-Eu não sabia que você cozinhava tão bem assim- falei me deliciando com aquele prato de macarrão que estava bem à minha frente.
-Ta vendo menor? Tu já não sabe mais nada de mim - disse Robinho rindo.
Isso era uma verdade que eu não podia contestar. Desde meus 16 anos que eu não sabia mais nada sobre ele. Era completamente engraçado como de melhores amigos nos tornamos completos estranhos um para o outro.
Quando acabamos de comer Robinho abriu uma cerveja e sentamos no sofá da sala dele para continuar jogar conversa fora. Estava sendo bem interessante me distrair por alguns minutos que fossem. Enquanto ele tentava me explicar algo sobre futebol que eu não entenderia de maneira nenhuma, eu não conseguia deixar de olhar frequentemente aquele arsenal de armas que ficava no canto da sala dele.
-Vai, pode perguntar - disse ele percebendo que eu não desviava o olhar das armas - o que tu quer saber?
-Cara - falei me virando para ele no sofá e sentando de pernas cruzadas - quando você escolheu isso pra você? Sério. Nós fomos amigos por bastante tempo e eu sempre vi um futuro em você, que eu me lembre, ninguém te ganhava no futebol na favela inteira. Você era o melhor.
-O problema Yuri, é que acho que tu foi a única pessoa que viu o melhor em mim manin!
Era possível perceber um sentimento de tristeza em sua voz. Parece que acabei falando algo que talvez era melhor não ser dito.
-Sonho não coloca comida na mesa - completou ele - de que adianta ser o melhor jogador da favela se nós fica esquecido aqui mano? Tu já tentou a vida lá fora Yuri? Se pra foi difícil pra mim foi pior. Eu era o irmão mais velho, tinha que sustentar a casa, e nós que é preto só tem uma opção. Quando a vida não quer ajudar nós tem que tomar a força.
Fiquei encarando-o e a verdade era que eu realmente não sabia como deveria ter sido difícil para ele. Às vezes a realidade é muito dura.
-Agora eu posso te perguntar uma coisa? - disse ele olhando em meus olhos
-Bora la, minha vez de responder.
-Desde o dia da grande merda que a gente não se fala e tipo assim, eu escutei algumas coisas na época sabe? Uns assuntos que rolava pela favela e tals. Mas agora eu queria saber por você o que realmente aconteceu depois daquilo.
O dia da grande merda aconteceu exatamente um mês depois do meu aniversário de 16 anos.
Naquela época, eu e Robinho ainda éramos muito próximos, só que como a mãe dele precisava trabalhar fora ele por diversas vezes precisava vigiar seu irmão, Samuel, que na época devia ter por volta de uns 10 anos de idade.
Em uma quarta-feira aleatória, a mãe de Robinho não foi trabalhar por conta da greve dos transportes públicos, então, como a muito tempo não fazíamos, resolvemos ficar na rua brincando.
Era por volta de 17h da tarde quando Robinho resolveu ir embora, mas como estávamos perto da minha casa, antes, fomos beber água. Entrei em casa gritando por minha mãe e aparentemente não tinha ninguém em casa.
Enchi dois copos com água e entreguei um Robinho, e ficamos ali, em pé na cozinha e em silêncio. Aquele momento para mim pareceu ideal para conversar com ele algumas coisas que eu já estava sentindo há algum tempo. A verdade é que eu estava no auge da minha puberdade e ali eu estava me descobrindo. Não sei se por razão de nossa proximidade, de um tempo em diante eu comecei a olhá-lo de outra forma.
Ver Robinho ali, parado em minha frente, suado, sem camisa, me despertou algo. Curiosidade? Desejo? Eu não sabia ao certo, mas resolvi arriscar.
-Cara, eu preciso te falar uma coisa - comecei a falar descontroladamente e de forma rápida - desde que você começou a sair menos pra rua eu tenho sentindo muito sua falta, é como se eu perdesse parte de mim.
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Apaixonado pelo perigo
RomanceApós uma mudança do chefe do tráfico de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, Yuri, médico e morador acaba arrumando briga com esse novo chefe. O que ele não esperava é que essa briga o colocaria em um triângulo amoro entre 2 grandes traficante...