Capitulo Onze - Olhos que falam.

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Eu odeio chegar atrasado em qualquer situação pois eu nao sei lidar com a sensação de que as pessoas estao olhando diretamente para mim e me julgando depois de um atraso de 15 minutos, imagina entao chegar quase duas horas atrasado.

Viramos a esquina e eu vi que a Cay estava la, sentada, com as maos no queixo, com uma cara de tedio, me esperando. Vê-la assim me deu uma pontada no coracao, um sentimento de culpa me envolveu por inteiro e eu me senti a pior pessoa do mundo.
Mesmo depois de todo esse tempo me esperando, quando chegamos de bicicleta e ela me viu, ela se levantou com um enorme sorriso no rosto e saiu correndo para me abraçar, o que concretou a culpa em meu coracao. Eu a fiz esperar por uma eternidade e ela ainda está feliz em me ver?!

- O que aconteceu, guapito? - Ela me pergunta com uma mistura de curiosidade e preocupacao.
- Nada.. ehm. É que... - eu comeco a me explicar, como sempre nervoso na busca da resposta certa.
- A culpa foi minha, moça - Mario me interrompe e da um passo pra frente - Ele estava comigo e eu acabei enrolando ele.
- Ah, tah! - Cay olha para Mario tentando entender o que acontecia.
- Me desculpe pelo ocorrido - Ele continua com uma cara de arrependimento como se fosse realmente culpa dele e em seguida ele se vira para subir na bicicleta.
- Hey, voce! - grita Cay em direcao ao Mario - Já que a culpa é sua que o guapito se atrasou, você tambem vai com a gente pro boliche.

Eu percebo o nariz de Mario torcer - mesmo ele estando de costas - quando a Cay me chamou pela segunda vez de guapito. Nesse exato momento eu me arrependo de ter ficado calado durante este dialogo de alguns segundos, pois eu realmente começo a duvidar que isso seja uma boa ideia. Sabendo o que eu sinto por eles, eu nao vejo como isso possa acabar bem.

- Nao moça, muito obrigado - ele responde sem sequer olhar para trás - tô voltando pra casa.
- Cayetana - ela diz enquanto segura na garupa da bicicleta de Mario - mas pode me chamar de Cay, e voce? Como se chama?
- Me chamo Mario - responde enquanto olha para o ceu e suspira, ele realmente esta incomodado com a situacao - agora eu posso ir, moça?
- Certeza que você nao quer jogar uma partida com a gente, moço? - responde, largando a sua bicicleta.
- Sim senhora - desta vez ele a olha e evidencia o olhar de desdén.
- Tudo bem então, moço. Foi um prazer te conhecer! - vira de costas e me agarra pelo braço - Vamos jogar guapito. E voce vai ter que me explicar direitinho porque voce se atrasou, ein.
- Ehh, ta bom. hehe - respondo sem graça. Enquanto ela me arrastava, eu me detive por um segundo e gritei ao Mario - Hey Mario, muito obrigado pela carona!

Ele me responde apenas com um aceno de sua cabeça, entretanto neste momento nossos olhos se encontram e aquela troca de olhares cria um lapso no tempo. Enquanto olhava pra ele, percebo que eu nao queria que ele fosse embora, queria que ele ficasse la, comigo, o restante da noite. Que ele pudesse se divertir comigo um pouco mais e que aquele dia nao acabasse, mas reconheco que isso seria muito egoismo meu força-lo a estar em um ambiente em que ele nao quer estar. O devaneio passa e nós dois percebemos que aquela conversa apenas com os olhares durou um pouco mais de que uns segundos.

Vejo seu rosto ruborizar e em seguida ele vira de costas para ir embora, deu dois passos e levantou a mao dando tchau, quase como se instintivamente ele soubesse que eu ainda estava olhando para ele. Sorrio e me deixo levar pela Cay que me arrastava insistentemente pelo caminho. Decido me permitir viver esse momento e me divertir ao maximo.

- Vem guapito, me conta seu dia, o que aconteceu - Cay segue empolgada. É impressionante sua habilidade de simplesmente ver a vida de uma maneira positiva e bem humorada.

Conto a ela como foi meu dia e tudo - quase tudo - o que aconteceu. Quando comecei a contar, fiquei com receio de contar algumas das partes do dia, como se eu estive com medo de que ela não gostasse das partes mais intimas com o Mario. Entramos no boliche, passamos pela recepção, escolhemos nossos sapatos para jogar e seguimos para a pista indicada pelo recepcionista.

Aquilo Que Já Partiu Ainda Deixa Marcas (ROMANCE LGBTQIA+)Onde histórias criam vida. Descubra agora