Mo Ran abriu a boca sem pensar, iria dizer qualquer besteira e ganhar tempo para convencer aqueles dois a ficarem mais um pouco, mas Luo Binghe foi mais rápido:
- Este discípulo pede perdão pela insolência, sênior Shen, mas causamos incômodo e fizemos dois nobres cultivadores viajarem à toa, portanto seria deselegante deixar que partam assim. Este discípulo ousa oferecer uma refeição para os mestres da Montanha Cang Qiong, se shizun estiver de acordo.
Mo Ran quis abraçar Luo Binghe, mas não deixou de notar o olhar prolongado que seu discípulo dispensou para Shen Qingqiu.
- Shizun aprecia a ideia de Binghe, não seria educado deixar dois colegas vagando à toa por essas estradas tão perto do anoitecer.
Apesar de se referir a Shen, os olhos escuros de Mo Ran se concentravam em Chu Wanning. Ele era tão jovem, mas tão estoico e rígido. Suas roupas brancas de discípulo pareciam brilhar de tão limpas, mesmo depois de algumas horas de caminhada por uma estradinha de terra miserável (cuja única marca era uma bainha mais escurecida e um pouco de pó nas botas) e estavam firmemente fechadas até o pescoço. Ele tinha cabelos castanhos muito lisos semi-presos em uma guan simples porém elegante, olhos estreitos e afiados de fênix, sobrancelhas retas e austeras, a boca numa linha fina e tensa. A postura era perfeita, e os punhos, estáticos ao lado do corpo. Havia uma crosta de gelo irradiando de seu olhar, e Mo Ran se pegou pensando em como Chu Wanning pareceria quando esse gelo derretesse e escorresse de seus olhos na forma de lágrimas. Como ficaria essa postura tensa se ele fosse...
Perdi o juízo de vez, ele pensou, cortando o fluxo de imagens que ameaçava invadir seu cérebro. Ele quase não ouviu a resposta de Shen:
- Não desejamos causar transtorno e asseguro que não foi incômodo algum. Fico feliz que o problema na estalagem tenha sido resolvido de maneira satisfatória, apenas.
- Mestre Shen – Mo Ran falou -, permita-nos fazer essa pequena gentileza, já que nós mesmos precisamos jantar. Nós gostamos de andar, mas também podemos voar até o próximo vilarejo, acredito que seja rápido.
Foi sutil, mas a postura de Chu Wanning ficou um pouco mais rígida e sua expressão mostrou um sinal de desconforto. Antes que Shen abrisse a boca para responder, Mo Ran emendou:
- Ou podemos simplesmente acender uma fogueira e fazer a comida aqui, já que nossos planos eram apenas pedir emprestada a cozinha de alguma estalagem. Binghe é um bom caçador e tenho certeza que em pouco tempo pode providenciar algo. Por favor, é o mínimo que podemos fazer.
Mo Ran viu que Shen Qingqiu queria recusar, mas era difícil falar não para aquele combo de sorriso e covinhas.
Luo Binghe também deu um empurrãozinho:
- Sênior Shen, há algo que seja de sua preferência ou que deseje comer? Binghe vai se esforçar para agradá-lo!
- O que o discípulo conseguir pegar está bom – Shen Qingqiu cedeu. – A-Ning, por que não o acompanha? Se trabalharem juntos, podem conseguir uma boa presa e outras coisas para fazer uma refeição.
- Como shizun desejar.
E assim Mo Ran finalmente ouviu a voz de Chu Wanning, o que foi um prazer pequeno e cheio de culpa. Mas ele não era o único que precisava de reprimenda naquele momento.
- Binghe, venha aqui e deixe shizun prender melhor seus cabelos para não atrapalhar a caçada.
- Este discípulo agradece por ter um shizun tão preocupado e paternal.
O sorriso de Luo Binghe era doce, mas o ouvido treinado de Mo Ran reconheceu o cinismo naquela voz.
Quando ele se inclinou para juntar os cachos rebeldes de seu discípulo, sussurrou baixo em seu ouvido para que ninguém mais ouvisse:
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Sobre gatos brancos e seus cães demoníacos | 2ha x SVSSS
FanfictionDuas duplas de shizun e discípulo se encontram numa estrada deserta. Conforme se conhecem melhor ao longo dos meses seguintes, mudanças afloram em todos eles. Shen Qingqiu descobre toda a fascinação que Luo Binghe pode exercer e como é difícil negar...