I - ENTRE RIR & CHORAR

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Divertia-se entre seus amigos naquela festa. Tal encontro que por muito tempo evitou, e foi justo nessa noite que se forçou a unir seu escasso ânimo para sair. Após muita insistência de seus amigos, é claro.

No meio da roda de conversas e risos, em pleno som alto da música, pensou por um segundo que estava se divertindo, já que seu coração palpitava forte. Só que chegava a ser incômodo, sentia-se tremer, sentia-se abafado debaixo daquelas luzes a piscar. Mas a conversa estava boa, dentre as piadas que contavam ria com vontade... Vontade mesmo era de recuperar o compasso no peito.

E percebeu que seu riso estava forçado, incessante, arritimado. Não era um riso de alegria, era de nervoso. E quando tentou cessar, logo em seguida veio a vontade de chorar. Estava então literalmente preso na dúvida sobre qual dos dois ceder. Rir ou chorar.

Sentiu um aperto gelado e falta de ar. Até tirou os olhos do grupo e se pôs a olhar para o chão confuso com o que estava acontecendo consigo, e com a fraqueza a lhe abater acabou escorando na parede atrás de si.

- Cê tá bem? - Uma das colegas lhe perguntou com um sorriso de empatia, não pôde deixar de notar algo errado.

- Hã? É, eu tô! - Mentiu, e muito mal. Proferiu essa falácia com o sorriso acanhado e com a voz esmaecida - Eu só... Já volto...! - Se apressou a fugir da atenção que estava recebendo, diretamente para a varanda solitária naquela festa.

A noite estava nublada, gelada, em ventania. Diferente do clima dentro da casa que parecia ferver de tão abafado por causa do acúmulo de gente, luzes e sons irritantes.

Trombou contra a mureta daquela varanda, apoiando-se sobre ela. Ao depositar o próprio peso era nítido os seus braços chacoalharem em colapso, e suas pernas estavam na mesma situação, sem conseguir sustentar o próprio corpo. Mas lá, longe dos demais, saciou o anseio por ofegar.

Seus pulmões estavam, por algum motivo, amargamente vazios. Respirou muito forte e não parecia ser o suficiente. Aumentou a carga e a velocidade a ponto de ficar insustentável. Passou a parecer soluços indomáveis e acelerados, estava hiperventilando. Ao mesmo tempo seu coração parecia querer sair pela boca de tão estrondosamente que batia, seu peito ardia de dor, a cabeça latejava, sua roupa encharcada de tanto a suar, e se pudesse ver seu rosto nessa hora, certamente veria a palidez gritante, que foi o que aquela colega viu.

Tudo isso levou a ter a visão turva e sentir seu rosto e suas mãos formigarem. Aos poucos fora de si, banhado naquele desespero repentino e inexplicável, e seu consciente se ofuscava, fazendo as rédeas de si mesmo caírem de suas mãos. A sensação iminente de que estava morrendo fez se entregar a ganir de agonia freneticamente.

É algo difícil de descrever com precisão, pois é um turbilhão impreciso, tão intenso que chega a ser abstrato. A perda de controle é esquisita e só é percebida quando se retoma. Foi o que aconteceu.

- (...) Ei! Olha pra mim! Respira comigo... - Sua amiga lhe dizia, e parecia que ela já estava falando bem mais que isso, mas foi o que começou a ouvir.

Foi aí que seu controle voltou, quando ela adquiriu a atenção em seus olhos, se pegou mimetizando as respirações bem longas dela. Uma bela tontura e exaustão o dominam de alívio, pois o coração agora estava voltando ao normal, enquanto revisava o que aconteceu agora pouco.

Se viu sentado no chão recostados naquela mureta, ela segurando seu rosto para que se mantenham encarando, agachada a sua frente com aquelas instruções, pois sem que notasse lhe havia seguido até a varanda, nada convencida do que havia dito lá dentro, e foi ela que o puxou pelos braços e fez ambos se sentarem lá a fim de deter este ataque. Tinha chamado sua atenção bem mais vezes antes de ter sucesso e convidar a respirar direito. Se viu também segurando o pulso dela com força e a soltou de imediato temendo estar machucando.

- Foi mal... E-eu... - Gaguejou fraco e envergonhado - Eu não sei o que foi isso...

A vontade de chorar, sem rir dessa vez, retorna muito forte.

- Tá tudo bem - Ela lhe responde com ternura, e lhe dá um abraço, afaga seu cabelo lhe trazendo segurança e tranquilidade - Você tem andado tão triste... Eu não fazia ideia...

Aquelas palavras impactam, desencadeiam as lágrimas presas que escorrem livremente, umedecendo aqueles ombros delicados que lhe oferecem morada para essa cabeça à muito tempo pesada. É, ela está certa... Andava triste demais e ansioso também, até para sair e curtir.

Ela não liga de se banhar com as lágrimas de seu colega, e acredita que talvez seja melhor aqueles sentimentos difíceis transbordarem para reduzirem. Fazia um tempo que não se viam e não achavam que a socialização faria tão mal a ele. Só tentou imaginar quão severa era sua infelicidade para preferir afastar-se de tudo o que gosta e todos a quem ama.

Deve ser por isso que teve tal crise, e por isso se permite desabar naquele abraço.


Fim.

Entre Rir & ChorarOnde histórias criam vida. Descubra agora