15|E não havia nada que a fizesse parar de cortar seus lindos cabelos

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Nós nunca aprendemos, já estivemos aqui antes

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Nós nunca aprendemos, já estivemos aqui antes. Fingindo estar bem, mas com o coração partido. E nada está bem. 

—Sign of the times, Harry Styles

Quando Mina descobriu o câncer, achou que aquela era a parte em que sua ficha caia, afinal, estava doente. Mas nada aconteceu, nem parecia real. Mas ali, olhando os próprios olhos no espelho, paralisada enquanto segurava a escova de cabelo erguida no ar, uma mecha pendurada entre os dentes do objeto, entendeu que era real. A ficha caiu. 

Um filete de lágrima escorreu pela bochecha avermelhada, o piscar de olhos tornando-se muito mias intenso na medida em que um bolo se formava em sua garganta. 

Não deveria estar surpresa, sabia que aconteceria logo, até demorou muito para ocorrer, na verdade, então porque parecia tão mais triste do que deveria ser? 

Engolindo o próprio choro, puxou a mecha de cabelo da escova, jogando sobre a pia. Levando a escova para os cabelos, com mais força do que deveria, outro tufo escorreu entre os fios, estava caindo. 

Essa era a fase mais temida da quimioterapia; os cabelos cairiam, perderiam as forças e então desabariam, assim como ela. 

Não suportando a força que fazia para se segurar, Mina quase engasgou-se com o soluço que escapou de sua garganta, e aquilo foi o estopim para perder as forças das pernas, se deixando sentar no chão, encostada contra a parede do banheiro enquanto chorava compulsivamente, feito uma criança. 

Sua criança. A criança interior chorava pelos cabelos macios e sedosos. A adulta chorava pela morte.

Haviam fios e mechas de cabelos espalhados pelo travesseiro quando acordou, haviam pequenas mechas que a lembravam que tudo cairia, principalmente ela. Nada se manteria em pé. 

Nada. 

No outro dia, Jihyo disse que deveria raspá-los, nada poderia impedir que eles continuassem caindo, eram os remédios confundindo as células. 

Como se tudo passasse em borrão desde que acordou, mal teve animo para conversar. Nem mesmo esboçou qualquer reação quando o barulhinho da maquina ressoou pelo salão, quando os fios maiores desabaram em seu colo e uma lágrima seguiu o mesmo caminho. Nem quando o soluço de dor de sua mãe ecoou atrás, ou quando seu pai levou as mão aos próprios olhos para se impedir de chorar. Mina não esboçou nada. 

Em nenhum momento. 

Embora a adulta não dissesse mais nada, a criança continuou a chorar pelos cabelos. 

E ela chorou, por nada. E não havia nada que a fizesse parar de cortar seu lindo cabelo azul fora.

—Blue Hair, TV Girl

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— Prontinho, você é a nova mamãe desse fofo.

Romance De Outono|MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora