Aquilo Que Já Partiu Ainda Deixa Marcas (ROMANCE LGBTQIA+)

Capitulo Treze - Achados e perdidos.

O amanhecer sempre traz uma nova esperança, o sol entrando pela fresta na janela do quarto de Mario foi o suficiente para me despertar de maneira suave e gentil. Ainda com os olhos fechados, começo a tatear a cama e percebo que estou sozinho.
Não é a primeira vez que eu acordo aqui e na realidade eu já estou me acostumando com essa realidade, porém espero que os pais de Mário não se incomodem com isso.

Fui, pouco a pouco, recobrando consciência do dia anterior e do que aconteceu. Mais uma vez eu tive que reconstruir tudo o que eu fiz, o que eu deixei de fazer e forçando-me a digerir o fato de que mais uma vez eu ferrei com tudo.
Meu primeiro impulso foi alcançar meu celular e enviar uma mensagem a Cay mas, reconsidero ao abrir sua aba de conversa e ver que sua foto de perfil havia desaparecido - fui bloqueado. Me jogo novamente na cama e tento me afundar no travesseiro - como se houvesse uma maneira de desaparecer dentro dele, o que infelizmente não é possível.
Sinto o melhor cheiro do mundo pairando pelo ar: café. Isso me dá uma pitada de energia. Começo a me arrastar para fora da cama, calço o primeiro chinelo que encontro à minha frente e, como um zombie, saio à procura de comida. Não tenho coragem de olhar ao espelho, pois já espero encontrar um daqueles personagens do clipe Triller de Michael Jackson.

Sigo pelo corredor completamente sem forças para levantar a perna e finalmente consigo chegar a cozinha, onde ali na mesa se encontrava um pedaço do paraíso - ou nas circunstâncias em que eu me encontrava: Café da manhã. Haviam dois bowls, uma caixa de cereais - corn flakes açucarados -, leite, panquecas e mel. Sem cerimônias, devoro como se fosse meu último ato. Talvez seja, dado o meu estado. Eu acredito que eu nunca comi uma comida tao gostosa como aquela - ou eu simplesmente estava realmente morrendo de fome a ponto de devorar até a toalha de mesa.

- Bom dia, hahaha - Mário, inesperadamente, me abraça por trás, interrompendo meu banquete frenético. - Ia te acordar agora para saber se tinha fome, mas pelo visto você foi mais rápido.
- Hehehe, sim. - respondo sentindo o calor da vergonha em meu rosto - Senti o cheiro incrível do teu café e não consegui resistir.
- Eu sei que é difícil resistir a mim e às coisas que eu faço - Seu charme prepotente não me irrita; na verdade, ele o usa com maestria.
- E havia alguma dúvida? - entro em seu jogo e dou-lhe um beijo.

Ele reage com um pequeno susto, porém logo retribui o beijo com mais paixão do que a que eu havia empregado. Neste momento, consigo relaxar um pouco e me esqueço um pouco do que aconteceu ontem ou das consequências que eu tenho que lidar.

Seguimos com o café da manhã; logo em seguida, ele se levantou para se arrumar, pois ainda tinha que ir trabalhar. Eu fico um pouquinho mais, disfrutando daquele momento de paz, mas logo percebo que tenho que encarar a minha realidade e decido levantar-me e ir para casa, me despeço de Mário, dou-lhe um beijo e volto para a minha casa, na intenção de encontrar respostas de o que eu deveria fazer a seguir.

Como o meu ritual para recobrar minha paz interior, tomo um banho a trezentos e não sei quantos graus para ver se as merdas que eu fiz se dissipam com a temperatura da água. Ouço barulhos vindos da cozinha e fico me perguntando quem está em casa a essa hora.

Após o banho de quase uma hora, visto uma roupa limpa e crio coragem para me encarar no espelho, vejo os olhos inchados de tanto chorar na noite anterior, mas estão melhores do que eu imaginei. Vou em direção a cozinha para fazer um café para mim e me deparo com a dona Peña - ou melhor, abuela - servindo uma caneca cheia de café e me entregando.

- Hola, cariño - como sempre, me cumprimenta com um sorriso enorme no rosto - Já faz um bom tempo que nao nos vemos, você sempre está correndo.
- Hola, Abuela - retribuo toda a sua gentileza e dou um gole no café - muito obrigado pelo café, até parece que a senhora advinha quando eu preciso de um café fresco ou de uma boa conversa.
- Essas são as habilidades de uma boa abuela. - segue falando enquanto organiza as coisas da cozinha - te vejo um pouco triste hoje, o que está acontecendo com você, cariño?