- Mestre Mo, conte-me por favor, como você fez para criar um discípulo tão bom?
Mo Ran quase engasgou com seu chá. Ele olhou bem para Shen Qingqiu, mas o outro não estava brincando. Sua cabeça vagou para todos os problemas que Luo Binghe causou no Pico Sisheng.
Luo tentava enfiar pessoas no seu quarto. Quando isso provou-se impossível, começou a tentar se enfiar no quarto dos outros. Uma vez, Mo Ran o interceptou na porta de um bordel (Luo argumentaria que Mo Ran apenas o encontrou porque shizun estava saindo do bordel, mas isso era um detalhe na história). Também, Luo tendia a entrar em lutas com os discípulos dos outros anciãos e não sabia – ou não queria – medir a força de seus golpes.
O monstrinho tinha um talento meteórico, mas era um encrenqueiro. Como o próprio Mo Ran.
Mas no Pico Qing Jing, Luo Binghe era só sorrisos e cortesia, o rapaz mais prestativo que aquele lugar já viu, nem uma sombra do adolescente tarado de poucos meses atrás. Claro, ele entrava em lutas frequentes com o pessoal do Pico Bai Zhan, mas o Pico Bai Zhan começava a maioria das disputas e achava que lutar era uma forma válida de educação.
De alguma maneira que Mo Ran não entendia, Shen Qingqiu colocou uma coleira em Luo Binghe. E o pior: o próprio Shen não percebia.
- Ora, mestre Shen, como pode falar isso tendo criado alguém de coração tão puro como A-Ning.
Shen sorriu tristemente.
- Devo dizer que tenho pouca responsabilidade sobre as qualidades de meu discípulo. Quando ele chegou a essa seita, já tinha poder o suficiente para não precisar de mestres, mas nossas regras não permitiriam isso.
Mo Ran franziu a testa, pensando que nunca havia questionado o passado de Chu Wanning. Para ele, parecia óbvio que Wanning seguira a história típica de todo jovem mestre de seita ilustre: havia nascido em família tradicional, crescido com mimos e começado a cultivar jovem em ambiente protegido.
- Mestre Shen se importaria de compartilhar um pouco sobre a história de seu discípulo?
Com um suspiro pesado, Shen Qingqiu retomou:
- Mestre Mo passa bastante tempo com ele, então talvez seja mesmo bom saber. Wanning chegou na Montanha Cang Qiong com 14 anos e muito ferido. Ele antes foi discípulo único de um cultivador muito respeitado, que o criou sozinho. A-Ning nunca falou sobre seus pais, apenas disse que deveríamos considerá-lo sem família. Deu a entender que o próprio nome foi dado por seu shizun anterior. Ele não tem nome de cortesia, sempre foi Chu Wanning e apenas isso. E sobre sua lesão... bem, acredito que tenha sido causada pelo seu shizun e que por isso ele partiu, mas ele não falará sobre o assunto. De qualquer forma, ele é um gênio desde que chegou, aos 15 já conseguiu sua arma espiritual, uma espada temperamental, mas que ele maneja bem. Mas ainda é um garoto, tem dificuldade em lidar com pessoas e se torna distante. Seu coração é bom e cheio de calor, mas seu exterior é congelante.
Essa não era a história que Mo Ran achou que ouviria. Como assim Chu Wanning não tinha família? E que tipo de shizun machucaria um pequeno deus iluminado como Wanning? Seu coração pesou e ele quis mais do nunca abraçar aquele jovem, fornecer para ele uma fagulha qualquer de calor, afagar seus cabelos e garantir que ninguém mais o machucaria.
- Mestre Mo – Shen recomeçou, incerto. – Por favor não comente com A-Ning que eu lhe contei isso, você entende que ele vê sua própria história como uma fraqueza. Mas se o mestre Mo puder me fazer um favor mais e me contar sobre Luo Binghe, este humilde ficaria agradecido.
Foi a vez de Mo Ran suspirar, ainda entristecido com o que havia acabado de ouvir.
- Binghe também não tem uma história feliz, mestre Shen. Ele é órfão e foi encontrado recém-nascido no rio Luo no dia mais rigoroso do inverno. Foi criado com amor, mas em ambiente muito humilde, até sua mãe adotiva falecer de doença, quando ele então procurou o Pico Sisheng na esperança de se tornar um cultivador. E ele também foi um gênio, desenvolveu seu núcleo dourado rápido e aprende com facilidade qualquer técnica. Tivemos uma afinidade natural, então nos tornamos shizun e discípulo. E que o mestre Shen me perdoe a franqueza, Binghe é um bom rapaz, mas pode ser vingativo e manipulador.
Shen abanou a mão como quem não acredita.
Claro, com o moleque sendo sempre o discípulo perfeito na sua frente.
A parte que Mo Ran não contou a Shen foi qual em específico era a afinidade entre eles. Mo Ran e Luo Binghe estavam unidos pelo sangue demoníaco, como primos muito distantes. Mo Ran percebeu de imediato que havia algo poderoso selado no rapaz, algo que nem o próprio Binghe conhecia, e juntos trabalharam para domar aquela energia perversa e extrair todo o poder que pudesse ser canalizado. Isso permaneceria um segredo dos dois, oculto até mesmo do líder de seita Xue.
Opróprio Mo Ran tinha seu segredo bem oculto do mundo, uma linhagem rara quevinha de sua mãe e permanecera escondida pela maior parte de sua vida. E Mo Rannão planejava expor isso nunca em sua vida.
(Como se isso fosse uma escolha).
***
Esta autora tem algo a dizer:
Fico pensando como seria a reação dos personagens dessa história ao saber do conceito de Dia dos Namorados no Brasil (que é basicamente comida e papapá).
Mo Ran e Luo Binghe ficaram muito animados e cada um tem um cardápio enorme de pratos e posições em mente para comer a noite toda.
Chu Wanning ficou mortificado.
Shen Qingqiu se pergunta o que isso tem a ver com um hétero como ele.
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Sobre gatos brancos e seus cães demoníacos | 2ha x SVSSS
FanfictionDuas duplas de shizun e discípulo se encontram numa estrada deserta. Conforme se conhecem melhor ao longo dos meses seguintes, mudanças afloram em todos eles. Shen Qingqiu descobre toda a fascinação que Luo Binghe pode exercer e como é difícil negar...