Capitulo Sete - Tudo o que eu (não) esperava.

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Enquanto as horas se arrastavam, eu permanecia inquieto, aguardando ansiosamente pela chegada do Mário. Cada batida do relógio ecoava no quarto silencioso, aumentando a tensão que pairava no ar. Os ponteiros pareciam se mover em câmera lenta, como se o tempo estivesse brincando com minha paciência já desgastada.

Olhava pela janela constantemente, buscando desesperadamente qualquer sinal de sua aproximação. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados, mas eu mal conseguia apreciar a beleza do momento.

Levantei-me da cama com um suspiro resignado. Não poderia mais ficar parado, esperando por algo que talvez nunca viesse. Atravessei o cômodo e me dirigi à varanda, onde havia deixado algumas sementes sobre a mesa. Precisava manter minha mente ocupada, mesmo que fosse por um breve momento.

Após organizar todas as sementes, plantá-las e etiquetar cada uma delas para que eu não me esqueça onde eu as plantei, decidi que não poderia mais esperar passivamente. Tomei uma rápida decisão e caminhei em direção ao banheiro, determinado a me recompor antes de seguir em frente.

A água morna do chuveiro caía sobre meu corpo tenso, como se tentasse lavar não apenas a sujeira física, mas também as preocupações que me assaltavam.
Ao sair, me deparo com o Sérgio sentado no sofá com uma cerveja na mão, me oferece uma e eu aceito - curioso como aqui em Cardedeu é normal o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade. Sentamos e trocamos algumas frases enquanto ele se preparava para tomar banho e ir dormir.

Hoje eu não cozinhei, então não tem janta em casa. Sérgio quase nunca come aqui, geralmente ele passa por um café e come por lá com seus amigos, e vi que isso também é uma tradição daqui. Conversamos sobre o dia, sobre seu trabalho, política e tudo mais de genérico que podíamos falar, já estou acostumando-me com a falta de profundidade em nossa relação. Ele se levanta logo em seguida e já se despede dizendo que após o banho vai dormir, me deseja boa noite e desaparece.

Desligo a televisão e vou para minha varanda, pego meu Kindle e busco algo para ler enquanto espero o Mário - ele me disse que nos veríamos esta noite, mas não marcamos um horário - olho no relógio e vejo que são as 19:19 e solto um suspiro de insatisfação, odeio estas coisas de horários repetidos e toda a superstição envolvida nisso. Escolho um livro que já havia lido, porém me esqueci completamente, mas para ler sua sequência eu preciso recordar ao menos os nomes dos personagens.

A leitura vai facil e não percebo a hora voar, quando percebo eu já estou no capitulo quatro e já são 20:20 - droga, isso denovo? - balanço a cabeça em negação, limpo meus olhos e fecho a capa do Kindle. Fico por alguns minutos contemplando a rua, a praça e o céu. Por um momento eu me sinto tão confortavel naquela tranquilidade pacata de uma cidade de interior que até me assusto com isso, onde eu imaginaria estar feliz por não ver gente ou não ouvir barulhos incessantes de carros e buzinas e gente gritando e correria. Vejo que a luz do quarto ao lado - o de Mário - está apagada e nenhum sinal de vida está ali, percebo que talvez eu tenha criado muitas expectativas - mais uma vez - sobre as coisas e decido me retirar. 

Me levanto lentamente e faço tudo com muita lentidão para entrar em meu quarto, novamente na expectativa de que durante esse trajeto a luz de seu quarto se acenda e ele apareça ali todo contente, como se nada tivesse acontecido, para que a gente converse até a madrugada virar e o sol nascer. - É assim que acontece nos filmes, não? - Mas isso não acontece, eu confiro mais uma vez e outra vez e percebo que realmente ele não vai aparecer.

Deito em minha cama olhando para o teto na intenção de ficar acordado por algum tempo, ainda esperando o universo fazer sua mágica, enquanto isso começo a olhar todas as milhares de notificações em meu celular, respondi algumas e antes de chegar ao final das notificações eu já estou dormindo.

Aquilo Que Já Partiu Ainda Deixa Marcas (ROMANCE LGBTQIA+)Onde histórias criam vida. Descubra agora