X - O Teto e Eu

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Querido teto;

Encontro-me olhando para ti agora, pois foi na busca de novas perspectivas que pensei no literal. Em vislumbrar-te. Indaguei a mim o que me faltaria, o que me prende, o que me acumula... O que me estagna.

Depois de enjoar de todas as direções, me pego aqui em solitude, meu olhar baixo como de costume, experimento o frio do chão, o piso ao qual só as solas dos sapatos deveriam conhecer melhor. Como cheguei a essa conclusão? Não sei bem, só veio a mim algo como "hm, e se eu desfalecer? O que eu veria?", enfim eu viria a ti.

Curioso em saber como cheguei a romantizar minha queda? Eu também, na verdade. Ando tão... Sei lá... Explicar é difícil quando todas as palavras que conheço não completam o que se passa. Nem as poesias nem os devaneios expressam meu ser. A arte é uma tentativa inútil hoje.

Este chão ao qual me encontro, ao qual me cedo, me gela as costas, em doi a cabeça, me desconforta, mas não tanto quanto eu já não sinto faz um tempo.

Me deparo com essa visão diferente, peculiar, imaginando as pessoas a zelar, o vexame que eu passaria por não me cuidar. A fofoca que eu seria, e a entrevista a incomodar. E se ao invés de meramente desacordar, se eu chegasse de fato a cessar minha vida? Se tu for a última visão que terei? Teus olhos de lâmpadas a me guiar para a luz. O que depois disso me importaria?

Não são bem essas as perguntas que quero fazer de fato. Eu quero mesmo é saber como sempre me submeto a pensamentos tão estranhos. Como escolho a, do nada, me deitar onde não se deve? Como a sabotagem me parece tão atrativa? Como de relance eu simplesmente te humanizo, teto? E o melhor ainda... Como é que eu sou responsável por tua resposta?

Atenciosamente. Eu.

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Meu caro ou minha cara Eu;

Aqui é o teto. Só pra deixar registrado, pôs tua despedida com nome Eu, e me dificulta saber quem de fato é você de verdade.

Não posso ver, não posso pensar, mesmo estando por cima das pessoas sempre estou abaixo do céu. Também chove em mim as vezes então acho que posso dizer que entendo. Mas, como me disse, não há como simpatizar totalmente se nem ao menos consegue expressar o que sente em sua completude. Aqui vai, porém, um conselho que espero ser mais útil do que sua arte.

A saída para essas perguntas não é encontrar suas respostas em portas laterais, não é escancarando o crânio no chão, não é olhando o mundo uma última vez, não é ouvindo conselhos abstratos. A dica está no mesmo caminho ao qual as perguntas percorrem, no que te leva por entre tuas trilhas, no que usas para tocar tua realidade.

Agora eu que te pergunto, como pode conhecer tanto da vida e ao mesmo não participar dela? O que coisas inanimadas têm a oferecer? Não se prive de provar o improvável! Derreta-se, solidifique-se! Mas faça o que fizer, não queria mimetizar os inanimados.

Não priva-se de se mover...

Atenciosamente. Teto.

Entre Rir & ChorarOnde histórias criam vida. Descubra agora