Capítulo XI - Um Mundo Paralelo (pt. 1)

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Acordou, deitado numa cama de folhas, numa outra caverna. Era menor do que a anterior. Conseguiu mexer a cabeça, embora o corpo todo estava dolorido, sobretudo, o peito. Vi uma fogueira acesa, e alguém se mexendo:

- MANO, acordaste? Até que enfim!!! Que bom, CARALHOOO!!! - disse o Nilo eufórico, que largou as coisas que tinha na mão, e veio lhe acudir. Aquele sorriso típico dele, que diz: "Tudo vai ficar bem", estava novamente no seu rosto.

- Como... Como... é que ...conseguiste... sobreviver?! - falou pausadamente com sérias dificuldades.

- Foi a Flora, mano! Me deu um antídoto qualquer, acordei e vi-te no chão cheio de sangue... Eu fui ajudar-te e quis levar-te para o hospital mas ela ficou ali paralisada. De repente, tu levitaste e caíste no rio. Ela disse para mergulhamos também, e foi o que fizemos.
Apanhamos uma corrente marítima que nos trouxe até esta lagoa aqui. Mano, a Flora é mesmo boa nisso. Cozeu a tua ferida e arranjou-nos comida e abrigo. Eu também ajudei, claro!
Tentei me levantar, e fiquei sentado na cama de folhas.

- Onde... está ela? - perguntou o Eron, quando até me custava respirar.

- ERON... ERON - disse a Flora, que apareceu de repente, correu e veio me abraçar e começou a chorar.

- Cuidado, Flora! Ele ainda não está bem! - disse o Nilo.

- Oh, desculpa! - disse ela, entre prantos.

- Nunca... mais... duvido... da tua... palavra! - disse o Eron para a Flora, naquele abraço apertado, que chegava a doer.

- Assim vais rebentar os pontos do rapaz! - disse o Nilo.

Ficamos olhando um no olho do outro, até o Nilo interromper:

- É simplesmente incrível, a história que ela me contou... Tive bastante dificuldade em acreditar que era real quanto mais, que seria a história dela mas depois de tudo que aconteceu e tudo que vi, faz sentido.
Ela me contou as coisas que fiz, sem saber e vi ela fazendo árvores crescer rapidamente para tapar a entrada desta caverna. Se fosse em São Tomé, já iam lhe chamar de 'bruxa' ou 'demónio' e eu ia acreditar, até ver o que a mãe dela fez contigo. Aquela mulher é o capeta.

O Nilo, era sempre assim, não conseguia ficar sem falar, mesmo em momentos inapropriados. Mas, estava tão feliz que estava alí conosco, inteiro e continua o mesmo de sempre.

- É um verdadeiro milagre tu estares vivo! - disse a Flora, depois de ter limpado o rosto - Eu... Nós pensamos que tivessemos perdido.
- Concordo com a Flora...Tem acontecido muito coisa estranha. Nos pregaste um susto do caralho, mano! E, debaixo de água, começaste a afundar e de repente nadaste em direção a corrente marítima. Parecias possuído, porque não tinhas forças para andar, quanto mais.

Ela olhou para o Nilo, e depois para mim e disse:

- Acho que ele tem razão. Muitas coisas estranhas, até para mim. Eu tentei encontrar algum hospital ou cidade, por dias, e não encontrei nada. Acho que já não estamos em São Tomé e Príncipe. Aliás, acho que não estamos, sequer no nosso mundo. Encontrei espécies de plantas dadas como extintas.
- O que é que estás para aí dizer? - disse o Nilo - Já não estamos em São Tomé e Principe?
- É só um palpite, Nilo.
- E, quando me ias dizer isso?
- Quando tivesse certeza! Olha eu viajei bastante pelo mundo mas este lugar parece uma enorme floresta amazônica. Eu usei a Transbiose - teletransportação biológica...

Ficamos olhando para ela com ar de parvos, ela percebeu:

- Aquela magia que dá para nos transportar dá irmos de um lugar para outro usando árvores mas com mesmas características, tipo expessura. Se árvore for mais estreita, a Transbiose fica mais difícil. Têm de ter mais ou menos o mesmo tamanho de caule. Eu fui em busca do Quimby no Médio Oriente porque aquela megera, que vocês tiveram a infelicidade de conhecer, disse-me que o eliminou... E não encontrei nada por lá. Todas as cidades desapareceram.

- Aquela criatura era a tua mãe?! Parece surreal - disse o Nilo - Com uma mãe assim que precisa de inimigos.

