Imaginei-me pela milésima vez, provavelmente, perdendo-me dentre aquele físico magnífico que Steve possuía. Os músculos de seu abdômen estavam contraídos pelo esforço que fazia montando o pequeno criado-mudo que me dera de presente de Natal. Não sei por que, realmente, ele havia me presenteado, visto que nosso relacionamento nunca passou de apenas provocações e algumas (raras) palavras amigáveis.
Às vezes Steve era frio comigo, como uma pedra. Tratava-me de modo indiferente, como se fôssemos dois desconhecidos dividindo uma casa no meio do nada. Mas em outras era carinhoso e atencioso comigo, fazia brincadeiras, piadas, gostava de sempre me fazer sorrir. Capitão era um homem complicado, misterioso e volúvel. E certamente isso era o que instigava meu desejo por ele a ficar cada vez maior.
Cruzei os braços e as pernas ao mesmo tempo, enquanto remexia-me na cadeira. Os bíceps de Steve estavam brilhando pelo suor, uma cena inaceitavelmente sensual. De vez em quando seu rosto angelical virava-se de encontro à minha figura sentada, como se apenas checasse que eu ainda não havia fugido. Estava quase terminando seu serviço quando, num baque ensurdecedor, todo seu trabalho foi por água abaixo.
Contive um leve sorriso quando Steve olhou perplexo para as peças de madeira no chão, ainda não acreditando que trabalhara tanto para nada. E, com um suspiro cansado, ele murmurou:
— Que ótimo. — passou a juntar peça por peça do chão, levando-as de volta à mesa da cozinha. Steve levantou-se e ficou de frente para mim, enquanto eu ainda não havia erguido meu olhar até seu rosto. — Seria pedir demais que você me ajudasse com isso? — fitei-o com um sorriso divertido.
— Quer que eu te ajude a montar o presente que você me deu? — arqueei as sobrancelhas.
— Até parece que suas mãos vão cair. — resmungou, me fazendo rir.
— Não, não vão. Assim como a sua conta bancária infinita não iria acabar se você comprasse um móvel já montado. — revirei os olhos e Steve olhou-me estupefato.
— Está dizendo que não gostou do presente? — seu tom era irritado. Suspirei e meneei a cabeça.
— Só comentei que seria mais fácil se já estivesse montado. — dei de ombros. Steve sentou-se.
— Tem razão. Mas tinha que me entreter com algo, estou enlouquecendo com toda essa situação. — aproximei-me dele, deixando meus braços descansarem sobre a mesa. Ele fez o mesmo.
— Vai dar tudo certo. Fury disse que só temos que ficar aqui por mais alguns dias — tranquilizei-o. Capitão olhou-me irredutível.
— Parece que esse dias não passam nunca. Quero voltar a lutar e acabar logo com isso.
— Eu também, Steve. Mas por enquanto, vamos proteger quem amamos. — disse em tom ambíguo, mas ele não pareceu entender.
Mais tarde naquela noite, jantamos em silêncio. Não sabia cozinhar muito bem, mas Steve era quase um chefe, sua comida era deliciosa. Depois do jantar, subi para meu quarto. A luz do banheiro estava acesa e supus que fosse Rogers, então sentei-me na cama e comecei a jogar algo no celular. De repente, tudo ficou escuro. O silêncio permaneceu e a única luz provinha da tela do celular.
— Tony! — Steve gritou do banheiro.
— Estou aqui. — gritei de volta.
— Pode pegar minha toalha? Eu esqueci. — revirei os olhos.
— Quantos anos você tem mesmo? Oito? — provoquei, mas no fundo estava morrendo por dentro de pensar que Steve estava completamente nu a poucos metros de mim. Peguei a toalha e bati na porta, mas ninguém abriu. Ouvi o barulho do chuveiro e suspirei, gritando novamente: — Sua toalha está no trinco na porta!