monotonia

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               Ainda ouvia a balbúrdia que ficou atrás de mim quando deixei a aula do professor Kettleburn. Meu coração acelerava mais a medida que eu me aproximava da sala do diretor e pensei que fosse vomitar na escada circular atrás da gárgula quando avistei aquele senhor com roupas peculiares e óculos de meia lua sentado a sua mesa. Ao seu lado a professora Minerva me observava de pé como um cão de guarda.

- Sente-se, Srta. Laverne. - Ele apontava a cadeira a sua frente. Por Merlin, ele sabe meu nome!, penso com as pernas bambeando pela sala. - Eu tentei te chamar antes do almoço, mas parece que você não estava na aula do professor Slughorn.

- Ah... Desculpa, diretor! - sentia meu rosto queimar de vergonha - Eu não me sentia bem...

- Eu entendo, você passou por um grande trauma, não é mesmo?! - eu apenas assentia com a cabeça - Foi realmente terrível o que aconteceu com o Sr. Black, mas ele já está sob ótimos cuidados. Devemos ser fortes em momentos como esse, sabe?

- Sim, diretor. - concordei mesmo não entendendo direito.

- Ótimo! Eu sabia que entenderia, senhorita Laverne. - ele sorria tranquilamente - Eu farei de tudo para encontrar o culpado e puni-lo devidamente, esteja certa disso. Mas preciso de uma pequena ajuda sua, como única testemunha da situação, gostaria de ouvi-la sobre aquela noite.

- Ah, claro, diretor. - esfrego as mãos incessantemente - Hum... Por onde devo começar?

- Que tal do começo? - Minerva finalmente abria a boca - Pode começar contando o que faziam ali fora, no horário do baile.

- Estávamos... conversando.

- Conversando? - Minerva levantava a sobrancelha desconfiada.

- Isso, conversamos muito aquela noite...

- Pode pular pro que interessa. - Minerva me interrompia.

- Hum... - forço minha mente a voltar àquela lembrança sombria e respiro fundo - Tudo bem, vou contar tudo que eu sei.

           Cansada após ser interrogada por horas na sala do diretor, subo direto para a Torre da Grifinória no horário do jantar. Ter de reviver aquela história me deixava sem fome e eu não tinha energia pra encontrar mais ninguém. Vou para o dormitório me preparar pra dormir, quando encontro o anel do humor entre as minhas coisas. Presente de Natal do Sirius, lembro. Coloco o pequeno objeto no dedo e sua pérola imediatamente se torna preta.

- Nem precisava de magia pra acertar o meu humor. - falo sozinha deitando na cama. Algum tempo depois escuto as minhas colegas de quarto entrando no cômodo e finjo estar dormindo até realmente adormecer.

          Já haviam se passado 5 dias e Sirius continuava em coma na Ala Hospitalar. Todos os dias pareciam iguais, na parte da manhã a Madame Pomfrey me barrava na porta da enfermaria e eu ia frustrada para aula. Ao longo do dia eu conseguia ignorar completamente todos a minha volta, alunos e professores. As aulas eram apenas uma perda de tempo até a parte da tarde, quando eu retornava à enfermaria esperando que o estado de saúde de Sirius tenha mudado. E a cada resposta negativa, minhas esperanças iam desvanecendo. Mas naquele dia quando chego próximo a Ala Hospitalar vejo a porta se abrindo e me escoro nas pilastras do corredor.

- Bom menino! Eu sabia que você conseguiria arrumar essa bagunça, por isso é um dos meus preferidos! - a voz do Slughorn ecoava no corredor. - Agora não se aborreça mais. Vamos esquecer tudo isso, como o diretor falou, e não conte nada a ninguém.

Ouço as vozes se distanciando e corro atrás tentando descobrir com quem o professor conversava, mas chego tarde demais. Dou meia volta e me deparo com uma figura masculina me encarando.

- Temos que conversar. - dou de ombros e continuo andando mas ele segura meu braço. - Eu não vou te deixar em paz até você falar comigo! Tô falando sério!

- O que você quer, Vitor? - cruzo os braços quando chegamos num canto discreto do corredor - Cê quer conversar mesmo ou me dar ordens?

- Eu tô preocupado com você! - reviro os olhos bufando - Dá pra parar de agir feito criança?

- Você já me trata como uma criança!

- Lógico, olha pra você! Andando pelos cantos com essa jaqueta ridícula! - ele puxava a minha roupa e eu me desvencilhava - Tá querendo colocar um alvo nas suas costas?

- Você não sabe de nada!

- Eu sei que você não está nas aulas, nem nas refeições... - seus olhos verdes estavam enormes - Você tá fedendo a cigarro, por Merlim!

- Eu tô triste, Vitor! Tô triste pra caralho! - berro sentindo as lágrimas crescendo - Um dos nossos colegas de classe foi atacado em plena escola e está em coma! Isso é pouco pra você?

- Não! Não é! - o garoto olhava pra baixo e engoli a seco - E é por isso que vou mandar uma carta pra casa pedindo pra te tirarem daqui.

- O que?! Você não pode fazer isso!

- Eu tentei te alertar, mas você não me dá escolhas, Zoe! Prefiro te ver chateada comigo do que na cama de um hospital!

- Faça isso! Faça isso e você não vai me ver em lugar algum nunca mais! - encaro meu gêmeo nos olhos sem piscar - Eu juro por Merlim que nunca irei te perdoar pelo resto da minha vida!

- Zoe, por favor...

- Se enviar essa carta, pode esquecer que tem uma irmã! - dou uma última olhada no garoto antes de ir embora.

Acordei às 6 da manhã, como de costume e minhas colegas de quarto ainda dormiam quando eu sai na ponta do pé para a Sala Comunal. Havia apenas um par de nerds concentrados no xadrez bruxo quando escapuli da Torre.

- Caiu da cama novamente, Srta. Laverne? - Madame Pomfrey se assustava quando abri a porta da enfermaria - Vai ficar feliz em saber que o Sr. Black já pode receber visitas.

- Tá bom, obrigada. - viro de costas e pego na maçaneta da porta - Espera! O que? Como assim? Ele acordou?

- Não, o Sr. Black ainda não acordou do coma. - meu sorriso vai se desfazendo aos poucos - Mas achamos que ouvir uma voz familiar pode ajudá-lo a despertar! O que acha? Pode fazer isso?

Ele parecia tão frágil naquela cama, meu coração batia forte quando avistei seu rosto mais pálido do que de costume. Meus olhos se enchiam de lágrimas e eu me esforçava para não soluçar. Sento na cadeira ao lado do leito e fico observando sua respiração subir e descer.

- Ér... Oi, Sirius, sou eu. - limpo a garganta antes de continuar - Não sei se tá me ouvindo, mas você tá na enfermaria da escola agora. Tá tudo bem, fica tranquilo! Você só... tem que acordar agora, tá bom?!

Percorro meus olhos pelo garoto procurando algum sinal de que ele me ouvia, mas Sirius continuava imóvel.

- Eu preciso muito que você acorde! - Não consigo evitar as lágrimas rolando com mais força pelo meu rosto e abaixo a cabeça na cama ao lado de Sirius. - Preciso muito mesmo que você acorde! Por favor!

Não sei quanto tempo fiquei ali de olhos fechados, mas foi o suficiente para deixar o cansaço dominar o meu corpo.

- Laverne?!

- Que? - esfrego os olhos, despertando do sono.

- Você me chamou de Sirius de novo.

- Hã? - de súbito me deparo com olhos cinzentos me encarando.

- Tanta intimidade e eu ainda tô esperando meu convite pra jantar! - a boca do garoto curvava num sorriso delicado.

- Você... Você acordou?! - Pulo para abraçá-lo deixando seus ombros molhados de lágrimas. - Você tá aqui! Graças a Merlim!

- Onde mais eu estaria? - Sirius franzia a testa confuso - Ai, cuidado aí!

- Desculpa! Não se esforça muito! Vou chamar a enfermeira. - Saio correndo até a recepção - MADAME POMFREY!

Desventuras | Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora