XII - Fui expulso do bar

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O bartender me perguntou o que eu vou querer esta noite.

Eu inocentemente lhe respondi.

Me vê uma cerveja… Não, não!... Algo mais forte… Me vê uma vodka… Ou melhor, um whiskey… Quem sabe uma cachaça…

Não, desculpa! Me vê algo mais palpável! Algo pra comer, pois acho que hoje estou vazio demais… me vê uma boa porção!

Ah, perdão minha indecisão, não é nada disso que quero esta noite…

Me vê uma certeza do que eu possa querer… me vê uma solução… me vê uma opinião…

Me vê um copo de gelo puro… Para eu pôr atrás da nuca… Pra ver se ainda tenho nervos…

Me vê talvez um martelo para meus dedos, pra ver se ainda resisto, se ainda sinto dor….

Aproveite o álcool em sua prateleira e ateie fogo com ele… Quero saber se assim ainda sinto algo…

Me vê então um canivete, algo com lâmina, para que eu possa sangrar, para ver se ainda há sangue aqui dentro…

Me vê seu desinfetante, para limpar minha língua, e lavar-me de dentro pra fora…

Me vê um soco bem dado, aqui no queixo! Você sabe dar um soco, não sabe?... Me vê se aperta meu pescoço com força, quero saber se ainda tenho pulmões…

Me vê, quem sabe, a solidão… Me deixa aqui, não faça seu barulho, me deixe no escuro… Quero que o mundo pare de girar.

Me vê aqueles fios desencapados alí, me desfibrila, faz favor… Me cozinha de dentro pra fora… É o que mereço…

Me liberte daqui, me empurre do prédio mais alto que o senhor conhecer… Quero ver o chão se aproximar violentamente de mim.

Me deixe berrar um pouco, só até minhas cordas vocais estourarem… Só até não ter mais aquela voz que já ninguém ouve mesmo…

Me transmute, cansei de ser humano, cansei de ser vivo… Me torne uma pedra, me torne o vento, me torne o vácuo…

Ah… Quer saber?... Só me vê uma cerveja mesmo… Com o resto me viro…

Fui expulso.

Entre Rir & ChorarOnde histórias criam vida. Descubra agora