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     "Anthony? Não.... Não combina com você." O garoto fantasma negou com a cabeça, se divertindo. "Bruce? Nome de cachorro. Louis? Louis! Que tal Louis? É esse o seu nome?" Ele não soube qual pergunta responder primeiro e Harry percebeu logo. "Oh, desculpe. Seu nome provavelmente não é Louis, mas combina com você." Ele acenou; seu nome não era aquele. "Tudo bem se eu chamá-lo assim?" Outro aceno, então, daqui para frente, vamos chamá-lo de Louis.

    Louis apareceu no dia seguinte mesmo. Ele surgiu de novo pela manhã, assim que Harry acordou no sofá, sugerindo um pesadelo e tentando se livrar dos olhos inchados, e então esteve de cara com o garoto fantasma de olhos brilhantes ao colocar os pés na cozinha. E dessa vez ele não tentou tocá-lo, consciente de que ele partiria. No início, foi muito estranho. Harry não sentia medo dele, mas era bizarro ter outra pessoa (não exatamente uma pessoa) em sua casa. Harry julgou que Louis já estivesse vendo-o há muito tempo sem que ele soubesse, e que quando não estava presente, ainda poderia estar. Mas não causava insegurança, pelo contrário, ele era extremamente familiar e fácil de ter por perto. Não estava lá o tempo todo, e quando não, Harry se sentia estranho. Quando estava lá, também.

     Ele continuou pintando e continuou sonhando com seus borrões e pássaros distorcidos. Louis se tornou uma figura frequente em casa, mas também passava algum tempo longe. Harry gostava de observá-lo andando pelas rochas durante a noite através da janela da cozinha, e apreciava sua companhia enquanto coloria mais uma parede. Ele aprendeu a não dizer mais nada, a olhar o menino de chapéu e sapatos pontudos, só olhar, e era quase suficiente. Louis estava sempre olhando de volta, e volta e meia, quando encarava outros lugares, Harry tinha a impressão de que o azul dos olhos sumia. Ele confirmou seu pensamento durante a noite, quando os olhos de Louis deveriam ganhar destaque nas rochas por serem a única luz presente, mas estavam tão acinzentados quanto o restante de seu corpo. E quando Louis percebeu sua presença por lá, então eles voltaram a arder. E os de Harry se encheram de lágrimas.

     Naquele sábado de manhã, Harry tomou café na mesa, sem Louis. Ele só apareceu pela tarde, quando Harry estava pintando um quadro na praia, enquanto Sadie cochilava na areia.

     No quadro, Harry pintava duas crianças. Uma tinha uma coroa na cabeça, e a outra, cabelos vermelhos e um sorriso largo. Harry conta que a criança coroada estava destinada a carregar um peso muito grande, misturado com alguma culpa e rebeldia, uma raiva meio sem solução e uma doçura disfarçada. E a criança de cabelos vermelhos ganhou uma responsabilidade assim que nasceu, mas também foi dada permissão para que brilhasse, fosse gentil e inteligente, para fazer mudanças pelos operários cansados e crianças camponesas. E pela criança coroada. No fundo da pintura haviam ainda mais crianças, todas com ternos e galhos em suas cabeças, duas de cabelos escuros e uma loira. Ele contou que elas se conheciam desde muito pequenas, e que brincavam juntas o tempo todo, correndo entre as folhas e subindo às árvores. Uma vez, quando eles tinham cerca de oito, nove e dez anos, a criança de cabelos vermelhos caiu de um tronco frágil que quebrou com seu corpo. Fez um corte em sua testa e um choro bem baixinho foi ouvido. A criança coroada chorou muito mais, assustada com a quantidade de sangue que parecia tanto, o coraçãozinho tremendo com o choro dele e uma das mãos apertadas enquanto ele chamava por ajuda, agarrada na mão da criança de cabelos vermelhos, sem soltar por nenhum segundo. Não era um corte fundo e parou de sangrar logo, quando as outras crianças chegaram, mas a gritaria foi tão alta que seus pais chegaram logo depois, todos muito apavorados, e o restante você provavelmente já pode concluir: castigo. Proibidos de subirem nas árvores e brincar na floresta. Na teoria dos mais velhos, proibidos para sempre.

    No dia seguinte, o cortezinho tinha uma casca e as crianças continuaram correndo. Quando o tempo passou, o tronco das árvores passou a servir de esconderijo para seus pequenos encontros. Outras pessoas foram subindo, outras descendo, mas as cinco crianças nunca se afastaram umas das outras.

The Last Great American Dynasty || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora