Millie me encarou por alguns segundos, provavelmente aguardando que eu dissesse alguma coisa. Mas eu estava completamente sem palavras enquanto a encarava de volta. Ela segurava um saco de lixo, provavelmente para jogar fora.
—O que você está fazendo? —Indagou, com uma expressão desconfiada.
—Ah, eu... eu... —Olhei ao redor, sentindo uma vontade absurda de rir, mas por dentro eu estava um caos. —Dando uma volta.
—Dando uma volta? —Ela ajeitou o óculos no rosto, afastando a franja um pouco para o lado. —Pulando muros e invadindo prédios?
—É. —Dei de ombros, vendo ela comprimir os lábios e se afastar de mim até a caçamba de lixo na lateral do prédio, onde jogou o saco e depois voltou para frente da porta, ainda me olhando desconfiada.
—Se o segurança te pega, você tá morto. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada.
—Mas você não vai me entregar, ou vai? —Ergui uma das sobrancelhas, vendo os lábios dela se curvarem na sombra de um sorriso.
—Você precisa ir. O estúdio já vai fechar. —Ela abriu a porta e entrou, me obrigando a me apressar para entrar atrás dela. Millie me olhou por cima do ombro quando a porta se fechou atrás de mim, parecendo sem saber o que fazer. —Victor, é sério. Não sei porque está aqui, mas é melhor ir embora.
—Eu já fiz isso milhares de vezes e eles nunca me pegaram. —Me escorei na porta atrás de mim, vendo ela balançar a cabeça negativamente.
—Esse lugar tem câmeras, sabia? —Ela se virou, cruzando os braços na frente do corpo.
—A maioria delas não funcionam e as que funcionam ficam perto da entrada.
—Como você sabe? —Ela pareceu confusa, mas então quando se tocou em como eu provavelmente sabia sobre aquilo ela pareceu ficar chocada. —Por que está aqui?
Por você.
—Assunto confidencial. —Falei, soltando uma risada quando ela me encarou com uma expressão impaciente. —Ei, hoje no colégio, pareceu que você queria me pedir mais alguma coisa. —Isso fez a expressão dela ficar seria, como se ela se lembrasse de algo. —Se precisar de mais alguma coisa, eu posso ajudar.
—Você é sempre tão prestativo?
Eu olhei pra ela com as sobrancelhas erguidas, porque só havia uma resposta possível pra isso e talvez ela fosse me achar muito descarado se eu falasse tudo que penso. Mas Millie apenas suspirou e se virou para voltar a andar.
—Eu tenho que fechar algumas salas. Então você precisa ir mesmo embora. —Afirmou, quando comecei a segui-la por aqueles corredores. Não fiz menção de ir embora, porque agora ela já havia me visto e não fazia sentido me esconder.
—O que você faz aqui? —Indaguei, um pouco confuso.
—Limpeza e organização das salas. —Ela pareceu sem graça ao responder aquilo, como se eu fosse julga-la de alguma forma. Ela abriu cada porta que passamos, checando se havia alguém lá dentro antes de apagar as luzes e tranca-las.
—E aula de balé. —Comentei, vendo ela me laçar um olhar carregado e continuar a trancar as portas das salas de dança.
Comecei a pensar em tudo aquilo, percebendo que Millie sempre estava praticando balé quando não havia mais ninguém ali. Eu nunca havia visto ela em aulas mesmo, com outras alunas e um professor. Assim como não havia achado o nome dela no sistema do estúdio.
—Você não é aluna daqui, ou é? —Indaguei, vendo ela me olhar por cima do ombro e pude jurar que ela parecia nervosa. —Parece que eu não sou o único que quebra as regras aqui.
Ela parou de andar e se virou pra me encarar, com o rosto vermelho. O som de passos pelo corredor chamou a atenção de nos dois. Nem tive tempo de pensar quando Millie me empurrou para dentro de uma sala, apagou a luz e fechou a porta.
—Tudo bem, Millie? —Ouvi uma voz masculina do outro lado, enquanto me escorava na porta tentando ouvir melhor.
—Sim, só estou terminando de trancar as salas. —Millie respondeu, usando um tom de voz doce e gentil.
—Pensei ter ouvido uma voz masculina. —O homem prosseguiu, e eu engoli em seco, porque estaria ferrado se ela me entregasse.
—Eu estava falando no celular com um amigo. —Millie soltou uma risada baixa. —Já vou terminar aqui e ir embora.
—Tudo bem. Qualquer coisa me dá um grito. —O segurança começou a se afastar. —Vou estar lá na entrada.
—Ok, boa noite, Chris.
—Boa noite, Millie. —A voz estava longe o suficiente e quando me afastei da porta, ela se abriu e quase bateu na minha testa. Antes que eu saísse Millie entrou, fechando a porta e sem acender a luz me prensou contra a parede.
—Olha só, eu não sei o que você viu, mas não conta pra ninguém, entendeu? —Ela segurou a minha jaqueta, tão próxima a ponto de me fazer sentir seu perfume suave e sua respiração no meu queixo. Mesmo com a sala escura, eu ainda podia ver a silhueta do seu rosto, próximo demais do meu a ponto de me deixar com o coração na boca. —Eu não posso perder esse emprego, Victor. Então por favor, não conta pra ninguém. Eu preciso muito, muito mesmo desse emprego.
—Eu não vou contar nada. —Falei, sentindo meu corpo inteiro responder a proximidade dela. —Juro pra você, não vou contar nada.
Ela se afastou, fazendo meus ombros se encolherem quando suas mãos me soltaram. Millie ainda estava ali, parada na minha frente e respirando tão rápido quanto eu. Ela abriu a porta depois de alguns segundos e saiu, me obrigando a fazer o mesmo.
—Ei, desculpa, eu não queria te deixar chateada. Juro que não vou contar pra ninguém. —Afirmei, falando baixo para não chamar a atenção do segurança de novo. —Você acabou de me pegar pulando o muro, Millie. Pronto pra invadir isso aqui.
—É, mas você é rico. —Retrucou, se virando pra mim. —Eu iria me ferrar se soubessem que eu uso as salas e os equipamentos daqui, você não.
—isso não é verdade. —Falei, mesmo sabendo que ela tinha razão. Mas queria que ela confiasse em mim.
—Você passou o ano indo parar na sala do diretor por diversos motivos, Victor, e nunca foi expulso nem nada.
—Porque eu sou o melhor aluno do colégio, não porque sou rico. —Ela riu e negou com a cabeça. —É sério. O diretor só não me expulsou porque ele tem certeza que no final do ano vou receber uma carta de Harvard, o que será excelente pro colégio. —Ela me encarou ainda em duvida. —De qualquer forma, essa é minha última chance. Se eu fizer merda, estou fora.
Ela me encarou por alguns segundos, mordendo o lábio enquanto parecia pensar. Por mim ela suspirou, indicando o corredor por onde tínhamos passado.
—Me espera lá fora.
Continua...
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Como conquistar Victor Summer / Vol. 3
RomansaVictor Summer é certamente o melhor aluno do colégio. Notas boas em todas as matérias, popular e sempre chamando a atenção por onde passa com seus cabelos ruivos e seu skate. Mas ser o melhor aluno não significa andar dentro da linha. Depois de entr...