Meu discípulo tramando coisas

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Foram seis meses de calmaria no Pico Qing Jing. Chu Wanning completou 17 anos. No inverno, foi a vez de Luo Binghe. Ambos passavam por um estirão de crescimento, ganhando alguns centímetros em poucos meses, embora permanecessem mais baixos que seus professores. Binghe começava a juntar músculos, enquanto Wanning seguia esguio, porém forte. Quem os visse não poderia imaginar que eram heróis com histórias de origem tão trágicas.

Luo Binghe continuava treinando técnicas demoníacas em segredo com a ajuda de Mo Ran, enquanto Chu Wanning era deleite e orgulho de Shen Qingqiu.

O final do período estabelecido para Mo Ran e Luo Binghe ficarem em Cang Qiong se aproximava, e o coração de Mo Ran doía só de pensar em se separar de Wanning. O que inicialmente se apresentou como desejo floresceu e se enraizou no peito de Mo Ran como um carinho que ele não conseguia explicar. Seu dia só era completo se ele visse um pouco de luz no rosto de Wanning, se sentisse o gelo de seu olhar se derreter em orvalho morno.

Mo Ran respirava Chu Wanning.

Isso era novo e Mo Ran de início pensou que fosse alguma obsessão, até chegar à dolorosa compreensão que talvez fosse algo diferente. De qualquer modo, ele só queria que o rapaz ficasse bem e fosse feliz. O quanto de sentimento era preciso para que alguém egoísta como Mo Ran desejasse esse tipo de coisa?

Ele e Luo Binghe estavam cabisbaixos, visivelmente de luto. Até mesmo Shen Qingqiu e Chu Wanning pareciam entristecidos, com suas posturas retas menos erguidas. Shen começou a comentar sobre um desejo de conhecer Sisheng, ao mesmo tempo que todos sabiam que seus deveres como mestre de pico não o deixariam ficar fora por muito tempo. Ainda assim, Binghe abraçava essa fantasia, falando sobre todos os locais que mostraria ao mestre Shen quando retornassem para sua seita.

O coração dos jovens às vezes era o mais simples e podia se contentar com pouco. Como um náufrago se contentaria com a esperança de água doce.

Mo Ran não lembra quem sugeriu um jantar elaborado na véspera da partida, mas foi Luo Binghe que trouxe o vinho de pêra branca. O discípulo sabia que seu shizun não gostava de beber com frequência, pois os instintos de Mo Ran vinham à tona de um jeito assustador que já o levou a tomar atitudes vergonhosas, mas, ah, dane-se. Mo Ran estava desolado e um pouco de álcool não o deixaria pior.

- Shizun – Binghe começou, enquanto os dois preparavam a comida na cozinha da casa de bambu.

- Ei, moleque, lembrou que sou seu shizun agora?

Mo Ran sentiu o azedume em sua voz, seu humor estava dos piores.

- Shizun – Binghe repetiu, como se não tivesse ouvido. – Você não deveria subestimar o afeto de Chu-xiong por você.

Mo Ran continuou cortando a peça de porco com raiva, descendo o cutelo no osso com força desnecessária.

- Chu-xiong gosta da sua companhia – seu discípulo tentou de novo.

- Chu Wanning também gosta da sua companhia, já que vocês tem passado tanto tempo juntos. Talvez ele possa te visitar no Pico Sisheng, só me avisa para eu sair do caminho.

O azedume de Mo Ran virou vinagre em sua garganta, catalisado pela eminente separação. Luo Binghe voltou a cortar vegetais com uma expressão complicada.

- Eu não vou voltar.

O cutelo caiu da mão de Mo Ran e ele encarou o adolescente.

- Eu não vou voltar, shizun! – Binghe repetiu, também largando a faca.

- Então você vai ficar enfiado aqui que nem um parasita?

- Eu vou embora amanhã, vou me enfiar naquele abismo dos infernos pelo tempo que precisar para aprimorar minhas habilidades e vou voltar para Sisheng com aquela maldita espada numa mão e Shen Qingqiu na outra.

Sobre gatos brancos e seus cães demoníacos | 2ha x SVSSSOnde histórias criam vida. Descubra agora