- Tenho muito preocupada com o John! Ele nunca demorou tanto a me responder até ontem. Mandava-me sempre faxes me informando sobre ele. Eu temo que a Jordana realmente tinha dito a verdade sobre o John... Agora sei que é tarde demais porque estamaos noutro! - disse a Flora se afastando, parecia que procurava por alguma coisa.
Enquanto isso, eu e o Nilo ficamos sozinhos de novo.

- Mano, é realmente bom te ver... - pausou, e refletidanente, continuou: - Quero te pedir desculpas, pela briga na escola e outras esquisitices que fiz.
- Maluco... Não tem mal... nenhum - disse.

Ele abraçou-o também, se armou em forte, limpou a lágrima no rosto e disse:

-Já tinha saudades tuas, molenga!

Eron fez-lhe um sinal, queria muito se levantar dali e sair correndo. Era um mundo novo cheio de possíveis aventuras e ele estava de cama.

- Nilo... ajuda-me... a levantar... por... favor! - pedi ao Nilo.
Ele olhou para ver se a Flora não vinha. Hesitou, no princípio mas decidiu ajudar, finalmente.
- Hmmm... Olha, que se tu morres a Flora mata-me!

Riram-se os dois, até a Flora, aparecer dramaticamente:

- Onde é que vocês pensam que vão? Ele precisa de descansar para recuperar! Nilo, seu irresponsável!

- Vês?! Eu disse-te! Agora, sou eu o culpado! Flora, ele quer ir lá fora.

Vamos só ao lago e voltamos. O desgraçado já esteve dormindo por 5 ou 6 dias.

- Ele foi atingido no coração...

- Você também - disse baixinho o Nilo.

- O que é que você disse!? - respondeu a Flora

- Nada! Nada! Tem calma, Flora! A gente já volta!

- Fui eu quem o pedi... para me... ajudar! Se... realmente... estamos num mundo novo... eu quero... começar a explorar agora... Eu ia morrendo... sem ter vivido nada para contar...

- Okay, eu já vou vos encontro. Preciso encontrar o Quimby!!

Ela ficou reflexiva, mas aceitou a minha atitude rebelde. Apoiou-see no Nilo e foram conversando:

- Gostei da tua atitude, mano! Vamos ter de ser fortes, se quisermos sair daqui.

Andaram pela floresta, aindacustava-o muito caminhar sozinho, mas com o apoio do Nilo e as suas piadas, não viram tempo passar. Caminharam até chegarem no lago, que não ficava muito distante. Sentaram-se de frente ao lago, e o Nilo ia atirando pedras:

- Mano, a Flora tem toda a razão: o que aconteceu contigo foi mesmo um milagre! Ela andava super preocupada contigo. Muito mesmo! Posso perguntar uma coisa?

- Uai, pode... desgraça! - respondeu o Eron, sorrindo.

- Vocês estão namorando, né?

Fiquei pensativo. Pensei naqueles momentos mais íntimos com ela e o Nilo, logo, percebeu:

- Aconteceu alguma coisa, não foi?
- Eu não sei o que está passando... Nós não falamos sobre isso. Só sei que aconteceu!

- Meu garoto! Deu para ver o jeito que ela dormia sempre ao pé de ti! - falou, sorrindo - Pelo menos, a minha bosta serviu para aproximar vocês. Até assim na merda, sou cupido.

Riram juntos,o Eron riu tanto que o meu peito doeu de novo. Já me tinha esquecido das dores. Era tão bom ter o meu amigo doido de volta e ao pé de mim, mesmo que fosse num mundo totalmente desconhecido.
Algo se mexeu entre as árvores, eu e o Nilo sobressaltamos:

- QUEM ESTÁ AÍ? - gritou o Nilo.

Foram uns segundos de silencio, seguidos de passos vindos na nossa direção. Um enorme tigre surge do meio da floresta, e avança sobre nós. O Nilo correu, mas logo que estava em dificuldades agarrou numas pedras, para encarar o bicho. Mesmo assim, as nossas hipóteses de sobrevivência eram mínimas. Até que uma flecha veio do meio da floresta e acertou na fera, que depois de ferida, começou a coxear.

Viram cerca de quinze indivíduos, que pareciam guerreiros tribais, fazendo barulhos dos mais variados, como gritos de guerra, aproximando de nós, a correr. Era aquilo algum sonho? Olhamos um para o outro, assustados; fomos cercados e de repente, sentiu uma picadela no pescoço, e sono pesado. E, mais uma vez, vi o Nilo desmaiando e agora era a vez. De novo, estava prestes a perder os sentidos e disse, desfalecendo:

- Foda-se... Outra vez nãooo!!

CRÓNICAS DA BAOBALIA: O MISTÉRIO DO ECLIPSEOnde histórias criam vida. Descubra agora