Um dos meus traços mais divertidos é a minha imaginação, a capacidade de viver vidas inteiras, dentro de poucas horas, apenas devaneando sobre qualquer nada existencial que me surja. Ao mesmo tempo que constantemente, me pego irritada com a quantidade de barulho, que um grão de pensamento pode fazer, somado a isso, todo o ruído externo a minha cabeça, fazia da vida cotidiana, uma experiência torturante.
Eu sou diagnosticada com uma paradinha chamada Transtorno de Personalidade Limítrofe Borderline, minha psicóloga, psiquiatra, o google... já tentaram me explicar exatamente o que é, mas é como um primo do bipolar (não sou profissional, não use essa obra como meio de se diagnosticar, procure um médico), minha psicóloga diz que a palavra que me define é intensa, e diferente de você pessoa escrota que usa o adjetivo intensidade pra justificar suas ações idiotas, a minha intensidade me fere, física e mentalmente, é quase como ter o termômetro interno quebrado, não existe perigo em se jogar de um carro ou em se jogar em relações rasas, tudo é mil vezes mais do que deveria, ou não é nada. É pular do precipício ou viver deitada.
Talvez ao longo dos meus devaneios eu exemplifique melhor o que significa o meu transtorno, mas o ponto deste monólogo é que, quando se sente tudo, na maior intensidade possível, é difícil separar os seus pensamentos, dos barulhos externos. Não é privilégio de nós suicidas, termos em nossas vidas pessoas impondo suas métricas de sucesso a existência alheia, ouvir que na sua idade já estava formado, ou que na época delas ninguém tinha tempo pra ter problema mental, que ficar bem e vencer na vida é apenas uma simples questão de força de vontade.
Aparentemente problemas e dificuldades são características de um público muito específico, afinal quem me olha do meu pedestal de vidro, construído pelo suor dos outros, e lágrimas minhas, não consegue conceber que alguém como eu tenha dificuldades. Pois aqui estou, princesa de tempestades, disposta a dar, a qualquer um, o privilégio de sentar no meu trono de brasas, use a coroa forjada por uma inocência roubada, que deixou pra trás apenas cheiro de cigarro e um pouco de sangue, reine e prospere em meio a traumas, medo e mentiras.
É interessante perceber que ninguém está realmente preparado ou disposto a ouvir a verdade, que é mais confortável lidar com quem veste seus monstros interiores, para não assustar. Eu como boa parte das pessoas que cresceram em ambientes cristãos, se condicionaram a ver o pecado na serpente, sem se dar conta de que somos todos serpentes, vestindo peles desconfortáveis pra mascarar o sabor amargo que palavras sinceras tem. Gosto de perceber que estou me desfazendo dessas peles, é impressionante quanto de mim existe por baixo de todas elas.
Uma coisa eu acredito que seja um privilégio nosso, caros suicidas. Nós sabemos o quão fácil é morrer, nós sabemos o prazer de sentir o fio da lâmina contra a pele, nós sentimos formigar sob os poros, aquele desejo de ser carregado pela inconsciência, e ainda assim, pagamos pra ver o dia seguinte, por que morrer é fácil, mas pra quem já morreu, viver é mais divertido.
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Pensamentos de uma Suicida
RandomA seguinte obra se trata de um relato pessoal e exposição de pensamentos da autora. Nenhum nome além do meu será citado, para proteger a identidade dos envolvidos. Aviso que esta obra contem temas sensíveis, opiniões controversas e muito sarcasmo, c...