IV | Crime Capital

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"[...]E do desejo, nasceu o pecado, uma ânsia dos homens por quebrar as leis de Deus. Sete caminhos que cruzam-se e levam ao tormento. O Diabo é o maior dos pecadores e os mortais, receberam o dom de desejar de seu próprio Deus; "ignore tua gana e eu lhes darei o Paraíso; Entregue-se a ela e receberás o Inferno."

[...]

Desacostumada a tamanha formalidade, Simone Tebet se convence da grande exaustão que é manter a pose de Detetive. A manhã mal começara e todas aquelas pessoas Ihe desejavam um bom dia de trabalho, mesmo que aquela fosse a primeira vez que aqueles olhos cruzaram-se pelos corredores do Departamento. Tebet começava a acreditar no seu novo posto, mesmo que recém-assumido. A mulher sorri após passar por um dos policiais e o mesmo acenar em respeito com a cabeça. Simone, ainda tímida, devolveu o gesto e seguiu seu caminho cheia de si, parando em frente ao elevador, enquanto aguardava sua chegada. Surpreendida pelo jogo do destino, dentro dele estava Soraya Thronicke, que provavelmente estaria subindo ao Departamento após estacionar sua Land Rover preta no subsolo. Tebet adentra, sabendo que os oito andares acimas teriam um clima desagradável.

— Bom dia. — tenta ser formal, mas percebendo um certo ar de julgamento provindo da mais velha, que lhe joga um rápido olhar.

— Está atrasada. — Soraya murmura, olhando de relance o relógio elegante em seu pulso — Marquei uma reunião com a Dirigente Duarte na sala dela.

— Qual o assunto?

— Você saberá na hora certa.

— Não poderia me adiantar?

— Por que a pressa, novata? As coisas não são assim.

Thronicke sorri como o Diabo sorriria ao ser temido por um mortal. A porta do elevador se abre e ela dispara em direção ao lado de fora, a deixar Simone comendo sua poeira. A mais nova parecia hipnotizada com sua forma de andar, até mesmo o barulho dos seus scarpins contra o piso de madeira era elegante e superior ao de qualquer alma naquele departamento. A porta ameaça se fechar novamente, sendo interrompida pelo brusco movimento de Tebet, que deixa seus pensamentos e parte para dentro do local. Soraya Thronicke costumava ser alguém a idolatrar, o que ela não tinha deixado de fazer, mesmo após conhecer a fera. Algo naquela mulher fazia com que até mesmo seus gestos mais simples se tornassem brilhantes diante dos olhos de Simone, era assustador como Soraya conseguia ser odiada e cativada ao mesmo tempo — pela mesma pessoa.

Tebet ajeita sua postura antes de bater na porta de Victória Duarte, que já aguardava pela presença de sua detetive. Toc, toc. A mais velha faz questão de abrir a mesma, revelando a presença de Soraya Thronicke a aguardar pela reunião. Simone abaixa a cabeça e caminha para dentro do escritório, sentando-se na cadeira reservada para si. Soraya se coloca de pé, passando ao lado da mais nova, fazendo com que os pelos de seu braço se tornassem eretos pelo quase toque. Simone torna a concentrar-se no objetivo que a trouxera até ali.

— Encontrei isso na cena do crime de Bianca Bianchi. — ela joga um saco plático contendo um bilhete em seu interior — E estava escrito "Gula" com gordura.

— Como deixamos isso passar? — questiona Victória

— Estava atrás da geladeira, eu estive lá ontem a noite.

— Por que estou aqui se o caso não me pertence?

— Aí que você se engana, Tebet. — Soraya se aproxima e toca o ombro da mais nova, que levanta seus olhos até as mãos grandes e marcadas por vênulas de Thronicke — O seu caso e o meu estão interligados.

— O que te fez chegar a essa conclusão?

— Há setes pecados capitais: Gula, Ganância, Luxúria, Ira, Orgulho, Preguiça e Inveja.

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora