detenção maldita

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                 Depois daquela conversa estranha na sala comunal da Grifinória, resolvi tomar um banho pra me preparar para o jantar. O castelo vazio assim tinha suas vantagens, eu podia cantar no chuveiro à vontade, mas nem a minha favorita dos Pedras Filosofais Rolantes estava ajudando. O Black dizendo o meu nome daquele jeito não saia da minha cabeça. Eu já não sabia se estava mais preocupada em ter que encarar minha primeira detenção, ou encarar o garoto.

               Assim que cheguei ao salão, percebi que ele ainda não estava lá. Sinto um certo alívio, mas ao mesmo tempo fiquei me perguntando se ele não iria fugir da detenção. Sentei no meu local de costume e comecei a me servir das costelas de javali com milho cozido, quando ouvi duas meninas da Lufa-Lufa cochicharem animadas na outra mesa. Sigo o olhar delas pra porta e lá estava ele, Sirius Black. 

               O garoto com roupas desgrenhadas passava a mão nos cabelos enquanto entrava no salão, fazendo as lufanas darem risadinhas. Eu julgava a situação de longe, quando o garoto olha em minha direção e me flagra. Eu desvio o olhar de sobressalto. Mas de canto de olho, percebo que ele se senta distante.

             Quando a sobremesa chega fico tão entretida que quase não vejo a hora passar. Olho à minha volta, alguns alunos já haviam deixado o salão, inclusive o Black. Desci pras masmorras do castelo faltando 15 minutos para o horário marcado com a McGonagall e fiquei esperando no corredor. 

            A professora aparece para abrir a sala e me olha por cima dos óculos, apenas assente com a cabeça pelo fato deu estar sozinha como se isso não a surpreendesse. Ela diz que tenho até o toque de recolher pra terminar, com ou sem o Sr. Black, ou terei que continuar amanhã. Antes de sumir nos corredores, ela avisa que voltaria pra verificar o meu progresso. 

            Ainda espero alguns minutos para entrar na esperança de que o garoto cumpriria sua palavra. Faltavam poucos segundos para o horário combinado passar, quando vejo Black virando a esquina do outro lado do corredor e enfiando rapidamente alguma coisa no bolso.

— E aí, companheira de detenção.

— E aí. – Respondo sem olhar para o garoto. Não conseguia disfarçar o desconforto de estar sozinha com ele de novo.

— Não me diga que não tá animada? – Ele se posiciona em frente à estante do lado oposto da sala e passa o dedo na superfície empoeirada. – Credo. Nem meu quarto tá assim. 

— Só vamos acabar logo com isso, tá?!

            O garoto deu de ombros e começou a limpar. Permanecemos um bom tempo trabalhando em silêncio, até que Sirius anda em direção a estante de ingredientes e pega um dos vidros.

— O que você tá fazendo? Devolve essa porcaria, Black!

— Relaxa, Laverne. Ninguém vai notar. — Ele tira a varinha do bolso.

— Eu não posso entrar em mais nenhuma confusão por sua causa! – Seguro seu braço antes que ele pudesse fazer um feitiço. Ele fita minha mão e eu imediatamente me afasto.

— Esqueceu que foi a Senhorita Perfeita aí que nos colocou nessa?

— Eu ia pegar detenção sozinha! Você foi atrás da McGonagall porque quis.

— E já que eu tô aqui, porque não me divertir? - Ele sorria debochado.

— Roubando um bicho morto? Sério?

— É pela adrenalina, Laverne. Não espero que você entenda. – Aponta a varinha para o frasco e murmura "Reduccio". O objeto fica do tamanho de um pomo de ouro e Sirius o guarda no bolso.

— Sabia que você era idiota, mas não estúpido.

— E você é uma estraga-prazeres. – De repente, ouvimos a porta abrindo.

              Quando a professora Minerva entra na sala, nós estamos limpando os frascos inocentemente. Pude ouvir o debochado do Black até cantarolando e fingir que realmente tinha sido interrompido no meio da tarefa. A McGonagall deu uma olhada em volta desconfiada, mas parecia satisfeita quando foi embora. Finalmente pude respirar de novo.

— Você devia ser ator. - rompi o silêncio.

— Eu sei. Esse rostinho ficaria lindo em telas grandes. — Ele bota a mão no queixo e eu reviro os olhos. — Agora pare de me bajular! Eu tenho que acabar com o trabalho logo.

— Ah, deixa eu adivinhar! Vai causar outros problemas mais tarde? – Ironizo.

— Você é muito intrometida, Laverne.

— Só não entendo qual é a graça em arrumar tanta encrenca...

— Você pode vir comigo e descobrir, se está tão curiosa. – Ele se aproxima e me encara apoiando o braço na estante.

— Na verdade, eu não tô nem aí. - Viro pro outro lado, dando de ombros - Só quero voltar pro meu quarto e ler um bom livro.

— Nerd... – Sirius debochava e eu protestava "Não sou nerd!" – Prove. Depois da detenção.

— Eu não tenho que provar nada pra você! E além do mais, a McGonagall tá me vigiando. Qualquer deslize, ela abre a boca pros meus pais.

— Não vamos ser pegos. Você não confia em mim? – Eu olho pra ele com a sobrancelha levantada. – Tá. Essa pergunta foi estúpida. Mas eu garanto que não vão nos pegar.

— Você não pode garantir isso. Tem bola de cristal por acaso?

— Tenho anos de experiência e um método infalível - Ele falava como se realmente sentisse orgulho disso - É um segredo. Mas eu só te mostro se você for.

— Não sei, não... Isso parece muito arriscado.

— Esquece, Laverne. Você é nerd demais pra isso – Ele vira as costas e dá de ombros.

— Eu só... precisaria de uma garantia melhor que isso não vai sobrar pra mim.

— Se der merda, você pode contar o meu segredo pro diretor. - Seu tom de voz era confiante e tranquilo - Eu digo pra todos que você não teve nada a ver com isso, e serei expulso sozinho. Será que isso é garantia suficiente pra você, Laverne?

— Pra me deixar muito curiosa, com certeza. Como pode arriscar tudo isso?

— Porque não vamos ser pegos! - Admito que a confiança dele era muito convincente. - Mas, se não der merda, você tem que prometer não contar o segredo pra ninguém. Promete?

— Eu não sou dedo duro, Black.

— Você tem que prometer. - Ele estende a mão.

— Prometo! - Digo antes de apertar a mão quente do garoto. Seus olhos acinzentados me encaravam hesitantes e eu o fito de volta sem piscar.

— Só tem mais uma condição... - Eu o encaro impaciente - Sem perguntas.

Desventuras | Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora