Setenta e dois

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Dandara narrando 

"Já estive em poços mais fundos. Mas não estou conseguindo suportar como antes."

Quando eu vi eles tentando arrombar a minha porta eu só pensei em sair correndo com eles, pulamos a janela do meu quarto caindo em um laje, Ramon ralou o joelho mas não reclamou e eu agradeci muito, iria ser difícil correr com uma criança chorando 

Sentia o meu coração acelerado e uma vontade imensa de chorar, eu estava sentindo que alguém não sairia bem dessa vez e eu rezei que se fosse pra alguém morrer, que fosse eu 

A minha vida poderia ter sido perfeita, eu poderia ter continuado e atuar na mesma área que a minha mãe, ela também poderia estar viva se a mesma não tivesse aceitado trabalhar aqui, eu ainda teria um pai que fingia se importar comigo

Mas talvez esse fosse o meu destino, certo? talvez já esteja na minha hora de descansar também...acho que eu não conseguiria viver mais nessa vida maluca do Renan, é demais pra mim

Paramos na casa da Alésia, assim que batemos na porta e gritamos o nome da mesma ela abriu e nos fez entrar 

Alésia: vocês estão malucos? 

Dandara: entraram lá em casa- falei entrando em desespero- só deu tempo de trancar os meus cachorros no banheiro e pular a janela com eles...eu escutei que eles atiraram no Renan- falei baixo pras crianças não escutarem, eles estavam com cara de assustados sentados no sofá, ver os dois daquele jeito fez eu me sentir a pior possível mãe do mundo 

Alésia: ele não morreu, se não os tiros já tinham parado, se acalma- ela falou me abraçando 

Dandara: eu tenho que ir atrás deles Alésia....eu preciso 

Alésia: você não pode e também não vai sair daqui, entendeu? agora você tem duas crianças que dependem de você e eu também- a mesma funga o nariz e continua- eu só tenho você danda, eu não quero perder mais ninguém 

Dandara: eu também não, não aguento mais tanta dor- falei desabando, soltei tudo o que estava preso dentro de mim

O meu coração estava apertado e doendo, era como se alguém estivesse apertando ele com força e isso dói, é mesma dor de quando a minha mãe morreu e de quando o meu pai me deixou pra trás...parece que isso nunca vai passar

Depois de um minutos ali começamos a escutar batidas na porta, Alésia andou até lá e se abaixou olhando pelo buraco da chave, a mesma se virou e fez sinal pra gente fazer silencio 

Chamei eles fazendo um sinal com a mão, saímos pelo quintal dela que dava em outro beco, os barulhos de tiros me preocupou quando eu percebi que estávamos bem perto deles, olhamos pra trás e vinham mais policiais na nossa direção

Coloque a Alésia junto com os meninos pra irem na frente e eu só segui eles, assim que eu vi aquela policial no chão eu travei, ela estava com o rosto sangrando e de olhos aberto, Alésia puxou a minha mão me fazendo sair do lugar 

Senti o meu peito arder, foi como se o mundo entrasse em câmera lenta naquele momento, vi a policial atirar na Alésia que caiu pra trás, logo em seguida escutei mais barulhos de tiros em direção a ela que largou a arma e seu corpo começou a encher a escadaria de sangue 

Minha cura {M}Onde histórias criam vida. Descubra agora