XV | Ira e Inveja

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"[...]Era insaciável sua fome de parecer-se com o criador, fazendo de sua ira um novo reinado como o de tal. Deus sempre soube que a sua criação mais perfeita espelharia a ele próprio, e não pode punir a Lúcifer por ter as mesmas ambições que ele. O Diabo negou, desde de o início, que era como teu Deus, mas eles compartilhavam do mesmo sangue. A tempestade da Besta arrasou os céus, mas nunca deveria os destruir, visto que o Inferno sempre precisou do Paraíso para ser temido pelos homens."

[...]

Um carro do departamento de polícia foi disponibilizado para o compromisso nenhum pouco excitante que estava por vir. Nos bancos da frente, dirigia a viatura acompanhada por sua companheira de caso, Simone Tebet. Presa com algemas nas grades que a separava das detetives, Janja ditava o caminho por onde deviam seguir até a localização exata dos dois corpos: Inveja e Ira. Como prometido, não havia uma equipe ou uma escolta, visto que a assassina nunca revelaria o local onde ocultou os cadáveres se suas ordens não fossem seguidas. À distância, um helicóptero fazia a guarda, apenas para assegurar-se de que a serial killer não tentaria eliminar as mais velhas para iniciar um plano de fuga.

Deveria terminar ali, mas o tormento maior ainda estava por vir.

— Para onde estamos indo? — indaga Tebet, observando queo caminho de terra as levava para um campo afastado da cidade — Não pense que vá tentar qualquer coisa, Rosângela.

— Eu não vou. Siga por este mesmo caminho, os últimos dois pecados estão prestes a se revelar.

— Isso não me traz uma boa impressão, Tebet. — comenta Soraya.

— Nós vamos ficar bem, ok?

Thronicke crava os olhos nos dela, percebendo um sorriso meigo e confiante. Ela devolve o gesto, voltando a prestar atenção na estrada. Mal podia esperar pelo fim de todo aquele caos. Soraya finalmente deixaria seu cargo e poderia viver como uma mulher livre e normal. Àquele ponto, Simone estava em todos os seus pensamentos e planos para o futuro. Talvez um mês antes, quando ela pediu demissão, a possibilidade de encontrar alguém que lhe fizesse amar novamente era praticamente nula. Mas aquela marrenta de cabelos curtos entrou em sua vida, e mesmo pouco tempo depois, transformou todos os seus desejos solos em duplos. A mais velha seguia por uma estrada vazia e silenciosa, mas não, desta vez não temia o pior. Alguém importante estava ao seu lado dessa vez e quando todo aquele pesadelo acabasse, ela só pensava em como seria sentar-se em um bom restaurante e apreciar uma taça de vinho tinto com a mulher que gostava.

Rosângela corta o clima e pigarreia, abrindo a boca mais uma vez.

— É engraçado. — diz ela.

— O que é engraçado? — pergunta Tebet.

— Nós enviados por Deus tentamos livrar o mundo dos pecados, mas eles sempre vão continuar entre nós.

— Você matou aquelas pessoas porque você é a porra de uma doente, Janja, Deus não te mandou até aqui.

— E você acha certo? — ela gargalha — Aquela vadia comer tanto enquanto milhões de pessoas passam fome? Ou aquela puta da boate continuar espalhando doenças por aí? Nem precisamos comentar sobre a advogada que lavou tanto dinheiro que deveria ser de pessoas necessitadas dele, ou daquela imunda que fingia se importar com as causas humanitárias na televisão mas no fundo ela só se importava com ela mesma. E a traficante? Ela é uma das piores na minha opinião porque trazia sujeira ao mundo e nem sequer fazia pelas próprias mãos. Ela sentava naquela poltrona todos os dias e mandava arrancar centenas de cabeças enquanto usava cocaina. — A mulher gruda sua face na grade, abrindo um sorriso largo — Não, eu não sou doente. O mundo está doente e precisa de correção. Eu sou a justiça.

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora