prólogo

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     "Cansado da festa, príncipe?" Ele andava sobre as rochas, silenciosamente. O veludo na cabeça, a pena e o amor pelo menino vestido de branco que segurava a barra da roupa para não sujar da areia que o vento trazia enquanto ia até ele.

     "O lorde nos acha barulhentos demais às vezes, não é?" O garoto o encarou, sorrindo brincalhão, esperando que o rapaz chegasse com os braços esticados para frente. A casa lá atrás brilhava e até tremia, já não restava tanta gente, apenas os amigos mais próximos, mas as músicas ainda eram muito altas e as pessoas ainda gritavam. "Compreendo nossos vizinhos irritantes."

     "Acho que eles têm esse direito, hum?"

     Ele era tão bonito. A roupa branca foi feita especialmente para ele pela costureira da família. Os cachos ruivos se mantiveram perfeitamente arrumados, mesmo depois que foram bagunçados por completo. Os olhos verdes eram os mais ternos nele: brilhantes, vez ou outra azulados, dóceis. Aquele rapaz era tão delicadamente belo como se fosse porcelana pura, e era amado. Ele era lindo, lindo, lindo, o fazia pensar que a natureza, aparente ou não, abria espaço para que ele passasse: o vento soprava na direção certa para balançar as faixas da vestimenta e os cabelos enrolados, e o sol se inclinava cuidadosamente para refletir nos olhos sem machucá-lo. O mundo parecia girar em torno do garoto tímido, magnífico, sem que ele fizesse esforço algum. Ele nunca se acostumou. Ele tremeu como na primeira vez que o viu, muitos anos antes, em todas as outras vezes em que o observou se aproximar. "Acho que eles tem, sim." Concordando apenas por concordar, apenas porque era o que ele dizia.

     Quando estava em seus braços, arrumou o gorro em sua cabeça, sorrindo alto: "Nós podemos dar uma volta na praia antes de entrarmos?"

     O sol estava a alguns momentos de nascer de novo quando a festa acabou. Eles desceram pelas rochas e caminharam de mãos dadas, enquanto ele contava uma história criada a cada um de seus passos. Ventava muito, a ponto de respingar água da maré nos rostos corados e fazer com que os meninos corressem em gargalhadas atrás do chapéu que voava para longe.

     As gargalhadas se acalmaram e se transformaram em conversas baixinhas, que se tornaram músicas sussurradas, que viraram beijos escorregadios, que deixaram as roupas pálidas na areia, que ficaram por baixo do chapéu, que escondeu os gemidos baixos, que juntou os dois corpos em apenas um, que se revirou em respirações descompassadas, que terminou em corpos desalinhados, mas ainda unidos: "Ela não queria abrir mão de seu futuro. Seus sonhos. E ele não queria deixar sua infância para trás. Então tiveram que se separar."

     "O que acontece depois?" Ele passava os dedos levemente pelo peitoral abaixo de si, desenhando enquanto tinha os cabelos acariciados.

     "Depois ele a encontra de novo. Mas ela é uma mulher crescida agora."

     "Nada mais acontece?"

     "Eles não são mais compatíveis. Ele ainda é apenas um menino. Ela é uma mulher. Cresceu, se casou e teve uma filha. Ele chorou. Amar às vezes pede que você abra mão. A terra do nunca é agora."

     "Por que tão triste?"

     "Eu não sei dessa vez, amor. Eu realmente não sei."

     "Ele se esquece dela?"

     "Não! Ele nunca vai se esquecer dela. Nunca, nunca. Prometo a você."

     Um suspiro magoado escapou de seus lábios, era o garoto de chapéu que inventava histórias o tempo todo, mas nunca controlava o que acontecia nelas: "Seu pai não vai nos procurar aqui, não é?" A cabeça apoiada em seu ombro, sentados em cima da camisa azul brilhante de botões.

     "Não. Eles partiram ontem a noite. Acho que somos só nós dois agora." Beijando para distraí-lo da mágoa fantasiosa, tentando encontrar uma nova história com um final feliz na mente.

     "Então vamos até o mar. Por favor!" O garoto se animou de novo e fez bico, mas sem muita necessidade, porque teria seu pedido obedecido assim que o fez, a expressão manhosa no rosto apenas para encantá-lo ainda mais. Ele sorriu travesso, levantou num pulo e o puxou pelos braços, assustando-o. O rapaz gritou, segurando com força nos ombros. "Não me deixe cair, não me deixe cair!"

     "Eu prometo, tudo bem!" As risadas se repetiram até chegarem a água gelada, funda. O mar estava revolto, os braços cercaram o garoto em proteção enquanto eles pulavam as ondas, uma coroa e um gorro em sua cabeça, e a outra estava livre de pesos e culpas. O mar os puxou, os tirou do ar, até que dormiram abraçados sobre a areia, embaixo dos raios já maduros do sol.

     Quando ele acordou, o cabelo vermelho estava preso em um coque e as costas nuas, inclinadas, sentado na areia com um galho na mão.

     "O que você está fazendo aí, meu pequeno lorde?"

     "Desenhando nossa grande dinastia americana."

     Era uma casa de férias ao lado das estrelas e do coração perfeitamente contornado.

"W&E"

The Last Great American Dynasty || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora