VIII | Conversa

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"[...]Céu e Inferno nem sempre estiveram em lados opostos, eles colidiram todas as vezes que Deus batia à porta do Diabo, tentando levá-lo de volta para casa. A besta passou noites sentada em uma mesa com seu criador, ouvindo histórias e apelos por um ponto final. "Nós podemos ter um reino só", Lúcifer lembrou-se da sugestão. Mas nem mesmo uma boa conversa era capaz de domar o pior dos demônios."

[...]

As detetives procuram nos corredores do hospital o responsável pelo atendimento de Paola Pérez, deparando-se com uma linda mulher de cabelos castanhos. A Doutora Ana acompanhou-as até a UTI, de onde puderam observar de longe, atrás de um vidro, a vítima. Pérez estava completamente entubada e isolada de outros pacientes, o que não parecia uma boa notícia já que mantinham expectativas sobre sua melhora.

— Como ela está? — pergunta Thronicke.

— Eu nunca vi nada como isso. — confessa Ana — Esse foi o caso mais grave que já tivemos no hospital em anos.

— Há alguma esperança de recuperação?

— Sinceramente? Nenhuma, a garota está muito debilitada.

— Ainda pode ser cedo, certo? – indaga Simone — Mas futuramente ela pode estar melhor para dar um depoimento, não pode?

— Eu não esperaria por isso, Detetive. Pelo estado em que ela está, poderia morrer de choque até mesmo se eu acendesse uma luz no rosto dela. E de qualquer forma, mesmo que ela sobreviva, ela engoliu a própria língua há muito tempo. Eu sinto muito.

A Doutora despede-se, se afastando enquanto faz anotações em sua prancheta. Thronicke encosta seu corpo no vidro, enquanto observa a mais nova a andar de um lado para o outro, com as mãos na cabeça.

— Não pode ser, não é possivel. — dizia.

— Fique calma, Tebet.

— EU ESTOU CALMA!

— O próprio Buda. — debocha a mais velha — Não podíamos simplesmente acreditar que a Paola na situação que a encontramos simplesmente se recuperaria.

— Eu acreditei, Soraya, eu acreditei. Caramba, estamos há dias atrás desse filho da puta e não conseguimos uma pista.

— Tebet, eu sinto...

— Eu não quero ouvir que você sente muito, eu quero respostas, Soraya!

A mais alta se afasta, batendo os pés com força contra o chão. Soraya a deixaria ir, mas não, estavam fazendo aquilo juntas, não seria cada uma para o seu lado. A mais velha a segue, segurando seu braço quando a alcança nas escadarias. Simone se vira e seus olhos encontram o de Soraya, como naquele momento na sala de Paola Pérez. Ambas tinham aquela mesma sensação, a qual não podiam explicar. A de cabelos loiros se aproxima, soltando o braço de Simone, que paralisa ao sentir sua respiração tão próxima.

— Tebet, podemos conversar?

— Sobre o que?

— Sobre aquele clima, aquilo que rolou.

— Não sei sobre o que você está falando...

Fortes clarões as interrompem, seguidos de irritantes clicks e perguntas sobre o caso. Uma jornalista estava parada abaixo delas, fotografando-as nas escadas. A moça de cabelos médios e castanho claro se aproximava, a medida que continuava a perguntar se as detetives estavam próximas de capturar o assassino. Como sempre a frente, a mulher já sabia que a próxima vítima havia sido feita e que naquele momento se encontrava no hospital em estado grave.

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora