Essa é a primeira vez que eu começo a escrever algo sem um titulo pre-definido, gosto dos titulos, me ajudam a tentar manter uma linha de raciocinio coerente mesmo em meio as minhas divagações.
Tem um pouco mais de uma semana que eu adoeci, uma gripe comum, uma tosse comum. Mas acho que percebi que a pior parte de adoecer pra mim, é não saber receber cuidados, honestamente eu não gosto deles, ou eu inventei isso em algum momento e agora tomei como verdade.
Como eu ja citei aqui, meu diagnostico é Transtorno de Personalidade Borderline, ninguem sabe o que é, eu já tente explicar em algumas ocasiões, para algumas pessoas, mas infelizmente o intelecto humano ainda não está desenvolvido pra entender que nem todo cérebro segue a linha do ponto A ao ponto B de maneira lógica, racional e organizada. Sem falar no nivel de interpretações, para alguns conhecidos eu sou só "estranha", para os meus amigos eu estou em "construção", para a minha família eu estou "quebrada", "frágil" e "mentalmente incapaz de tomar uma decisão acertiva sem o auxílio experiente deles". Não pensem que é uma critica destrutiva a minha familia, cada um lida com o desconhecido a sua maneira e eles cuidam de mim da melhor forma que podem e eu realmente sou muito grata a isso, sem eles eu não teria chegado tão longe, sem eles eu teria parado meses atras com os pulsos cortados deitada na minha cama. O fato é que eu amo a minha familia e eu sei que eles me amam, pelo menos em partes, as partes que eles escolhem ver e a que eles tentam mudar.
Voltando ao meu diagnostico, eu poderia colar aqui a definição do google pra bordeline, mas eu prefiro facilitar a vida de quem vai perder alguns minutos do dia lendo isso e fazer a comparação totalmente absurda com a bipolaridade. No momento eu estou no fim de um ciclo depressivo, acompanhado de pensamentos e comportamentos destrutivos, dessa vez não tenho a minha psicóloga segurando a minha mão, estou cruzando a minha corda bamba sozinha e por mais que tenha sido um inferno, fico feliz em dizer que cheguei ao final dela sem me causar danos permanentes.
O que realmente me intrigou nesse ciclo depressivo solitário, foi como isso afeta as pessoas a minha volta, como isso as deixa inseguras, quantas vezes eu ouvi "eu fiz alguma coisa?", eu nunca tinha parado pra pensar que existe o outro lado da depressão, que existem os amigos que são deixados de lado, a família que é esquecida. Por que quando voce entra naquela bolha escura só existe você e as suas piores partes.
Mas a depressão pode trazer boas reflexões, nem tudo vai levar a algum lugar, mas algumas coisas, alguns fios de pensamentos valem a pena serem ouvidos. Por que sempre que eu entro em casa com uma expressão que não demonstre toda a felicidade e gratidão que eu sinto por essa existencia em grande parte mediocre, eu preciso dar um memorando explicando de quem é a culpa, o porque, se eu tenho tudo, como assim eu ainda estou triste? Por que cabe a mim, que estou no fundo do meu poço particular, reconfortar as pessoas e dizer que a minha depressão, meu desanimo, minha desesperança... nada disso é culpa de ninguem? Por que eu tenho que ouvir vez após vez que minha falta de fé é a responsável pelos meus males, e que se eu tivesse fé eu seria grata por eles? Por que nos meus piores dias eu tenho que ouvir o quanto eu sou desorganizada, o quanto eu sou burra por ignorar os melhores conselhos, que eu sou brega por gostar das minhas roupas, que eu não sou boa o suficiente?
Eu fiz de mim uma colcha de retalhos com tudo que querem, precisam ou acham que eu deveria ser. E no fim do dia, eu não sou ninguem, não o suficiente. Meu aniversário é no natal, época linda, os natais da minha infancia sempre foram memoráveis. Esse vai ser o meu primeiro natal sozinha, sem mãe, sem pai, sem irmãos e sem mim.
Eu não esqueci a proposta desse "livro", a faca ainda está no meu pulso, esperando... Afinal que escritora eu seria se não criasse o desfecho perfeito, fiquem aqui, se entretenham com o sofrimento de uma estranha, caso você se identifique, bom pelo menos isso serviu de algo.
Sempre achei as cores das decorações natalinas sem graça, mas quem sabe, com o empurrão certo, o vermelho da minha árvore de natal seja um pouco mais vivo.
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Pensamentos de uma Suicida
DiversosA seguinte obra se trata de um relato pessoal e exposição de pensamentos da autora. Nenhum nome além do meu será citado, para proteger a identidade dos envolvidos. Aviso que esta obra contem temas sensíveis, opiniões controversas e muito sarcasmo, c...