capítulo 06

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Simone estava sentada no sofá, assistindo à televisão, um documentário qualquer sobre animais oceânicos, comia alguns biscoitos enquanto esperava Eduardo chegar do trabalho, e não demorou muito para o homem chegar. Ele livrou dos tênis e se aproximou dela, lhe deu um beijo na bochecha e se sentou ao seu lado.

- Oi amor, como foi seu dia?- perguntou ele pegando um dos biscoitos do pote da mulher.

- Normal meu amor! respondeu ela, sem muita vontade de conversar. Não havia nada mesmo que ela pudesse dizer a ele.

- O que acha de termos uma noite especial?- propôs ele, acariciando o braço de Simone, que o reprimiu por ainda estar machucado, a mulher estranhamente se afastou um pouco, sentindo-se desconfortável.

- Não sei amor, estou cansada e não estou muito no clima agora... - Ela deixou o homem de lado encarando a televisão.

- Vamos lá Simone, não vamos deixar essa oportunidade escapar. Você sabe que eu te amo e quero estar perto de você... Em todos os sentidos... -ele tentou persuadi-la, que suspirou reprimindo mais seus ombros e se encolhendo no sofá. Simone suspirou e pensou em como gostaria de simplesmente dormir, um pouco de paz.

- Eu não sei... - Disse mais uma vez, colocando o pote de biscoitos sobre a mesinha a frente do sofá.

Seu marido a abraçou por trás, roçando o nariz no pescoço dela. Simone sentiu arrepios, mas ainda assim, não se sentia à vontade com a ideia, apenas queria mantê-lo longe. "Ele vai acabar me deixando... ou vai procurar outra mulher..." pensou.

- Pode ser rápido, só pra relaxar. Vamos amor.- falou ele, agora com a voz ofegante.

Simone se levantou, deixando o cobertor no sofá, seu coração batia de forma acelerada. Ela olhou para o marido e viu em seu rosto a expectativa de uma noite prazerosa. Com a consciência pesada, acabou cedendo.

- Tá bom vida, vamos para o quarto... - respondeu ela, sentindo um nó no estômago.

Eles seguiram para o quarto, e ele a deitou na cama com um cuidado que a morena não via e nem sentia a muito tempo. Simone fechou os olhos e tentou encontrar algum prazer no momento, mas só queria que acabasse logo.

Ele começou a beijar seu pescoço e descendo para os seios. Simone tentava corresponder às investidas, mas estava mais concentrada em fingir prazer.

- Isso amor, continua... - disse ela, fingindo um gemido.

O marido tira a blusa de Simone, e ela se sente exposta e vulnerável. Mas ele não percebe o desconforto dela e segue aos beijos. Simone tenta se acalmar e se concentrar nas sensações, mas nada parecia funcionar.

Ela tenta se livrar daquele clima mal resolvido, então simula um orgasmo. O marido, satisfeito, se deita ao seu lado e a abraça, sem saber que Simone estava sentindo o pior sentimento de todos, que é a culpa.

Ele adormeceu, e ela apenas tentava fechar os olhos mas não conseguia. Não se sentia segura ao lado do próprio marido, a única sensação que a inundava era o medo.

Usada e descartada,
como um objeto sem valor,
a sensação é amarga,
e traz uma dor sem fim.

[...]

Os dias seguidos foram uma tortura para Simone, que sentia o marido mais longe do que antes. Ele quase não ficava em casa, e quando voltava era madrugada e ela estava dormindo (sobre efeito de remédios).

- Eu não aguento mais, Eduardo! - Ela falou com a voz embargada pelo choro. - Simplesmente não me sinto mais amada por você. É como se eu fosse invisível para você.

- Não começa com isso de novo, Simone. Eu trabalho duro o dia todo para trazer dinheiro para casa. Não é fácil cuidar de tudo e ainda te dar toda a atenção que você espera. - Ele se aconchegou no sofá.

- Mas não é só isso, Eduardo. Quando você chega em casa, prefere ficar assistindo TV ou mexendo no celular do que conversar comigo. Nem mesmo um 'oi' você diz direito. - Ela apontou para a televisão que ele já ia ligar. - E eu duvido que você trabalhe até de madrugada!

- Eu não vou aceitar que me culpe por tudo, Simone. Você sabe que eu te amo, mas tem dias que as coisas são complicadas.

- Eu não quero te culpar, só quero que você me entenda e que tente fazer um esforço. Precisamos conversar, estou me sentindo abandonada. - Ela passou a mão no rosto jogando os cabelos para trás dos ombros e cruzou os braços em seguida.

- Como você pode dizer isso? Eu sempre estou aqui quando você precisa!

- Na verdade, não está. Você NUNCA está! - ela acabou gritando as últimas palavras. - E está me machucando muito. Eu sinto que você não leva mais em conta o que eu sinto, e isso me faz sentir muito mal.

- E o que você quer que eu faça, Simone? Eu já estou fazendo o que posso. - Ela gesticulou com as mãos já irritado se levantando do sofá.

- Eu só queria que você me desse mais atenção. Parece que você não nota mais quando eu preciso de você ou de um abraço. - Ela estava sendo sincera e honesta, deixava as lágrimas descerem por seus olhos.

- Ah, chega! Já não sei mais o que fazer para agradar você. Sempre tem alguma coisa errada! - Ele gritou. - Para de chorar, Simone. Você sabe que não gosto desse drama. - Ele puxou o braço dela, balançando um pouco seu corpo.

- Eu não consigo, Eduardo. Isso esta me matando. - O olhar do homem era ameaçador, e fazia Simone tremer e sentir medo. Ele segurou seus braços a puxando para perto de si, e uma de suas mãos parou na nuca dela a forçando a olhar para ele.

- Eu não quero ouvir mais nada sobre isso. Se você falar para alguém sobre isso, eu te mato. Você não pode sair por aí me difamando. Você prometeu ficar comigo na alegria e na tristeza. - Ele apertou mais ainda o pescoço dela, que sentia a dor.

- Eu não estou difamando você, só quero conversar. Me escuta, por favor. Você está me machucando! - ela tentou soltar o braço do homem de sua nuca, mas ele apenas apertou mais.

- Não, não quero ouvir mais nada. Eu já disse que não fale para ninguém, se não... - ela já estava a deixando assustada e sem saber o que fazer.

- Já entendi! Me solta por favor... - Em soluços ela disse, o homem então a soltou empurrando ela contra o sofá. E saiu da presença da mulher que chorava copiosamente, ela abraçou uma das almofadas enquanto tentava respirar normalmente.

Seus soluços cortavam o silêncio absurdo que a cada tinha ficada, minutos depois só se conseguiu ouvir o barulho da porta da frente sendo aberta e trancada logo em seguida. Ela se levantou cambaleando sentindo a ardência na nuca, foi até o congelador pegando uma pedra de gelo para colocar sobre o local que doía.

"Ele me ama...?"




Continua...

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29 de AbrilOnde histórias criam vida. Descubra agora