16. disappeared

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A cidade carioca amanhecia caótica mais uma vez. Eram oito da manhã e no jornal local era noticiado a apreensão de uma enorme quantidade de drogas, armamentos, alguns integrantes da quadrilha mas nenhuma notícia sobre a prisão do chefão.

A operação era chamada de carro forte. E o nome por trás de todo aquele plano para derrubar a organização era dela, Heloísa Sampaio.

O último dia de descanso da delegada foi a festa na casa de Guida, duas semanas atrás. Nos dias subsequentes a delegacia tinha virado uma feijoada.

Muitas das favelas cariocas estavam pacificadas, porém, algumas ainda precisavam de atenção dobrada pelo o fato da polícia estar lá dentro não significava que a criminalidade havia sido findada, pelo contrário, a corrupção era grande em algumas das situações.

Heloísa investigava uma organização grande localizada na favela da Maré, zona norte do Rio. Já estava de olho na situação fazia bastante tempo, mas depois de uns sequestros de civis e homicídios na favela, passou a dedicar mais sua atenção.

Reuniu todo o material que tinha sobre a quadrilha, o nome do chefe era Marajá e o braço direito do homem chamava - se Sabiá, o sujeito era caçado pela polícia a nível Brasil, tratava-se de um policial corrupto e isso abominava mais ainda toda a situação.

A operação havia sido um sucesso, nem tanto para Helô, o chefe tinha conseguido deixar a comunidade e ela só conseguiu prender alguns capangas e Sabiá. Estavam todos na delegacia a espera de um interrogatório que ela mesmo faria, com todo prazer.

– Yone, despacha esses jornalistas porque eu só vou falar com eles depois. - ela disse tirando o colete e se acomodando na cadeira. – Preciso de um café.

– Pode deixar, doutora. O Barros já despachou todo mundo. – foi interrompida pelo celular. – É o doutor Stênio. - Yone disse estendendo o telefone da chefe.

Helô pegou o telefone enquanto Yone deixava a sala.

– Oi, Stênio. Fala! – Ela disse terminando de colocar o café na xícara.

– Graças a Deus, Helô! Cê tá bem? - o advogado disse do outro lado agoniado.

Ouvi-la do outro lado da linha fez o coração de Stênio querer pular para fora do peito.

– Tá, tá tudo bem sim. E aí? – ela disse ja sentada na cadeira novamente com a cabeça encostada no descnaso.

– Tá tudo bem, eu passei aqui pra buscar a Júlia e ajudar a Creusa, ela tá mais nervosa do que não sei o que...

– Creusa não muda nunca. E a Júlia tá bem mesmo? Não mente pra mim - ela perguntou preocupada por estar ausente nos últimos dias.

– Tá sim, meu bem. Pode ficar tranquila. Tá todo mundo com saudade de você. - ele disse meio melancólico.

– Stênio, eu tô do outro lado da cidade, para de drama, pelo amor! - ela disse passando mal com o drama do namorado. - Mas, eu também tô com saudade. - Helô disse amolecendo. – Da um beijo na minha filhota e obrigada. Por tudo! - ela disse debruçada na mesa com a cabeça descansando em seu braço.

– Não precisa agradecer. Tô com você pra tudo, meu amor. - ele disse percebendo um sorriso do outro lado. - Vai Donelô, pega eles tudo. E volta logo pra casa! - O advogado brincou arrancando uma risada de Helô.

Eles se despediram e ela sorriu novamente com a frase dele na cabeça: “To com você pra tudo, meu amor!”

A felicidade que ele causava nela era coisa de outro mundo, escuta-lo a deixou mais tranquila para encarar mais algumas horas de trabalho. Sabia que a filha estava bem e isso era o suficiente.

– Yonee!!! Trás o primeiro indivíduo. - ela gritou na porta da sua sala.

Heloísa passou horas interregoando o braço direito do chefe da quadrilha. Sabiá era mais fiel que um cachorro.

– A senhora não sabe onde tá se metendo, doutora. Paizão tem olho em todo lugar, aqui dentro então, puts...- ele riu debochado. – Isso não vai dar em nada.

– Ah, não vai? Tu quer pagar pra ver? - Helô disse já alterada. – Abre o bico que vai ser melhor pra tu, escuta o que eu tô te falando. Cadê o Marajá? Bora! - bateu na mesa.

– Já falei pra tu, não sei! - Sabiá deu de ombros. – Caldeirão vai ferver, inclusive, pro lado da senhora.

– Vamo vê então! - ela disse percebendo a ameaça no tom do homem. – Leva, leva, leva...- Helô gesticulou para tirarem o homem dali.

Sabiá era o primeiro dos cinco que ela tinha capturado.

O dia seria cheio.

***

Stênio chegou em casa mais cedo que o normal, os últimos três dias haviam sido cansativos para o advogado. Heloísa estava ausente e ele não quis deixar Júlia e Creusa a sós no apartamento, passava todas as manhãs para buscar a mais nova e se certificar se a empregada não precisava de alguma coisa. O fato da delegada estar em operação a deixava nervosa e com a repercussão que essa estava tendo, a mais velha que tinha Helô como uma filha, estava mais preocupada que o normal.

No percusso para casa tentou ligar para Helô inúmeras vezes mas o telefone da polical insistia em cair na caixa postal. Ligou para a casa da delegada e não soube nenhuma informação. Optou em ligar para a delegacia, afim de procurar saber como estavam as coisas e se Helô conseguiria voltar hoje.

– Yone. Stênio. Tudo bem? - ele disse chegando no quarto pendurando o blazer.

– Doutor. Tudo bem sim. A Doutora já saiu. - a policial disse adiantando o assunto.

– Ela esqueceu o telefone aí? Porque estou tentando falar com ela faz um tempo e só cai na caixa postal. - ele disse em tom confuso.

– Tem uma hora e meia mais ou menos...- Yone disse específica.

– Estranho. Vou tentar na casa dela novamente. Muito obrigada. - Stênio disse educado.

Yone despediu-se do advogado mas não satisfeita ligou imediatamente no telefone da chefe.

Tentou uma, duas, três e a quarta vez.

Todas Caixa Postal.

Tentou na casa de Helô e a resposta que recebeu de Creusa não foi a que ela esperava.

Heloísa não havia dado as caras por lá também.

Yone pensou, repensou.

“Caldeirão vai ferver, inclusive, pro lado da senhora!”

Bingo.

A policial sem pensar duas vezes correu até a cela de Sabiá.

– Qual era o plano B se algum de vocês fossem pegos? - Yone perguntou batendo na grade de ferro, assustando o homem.

– Que plano B, pequeninha. Tá doida? - ele disse dando de ombros.

– Não acaba com a minha paciência. Fala logo. - a policial disse rangendo os dentes.

– Rá. Entendi! Eu dei o papo não dei? A chefinha não abraçou, agora foi de ralo! - Sabiá debochou.

– Acho melhor você começar abrindo a boca logo, antes que o lance fiquei bem ruim pro seu lado. Bora, vai falando. – a morena tentou arrancar mas não conseguiu nada.

Sabiá não abriu o bico de jeito nenhum. Yone verificou com todos da delegacia para saber algo sobre Heloísa mas ninguém a tinha visto.

A policial recebeu outro telefone de Stênio dizendo que não tinha notícias da delegada. Dessa vez o homem estava mais preocupado do que o normal, como ela não tinha certeza das suas desconfianças ainda preferiu não alarmar nada, só o tranquilizou dizendo que estava verificando tudo direitinho e que entraria em contato com o namorado da chefe assim que tivesse qualquer novidade.

O que Yone havia pensado, estava de fato acontecendo. Não tinha outra explicação.

Pegou o celular novamente, rolou a tela de chamadas e discou o número do delegado adjunto.

Delgado Barros! A Delegada foi levada pela organização. - ela disse com respirando pesado.

one fine day | {steloisa}Onde histórias criam vida. Descubra agora