II | Gula

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"[...] Um banquete sob as chamas ardentes; Uma legião de almas perdidas sentou-se perante a rocha onde um anjo seria sacrificado. De tuas penas, sobraram cinzas. Do teu sangue, nenhuma gota. Da tua carne, fez-se o pecado."

[...]

A cena do crime era no máximo, incomum, aos olhos da grande Detetive Soraya Thronicke. Ao contrário do que se espera, ela não esboçou qualquer reação negativa ou demonstrou surpresa como que via, muito pelo contrário, Simone poderia descrevê-la perfeitamente como se estivesse sentada de frente para a lareira lendo um conto natalino. Soraya faz sua primeira análise ao redor do corpo, acompanhada da substituta, que de alguma forma, tentava imitar os passos da mais experiente. Aquela frieza em seus movimentos, por alguma razão, impressionava Tebet. Seria esse o segredo para ser uma boa detetive? Ser o menos emotiva o possível? Naquelas circunstâncias, parecia impossível. Em cinco anos na I.B.S, Simone Tebet nunca tinha presenciado uma coisa daquelas mesmo levando em consideração que a Inteligência Brasileira de Segurança ficava, na maioria das vezes, com o trabalho mais sujo e pesado.

— O que me diz, Detetive? — pergunta Batista, afastando-se um pouco do corpo.

O ambiente não era um dos mais favoráveis, tratando-se de uma casa velha, empoeirada e caindo aos pedaços. Sobre a mesa da cozinha, há o que parecia ser o resto de um jantar que nunca fora terminado e que agora, servia de banquete para ratos e baratas. Debruçada sobre o prato principal, a primeira vítima. O rosto estava afundado sobre um prato do que era uma macarronada à bolonhesa. Seu corpo estava amarrado na cadeira onde sentava-se, e provavelmente, a vítima não se levantava dali havia um bom tempo, já que havia feito suas necessidades naquele local. Seu pescoço estava inchado, tanto quanto seus tornozelos e abdômen.

– Há um balde embaixo da mesa. — sinaliza Tebet durante sua inspeção.

— O que há nele?

Simone se abaixa e puxa o recipiente
para perto, saltando para trás ao verificar seu conteúdo.

— QUE NOJEIRA!

— Vísceras?

— Vômito.

— Presença de sangue?

— Eu sei lá e não vou olhar para isso de novo!

Soraya bufa, tomando em suas mãos o balde e novamente, mantendo sua face estável. Ela verifica o material e pede para a perícia separar parte dele para análise. Simone calça suas luvas, aproximando-se pela primeira vez do corpo, onde gentilmente levanta a cabeça para que todos pudessem observar melhor. A mandíbula parecia fora do lugar, provavelmente pelo impacto do corpo sobre mesa. Os olhos estavam um tanto saltados e tinham suas pupilas dilatadas.

— É, está morta. — conclui a substituta.

— Muito esclarecedor, Tebet. — rebate Soraya — Policial, temos a identidade da vítima?

— Bianca Bianchi, 28 anos, cidadã italiana mas que vivia aqui há pelo menos dois anos.

— Parece que foi um jantar e tanto. — Comenta Simone.

— Os vizinhos ouviram alguma coisa? — questiona Soraya.

— Não, disseram que a moça era muito
reservada, quase nem saía de casa. —
responde o policial — Mas encontramos uma coisa.

O homem se direciona até o armário próximo a geladeira, onde havia comprovantes de compras realizadas em um supermercado da região.

— O assassino fez compras? — Simone
parecia querer rir da situação — Era alguém conhecido da vítima então? Preparou um jantar para depois matá-la?

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora