obrigada a depor contra ele, então eu nunca mais o vi. Minha mãe se casou novamente e mudou para os Países Baixos e eu me mudei para cá.

-Por que não foi com sua mãe? _Joll perguntou e S/n o olhou

-Não queria ser um fardo para ela. Além do mais eu precisava seguir minha vida pois já era maior de idade na época, e tinha concluído a faculdade _limpou um lágrima que escorria de seu olho direito_- Eu queria ajudar o máximo de pessoas que não tivessem condições a um tratamento digno. Foi durante minhas buscas que encontrei este vilarejo.

-E valeu a pena? _Joll perguntou

-Sim. Valeu muito a pena. Cuidei dessas pessoas, construí amizades, e ajudei um certo Coronel a quebrantar o coração. 

Joll sorriu ladino

-E este Coronel será eternamente grato por isso, senhorita.

Desta vez foi S/n que o lançou o mais lindo sorriso que fez o coração quebrantado bater em ritmos acelerados.

...







Quebrantado Coração Onde histórias criam vida. Descubra agora