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      "Filho, você está nos escutando?" A mulher de cabelos castanhos e olhar doce murmurou, ansiosa.

     "Estou ficando impaciente com tudo isso. Ele não escuta. Essa reunião é completamente inútil." O marido bateu na mesa, olhando para o menino com certo desgosto.

     "Estou ouvindo vocês. Só não acho que é assim que se resolve a situação. E estamos todos cansados de saber que eu não quero governar nada. Eu nunca quis." Aquela conversa já durava algum tempo.

     "Mas você não tem escolha. Você vai."

     "Por que? O James sempre quis o trono e é muito melhor que eu! Por que não passam a ele?"

     "Ele não é da linhagem."

     "Ele é seu sobrinho!"

     "Não importa. Você é o próximo. Você é meu herdeiro e você vai governar esse lugar, querendo ou não!" O adolescente revirou os olhos aos gritos do pai, indiferente.

     "Querido..." A mulher implorou.

     "Está na hora de crescer, garoto." O homem mais velho apontou de novo, furioso com o menino, arrependido de não ter tido mais filhos, arrependido de sua criação. "Criar responsabilidades. Sua vida não se resume àquela casa e àquele garoto. Muito menos àquele garoto."

     "Essa discussão não faz sentido. Eu não vou governar. Você não vai largar o trono agora. Ponto final. Você nem mesmo está próximo de se aposentar. Por que tudo isso?"

     "Eu vou sair assim que você fizer 18 anos."

     "O que?" Ele esbravejou, arregalando os olhos e se levantando. "Ninguém tem idade para assumir o trono aos 18 anos! Você não assumiu aos 18!"

     "Você sim. Eu treinei você para isso."

     "Não treinaram você para ser um bom rei aos 18 anos, papai? Oh, que decadência, eu achei que você fosse o melhor." Ele brincou, revirando os olhos.

     A mãe permaneceu quieta, pensando na frustração que sua criança deveria sentir, culpada por fazer com que ele seguisse um caminho que não queria seguir, repetindo sua história.
  
    Se ela pudesse ter escolhido, jamais teria se casado com o rei.

     "Eu não vou mais lidar com essas suas imprudências. Não me importa o sarro que tire da situação, você vai fazer o que estou mandando no fim."

     "Mas eu não quero." Ele exclamou. "Eu quero contar histórias, eu quero ir para o circ-" Antes que pudesse terminar, o rei pegou o gorro de suas mãos e o jogou longe.

     "Você nunca mais vai me dizer isso. Nunca mais, entendeu?"

      "Por que você fica tão bravo toda vez!? Qual é o problema?"

     "Filho..." Sua mãe tentou outra vez.

     "Você é parte da realeza. É meu único herdeiro. Você vai assumir o meu lugar assim que completar 18 anos, e jamais vai pisar de novo num circo. Eu queria muito que você não fosse meu único filho, porque você é minha decepção. Você jamais vai manchar a reputação da minha família dessa forma. E essa discussão termina aqui."

     "Você é tão rude." Ele buscou o gorro, deixando cair a face de indiferença ao que os olhos se encheram de água. "Eu não vou mais falar sobre isso. Eu odeio você."

     Ele foi de bicicleta até sua verdadeira casa, de visão nublada e soluço preso na garganta. Escutou sua mãe chamá-lo algumas vezes antes de sair da sala, mas não deu ouvidos. Escutou os murmúrios estúpidos do pai intolerante e intocável. Céus, como ele era forte e impossível. Como era sábio, grande, rico. Ele era tão alto e tão esperto, o melhor rei que aquele mundo já viu. O mais correto, mais justo e mais gentil. O menino passou tanto tempo tentando receber amor do pai que quando percebeu já estava transbordando de raiva e apatia. Quando não havia raiva, não havia nada, e ele não sabia o que era pior. Ele sabia que era uma decepção, sabia que seu pai odiava o fato de não ter mais filhos, sabia que seu orgulho era tremendamente ferido ao sequer pensar na possibilidade de não passar aquele posto a qualquer outro que não fosse de primeira linhagem, embora ele também soubesse que seu melhor amigo era definitivamente melhor que o próprio filho. O menino sabia de tudo, só não sabia porquê.

The Last Great American Dynasty || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora