XI | Luxúria

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"[...]O pecado tornou-se um prazer ao ser humano, e o maior dos prazeres se tornou carnal. A lascívia do homem Ihe trouxe sua própria desgraça, a expulsão de um paraíso onde Deus tinha uma única regra: "não ceda a tua libidinagem, ou lhes marcarei na pele com seu despudor" ditou a Adão e Eva. Os mesmos, na calada da noite, provaram da fruta proibida, onde a serpente enviada por Lúcifer lhes apresentou o desejo."

[...]

Dividindo trago a trago uma bituca de cigarro quase esgotada, as detetives esperavam o momento certo para atravessar a rua movimentada do centro de São Paulo. Os carros passavam de um lado para o outro, uns vindo, outros voltando: todos tinham um lugar aonde ir. Poucos minutos antes, Soraya e Simone estavam aos beijos dentro da Land Rover da mais velha. Um desejo incontrolável recaiu sobre seus corpos após um primeiro contato, onde nasceu um anseio por mais. Destinadas a seguir a próxima pista do crime, elas entraram no veículo, onde por um momento, tudo parecia deslocado. Entre elas, uma tensão absurdamente tentadora, e então, lá estavam em uma nova conversa. Lábios molhados grudados em um encontro de almas, elas não se questionaram por um só instante se talvez fosse errado duas colegas de trabalho — cujo um caso carregavam juntas — se envolverem carnal e sentimentalmente.

Agora, elas dividem um mesmo cigarro, após uma dezenas de beijos e mãos apressadas interrompidas pelo compromisso que as trouxeram ao centro da cidade. De frente para elas, uma loja de itens bizarros acabava de abrir suas portas para mais um novo expediente.

— É hora de brilhar, Tebet. — Soraya finaliza o cigarro, jogando-o sobre a calçada e esmagando com um dos pés.

Simone enfia as mãos no bolso do casaco e toma a frente, atravessando entre os carros e abrindo a porta da loja, ouvindo-se um sino. Soraya aproveita a brecha e entra primeiro, concentrando seu olhar em várias das iguarias que o local procurava oferecer. Fantasias, objetos de arte, brinquedos sexuais e uma série de produtos que ela não fazia ideia para o que serviam. As pessoas costumavam encomendar coisas fora do comum naquele lugar, o que o categorizou como "a loja das bizarrices"; Todo mundo em São Paulo tinha uma história para contar daquele lugar. Desde venda de drogas sintéticas até a comercialização de bonecas sexuais humanas. Mesmo sob investigação durante muito tempo, ninguém provou ao governo a ilegalidade do local, que continuava funcionando.

Tebet dá uma rápida olhada e fecha a porta atrás de si. As detetives caminharam até o balcão, onde um rapaz alto de boa aparência as atende.

— Como posso ajudá-las? — pergunta ele.

— Somos da D.I.C — Tebet mostra seu distintivo — Gostaríamos de fazer umas perguntas.

— Claro, se eu puder ajudar.

Thronicke retira de um saco plástico a fotografia do item incomum encontrada no apartamento de Jane Doe. Se parecia com uma espécie de brinquedo sexual, mas de excitante não tinha nada. A grossa cinta de couro lembrava aquelas usadas durante relações amorosas, onde um dos parceiros prende-a na cintura e um pênis sintético faz todo o trabalho de penetração. Bem, neste caso, no lugar do órgão de borracha havia uma faca pontiaguda e afiada.

— Você fez este artefato? — pergunta a mais velha.

— Sim, sim. Me recordo desse, uma mulher encomendou.

— Se lembra dela?

— Me lembro que seu nome era Jane Doe, não tem como esquecer um desses. — ele ri, rapidamente recompondo a feição séria — Mulher de estatura média, os cabelos estavam dentro da touca do moletom e ela usava uma máscara facial, disse que estava gripada no dia que veio até mim.

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora