Flamingos.

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Yuri

Aquilo saiu da minha boca sem pensar, eu só não queria voltar hoje, aquela casa ainda me trás lembranças, lembranças da qual eu não sei me livrar, se tornando um peso nas minhas costas.

- Ah, pode, claro...mas o fato de me conhecer hoje não o incomoda? - ele pergunta meio sem jeito.
- Te incomoda? - o respondo com outra pergunta.
- Óbvio que não.
- Então não.

Ele suspira, me olhando com um olhar transparecendo confusão, eu o entendo, me compreender não é fácil, eu sou confuso e transpareço até demais.

- Vamos então, é logo ali.

Eu apenas assenti e o segui, realmente não era muito longe, era literalmente no outro lado da rua, num prédio extremamente grande e iluminado, lembro que costumava passar por ali direto, mas nunca cheguei a entrar.
Seu andar era o 4°, pegamos um elevador, desde sua última frase não teve mais nenhum diálogo, era um silêncio, mas não um silêncio constrangedor, era um silêncio que compreendia que na hora certa ele iria se quebrar.

Entramos em seu apartamento, era grande pra uma pessoa só, bem arrumado e enfeitado, ele me parecia bem perfeccionista.
Havia alguns posts de jogadores que já passou pelo Corinthians, mas o que mais me chamou atenção foi um de Flamingos, não sei o porquê, mas era lindo e muito bem pintado.

- Gostou? Comprei de um hippie, acho as artes deles as melhores e mais sinceras.- ele para do meu lado, observando a pintura também.
- Roger, sinto que posso confiar em você... - eu o encaro.
- Sabe Yuri, eu também sinto, mas não vamos ser muitos precipitados, temos muito tempo.
- É, você tem razão. - volto a encarar a pintura. - Olhando esse quadro me trás uma sensação muito boa, é uma energia totalmente relaxante.
- É sim.

Ele sai em rumo ao seu quarto, voltando com uma toalha e algumas peças de roupa.

- O banheiro é ali, vá tomar banho se não você fica resfriado.

Apenas assenti com a cabeça e sai em rumo ao banheiro, pensando sobre o que eu falei, era automático, por incrível que pareça perto dele eu não sei me manter nenhum pouco... assustador.

Roger

Tomo banho e me troco, sentando na cama e pensando sobre tudo o que aconteceu, era maluco pensar que apenas hoje eu já conheci uns 10 caras e um deles está no meu banheiro. Cara, loucura.
Saio dos meus pensamentos quando vejo Yuri entrar pela porta do meu quarto, um pouco envergonhado talvez.

- Está com fome?
- Olha...estou sim.
- Vem, vou fazer alguma coisa pra gente.

Vou até a cozinha e Yuri me segue, sentando na cadeira da bancada e me encarando com aqueles lindos olhos, eu ainda vou me perder neles algum dia, puta merda.

- Do que gosta de comer?
- Qualquer coisa... - ele responde meio perdido.
- Acho que isso não existe, viu! - dou um sorrisinho.
- O que fizer está de bom tamanho.

Yuri era um cara muito perdido com a vida, eu me via nele, eu era assim adolescente, talvez por isso esse jeito dele me deixe tão intrigado.
Fiz um macarrão com carne, era o mais rápido e bem gostoso, todo mundo gosta.

Eu nos sirvo e me sento no sofá, sendo acompanhado de Yuri, conversamos sobre coisas de futebol, ele me contou como o grupo se formou e tudo mais, eu prestava atenção em cada coisinha.

Lavei a louça e fui escovar os dentes, Yuri foi logo depois.

- Precisa avisar o Carlos, viu, ele deve estar preocupado.
- Aviso sim, mas...onde eu vou dormir?
- Se importa de dormir comigo?
- Por mim tudo bem. - ele responde meio sem graça.
- Então vem.

Ele desliga a luz e se deita ao meu lado, a essa altura ele já tinha a senha da internet, então se pairou o silêncio sobre o quarto, cada um em seu próprio mundo, cada um com a sua vida.
Ele coloca seu fone e clica em alguma playlist, se virando pra mim e me encarando com um olhar de admiração, me deixando completamente sem graça.

Com aquela linda voz ele cantarola baixo uma canção bem específica do cantor "Baco Exu do Blues".

"Não quero mais dormir do seu lado.
Prefiro ficar acordado guardando seu rosto 'pra lembrar de você."

De algum modo eu senti como uma declaração, uma declaração um tanto precipitada, mas com um peso tão grande.
Qual era a intenção desse menino?

Desligo meu celular e o encaro, percebendo cada traço de seu rosto, ele era bem bonito, mas seus olhos pareciam carregar uma tristeza tão enorme...

Eu me aproximo mais dele, que faz o mesmo, até nossos lábios se tocarem, fazendo uma pressão entre eles.
Ele leva uma mão até minha nuca, aprofundando mais aquele momento de intimidade, que cedo espaço pra sua língua adentrar minha boca.
Pela primeira vez eu senti borboletas no estômago enquanto beijava alguém, pela primeira vez eu senti um sentimento sem igual.
Talvez pela primeira vez eu estava sabendo o que era amar beijar alguém.

"Somos livres como girassóis de Van Gogh"

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😭😭😭😭😭😭 baco eu te amo

essa noia de flamingos surgiu do nada takkkkkk

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