XIV | Desejo

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"[...]E dessa forma, os sete pecados capitais nasceram, concebidos de um desejo insaciável do homem em quebrar as leis do criador. Entregues a tal anseio, os mortais receberam as devidas consequências. O Inferno abriu suas portas às almas com bagagem, enquanto os céus viraram as costas aos próprios filhos."

[...]

Frente a frente, a caça e o caçador se encaravam mais uma vez. Janja manteve o sorriso do minuto que entrou até aquele instante, realizada por só terem a pegado por sua própria vontade. "Vocês são todos tão estúpidos" disse mais cedo, durante o questionário. O dia já havia amanhecido novamente em São Paulo e o interrogatório aconteceu durante todo estender da tarde, tendo ela dito, em metade das perguntas, coisas totalmente sem nexo. Rosângela era mais uma daquelas religiosas fanáticas que acreditava ser enviada por Deus para punir o pecado dos homens. Todos aqueles crucifixos e itens sagrados em seu apartamento, parecia tudo tão bizarro mas se encaixava perfeitamente nos detalhes que descobriram sobre ela.

Foi surpreendente como Janja havia pensado em tudo: a pele da ponta dos próprios dedos eram constantemente cortadas para não deixar digitais nos locais onde ela tocava, o que fez pleno sentido para Déborah já que em nenhuma das cenas do crime haviam digitais do assassino, nem mesmo em sua própria casa. Ela pagava pela estadia de Paola Perez na pensão, onde, durante um ano, a manteve presa naquela cama. O dono do prédio estava certo em dizer que Perez era a inquilina perfeita, ela estava vegetando no apartamento. Janja também se assegurou de mudar seu nome, não gostaria de ser reconhecida por Tebet caso a mesma encontrasse uma pista — o que de fato ocorreu — Jane Doe foi o primeiro e mais misterioso em que pensou. Janja escolheu as vítimas a dedo, algumas faziam parte da sua vizinhança e outras ela conheceu na televisão como Mara Garcia, Fernanda Castro e Paola Perez, pessoas conhecidas por parte do público. Traria mais impacto dessa forma. Foi tudo arquitetado perfeitamente, desde o início, nos mínimos detalhes. Agora Jane Doe estava algemada contra a mesa da sala de interrogação, vestindo roupas ensanguentadas na qual ainda havia vestígios do crime de Fernanda Castro e sangue ainda não identificado.

— Por que decidiu se entregar? — perguntou Soraya, pela terceira vez.

— Eu disse, faz parte daquilo que Deus preparou para mim.

— E você pode nos adiantar o que ele preparou para você?

— Vocês querem saber onde está os outros dois corpos, certo?

— Então há outros dois corpos? — confirma Tebet — Você não dá ponto sem nó, não é mesmo?

— Como eu disse, Deus me enviou para fazer justiça e eu a fiz.

— Eu juro que vou voar no pescoço dela. — murmurou Simone, sendo segurada pela mais velha.

— Onde podemos encontrar os outros corpos? — indaga Thronicke — Pode nos levar até eles?

— Posso, mas apenas vocês duas. Sem equipe.

— Como quiser, mas apenas nos leve até eles. Algo mais a acrescentar?

— Que Deus tenha piedade de todos nós.

Tebet bate as mãos na mesa e se levanta, saindo pela porta com fúria nos olhos. Soraya faz o mesmo, repetindo seus passos, onde seguiu a mais alta por alguns metros até conseguir pará-la juntando seu braço.

— Podemos conversar? — diz Soraya.

— Sobre o quê? Sobre como eu me sinto sabendo que minha ex-namorada matou sete pessoas porque ela acredita ser um mensageiro do senhor? Não, Soraya, eu não quero ter essa conversa.

SEVEN • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora