No dia seguinte, Harry acordou no apartamento de Zayn, sem o vestido branco, sem as pinturas na parede, sem baús e prateleiras enormes de livros e sem o rapaz acinzentado. Sadie dormia ao lado, no chão, e lá fora, o céu havia voltado a suas cores comuns; era um azul clarinho naquela manhã, sem muito vento, sem calor e sem frio.A mente pesava, mas ele não sabia porquê. Quando Zayn foi de encontro com uma bandeja de café da manhã nas mãos, ele perguntou:
"Você quer falar sobre ontem?"
"Eu só me lembro da chuva. E eu sentia muita dor. E conheci um rapaz, eu acho." Harry comeu distraidamente. "Eu estava pensando em vender a casa." Zayn acenou, sorrindo amarelo.
"Senti sua falta aqui."
No fim do mês, ele o ajudou a fechar contrato com uma mulher que se interessou pela casa de férias.
"Eu fiquei encantada pelos desenhos nas paredes, e a mobília é tão bonita!" Ela era escritora, vinda da cidade vizinha, e contou que havia discutido com seus pais algumas vezes e estava procurando um lugar para espairecer e alcançar um "nível criativo mais elevado" sobre seus livros parados. Era sorridente, o cabelo loiro se balançava conforme falava e suas roupas eram todas brilhantes. Harry se afeiçoou a ela.
"Achei que teríamos problemas com as pinturas. Poderíamos pintar se desejasse."
"Você já pensou em expor o que você faz?" Ela exclamou, animada. "É tão bonito! Tem tanto sentimento... você tem talento."
Harry negou, sorrindo.
"Digo isso a ele desde que o vi com uma folha sulfite pela primeira vez." Zayn brincou.
"Harry, guardar o que você tem aqui dentro" ela apontou para as paredes da casa ao redor da mesa em que estavam. "É como não ter nada. Só nós dois vimos tudo isso, tem ideia? Você deveria tentar. Poderíamos começar apenas fotografando! Se você quiser, é claro. As pessoas estão com fome de arte, te prometo. E esses desenhos todos soam tão humanos. Têm um amor tão sensível neles. Sinto que esses girassóis estão até conversando comigo."
"Eu posso pensar nisso." Ele acenou, corado. "Obrigado, Taylor."
Ela agradeceu pelo contato e pela confiança para fechar o contrato antes que eles fossem embora. Contou mais histórias e entregou alguns de seus livros aos rapazes.
Harry passou a morar com Zayn, que apreciava a presença do amigo, principalmente depois daquela noite. Ter Harry por perto era bom, e ele parecia, de certa forma, diferente. Estava mais falante, e Zayn o via dançando às vezes, em silêncio, no quarto. Ele deixou que Harry pintasse as paredes como desejasse, e a ideia de Taylor realmente funcionou: os desenhos na parede terminaram na internet, e as pessoas chamavam Harry para pintar em suas próprias casas, e então vieram os quadros, as exposições e as aulas de arte infantis, que Harry descobriu adorar dar às crianças do bairro.
Os anos fizeram dele um artista reconhecido de memória pesada e corpo cansado, mas feliz. A vida continuou um caos, e ele desistiu de tentar encontrar seu lugar aos 35, mas não era ruim.
Ele continuou se sentando no alto dos parques para olhar a vista, e continuou pensando nas árvores, e no vento, e na vida, e continuou escrevendo e pintando, dormindo tarde, sem muito sentido, e acordando cedo, tomando café com leite de manhã, sozinho na mesa, sempre na ponta, porque Zayn costumava levantar tarde.
Harry conheceu muitas crianças ao longo dos anos, e todas eram diferentes, espertas e sonhadoras, e ele concluiu que as crianças eram os seres mais próximos dos poetas adultos, mas elas não precisavam de tanto esforço e nem tanta dor; isso porque olhar a vida bastava, e não havia medo da falha, de falar e ser julgada, de dizer besteiras, de perder tempo, e daí naturalmente saíam as mais belas junções de palavras, formas e cores. Elas fariam perguntas e responderiam também, e nenhuma delas com as mesmas respostas. Saíram muitas pérolas e muita arte, sem que elas nem soubessem disso. Harry gostava de estar perto daquele grupo, e sonhava que as pessoas, um dia, fossem todas apenas crianças.
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The Last Great American Dynasty || l.s.
FantasiaDuzentos anos é muito tempo, a casa de férias permaneceu quieta naquela praia, livre de príncipes loucos, reis impiedosos e amigos com hábitos ruins. (ou quase livre) E então foi comprada por Harry. Ele se divertiu muito arruinando tudo.