Ontem eu ouvi que em breves falas, que eu tenho me posto como a personalização do meu transtorno, imagino que dentro da licença poética que me cabe, a criação de um personagem detentor de todas as faces de uma historia, é, até certo ponto, aceitável. Mas não é esta, a intenção dos meus relatos, sendo assim, garanto manter visível, a face que é apenas minha, torcendo por um final otimista.
Eu creio ter dito que a minha imaginação é um dos meus traços mais divertidos, brincar com realidades, moldar personalidades, inventar cores... tudo que dentro das minhas sinapses, tornam meus dias mágicos. Infelizmente imaginação não é sinônimo apenas de criatividade, ela trás consigo cenários trágicos, a ansiedade por uma palavra não dita e todas as possibilidades do elas poderiam ser. Talvez esse parágrafo seja uma introdução a um assunto totalmente desconexo, que por alguma razão, nas encruzilhadas dos meus pensamentos ilógicos, eles se complementam.
Antes de conhecer a magia dos livros, a vertigem do álcool e a adrenalina de entrar em corações vazios, o meu grande vicio era dormir, num lugar onde a minha mente sempre me levaria a uma aventura mágica, onde era seguro e onde eu não precisava existir de verdade. Alguns dos psicólogos que tive durante a infância e adolescência, julgaram isso sinônimo de depressão, afinal que criança prefere dormir a experimentar o mundo? Já eu, levava meu sono como breves instantes de paz, onde eu podia ser uma criança com super poderes e não com um estuprador nas sombras, onde eu poderia ser abraçada e acolhida por fadas, elfos, princesas e dragões, sempre a um passo do felizes para sempre, em vez de limpar o sangue dos pulsos cortados da minha mãe.
Uma das coisas que dizem sobre Borders é que temos propensão a vícios, de acordo com eles, é por que adoramos a sensação de sentir algo mais forte e mais intenso. Mas usando a minha experiencia, eu digo que vícios nos atraem, por que nos fazem não sentir, é poder simplesmente ser nada por alguns instantes, é dormir acordado.
Ultimamente eu não tenho dormido, meu refúgio de dias exaustivos, se tornou hostil, com cenas que por vezes eu pensei ter esquecido, como choro meu filho que eu nunca vou poder ouvir... As vezes ser privado de não existir, por algumas horas é a pior tortura que se pode imaginar. Talvez eu seja viciada em dormir, ou só esteja fugindo de encarar alguma coisa e sinceramente não me envergonho de fugir, tem alguns monstros que eu ainda não consigo encarar. Por algum motivo, nós suicidas temos tendência a sentir coisas pequenas, de forma intensa, as pessoas acham que nos cercando de companhia, é uma excelente solução pra aliviar suas consciências pesadas, e terem consigo a sensação de ter feito algo, quando na verdade estão apenas tentando encher de sentimentos e emoções vazias, uma mente já sobrecarregada. E isso me faz questionar meu título de suicida, porque na maioria dos lugares em que se pesquise, vai ter que o suicídio é a forma de uma pessoa em estado depressivo avançado sair da letargia, ou matar a dor.
O fato é que não está doendo mais a muito tempo, é apenas sono, vontade de ser levado por uma inconsciência tranquila, mágica e eterna. Nós suicidas queremos dormir, ser acolhidos por fadas, elfos, dragões e princesas, longe do barulho que as mentes confusas a nossa volta distribuem.
Minha família tem o habito de falar que quem está dormindo está morto, eu estou acordada direto, a quatro dias, vivendo pequenas mortes, tendo como alívio, sonhos acordados com cheiro de livro novo e perfume de criança.
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Pensamentos de uma Suicida
RandomA seguinte obra se trata de um relato pessoal e exposição de pensamentos da autora. Nenhum nome além do meu será citado, para proteger a identidade dos envolvidos. Aviso que esta obra contem temas sensíveis, opiniões controversas e muito sarcasmo, c...