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   (Esse capítulo pode conter gatilhos: afogamento/morte. São apenas dois parágrafos, mas vocês verão um asterisco (*) em frente aos trechos explícitos. Leiam com cuidado. Se você não estiver confortável para ler, me chame na dm e eu posso contar o que acontece aqui, ou mandar uma versão do capítulo sem os trechos. Boa leitura!)

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    Antes de todos os outros dias, Harry pensou que aquele fosse ser o pior dia de sua vida inteira.

     Tudo começou pela manhã: o garoto acordou envolto num calor tão brusco que quase não conseguiu se colocar para fora da cama. Ele cogitou uma gripe, mas não havia nenhum outro sintoma além da febre ardente. Ele podia sentir todo o corpo queimar absurdamente, sobretudo o peito: o peito ardia, e ele se viu chorando de dor assim que abriu os olhos.

     Sadie choramingou do outro lado, querendo passear, preocupada com o dono, e Harry desceu as escadas cambaleando, procurando por Louis. Louis, Louis, Louis. Louis é a única coisa que ele quer e precisa. Ele não era capaz de entender o porquê, mas não estava apto o bastante para questionar. Havia uma vontade dolorosa de arrancar todas aquelas pinturas das paredes como se cada uma delas fosse um pequeno choque. Os girassóis principalmente; o amarelo doía e o fazia chorar ainda mais. Louis, Louis.

    "Louis!"

    Ele o encontrou na sala, sentado na janela, encarando a praia, como costumava ficar, mas já não se sabe mais se era real ou se o rapaz de cachos estava apenas delirando. Não se sabe de mais nada: não se sabe se algo esse tempo todo foi real, nem se a vida de Harry foi real (mas tudo aponta que sim), nem se a imagem de Louis era real. Harry sempre teve medo de enlouquecer ao ponto de não saber que estava enlouquecendo, como as pessoas fazem todos os dias. Harry temeu, a vida inteira, deixar de perceber a própria loucura. A sociedade estava dividida entre essas duas pessoas: ambas loucas, mas apenas uma consciente da própria insanidade. A vida, no geral, é pura insanidade. Tudo o que a gente faz é ver normalidade onde não existe.

     Louis o olhou e sorriu, mas os olhos azuis choravam como no último dia em que ele apareceu. Harry pressionava o próprio peito enquanto caminhava até ele com dificuldades.

     "O que está acontecendo? Dói."

     Louis tentou avisá-lo, mas sua voz não saiu. Nunca mais saiu desde aquela noite. Harry soluçou, e então ele também estava chorando, mas não havia nada que pudessem fazer.

Você precisa ir. Ele queria dizer. Você precisa me encontrar.

     Harry conseguiu sentar-se ao lado dele e olhá-lo quando a dor fez um intervalo, e Louis era lindo. Por um momento as lágrimas pararam e ele sorriu, e o rapaz sorriu de volta. Misturando a paixão pelo menino de cachos com aquele choro infantil, Louis sorriu para ele e implorou por perdão. Me desculpa, me desculpa, me desculpa. Sua garganta se arranhou e ele pensou por um segundo que escutou a própria voz. Me desculpa, amor. Me desculpa.

     E Harry o achava lindo, doce, amável. Era o menino mais bonito do mundo inteiro, ele tem certeza. Louis era gracioso e alegre, e havia aquele chapéu daquele conto de um tempo atrás e os olhos azuis cristalinos, o nariz avermelhado, o sorriso pequeno e a alma doída. Harry queria abraça-lo, beija-lo, levar suas dores embora, mas seu corpo clamou de novo, ele se contorceu e a figura de Louis pareceu se apagar um pouco mais.

Você precisa ir. Agora, agora. Você precisa ir.

     E Harry precisava ir porque o mundo cansou de esperar, e porque o amor era uma forma de magia que não poderia vencer todas as outras, porque então não seria tão valioso assim. É valioso tudo aquilo que podemos perder, e nada nunca pareceu tão frágil e quebradiço quanto aquela palavrinha de quatro letras, embora ele tenha sido tão forte. Ele era mágico, mas o mundo ainda era grande demais, e ainda havia história demais para acontecer. Ele era mágico, mas almas também, e o tempo também.

The Last Great American Dynasty || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora