Até um tempo atrás, eu valorizava restos, afinal o resto de alguma coisa parecia melhor que nada. Mas e quando o resto é você?
Restos de uma filha chamada de monstro pelo pai. (Não que a opinião dele seja muito relevante, até porquê pra alguém que passou mais da metade da minha vida com uma pedra de crack na boca, é muita coragem me chamar de monstro)
Restos de uma filha chutada pela mãe na primeira oportunidade. (Não que a opinião dela seja muito relevante, porquê pra alguém incapaz de lidar com a vida, com as responsabilidades, com o peso e com os homens que ela elege pra mandar na vida dela, é muita coragem jogar fora a única pessoa que estava com ela de graça)
Restos de uma neta que não supriu as expectativas de três filhas fracassadas e que hoje se resume em remédios, problemas e transtornos incapacitantes. Presa, contida, censurada, porque afinal qualquer atitude absolutista se justifica quando é "por amor".
Restos de uma mãe, que não teve a chance de conhecer o próprio filho. E é obrigada a enterrar a lembrança dele todos os dias, por que é difícil de mais para a família tradicional brasileira, saberem que uma criança, fora do casamento, de uma jovem de 20 anos, existiu e partiu bem em frente aos olhos de todos e ninguém viu.
Restos de um suicida que não consegue fazer nem uma morte bem feita. Que tatuou cicatrizes que precisam ser bem escondidas, porquê seria humilhante pra família se soubessem que além de tatuada, vulgar e instável, ainda carrega cicatrizes enormes nos braços.
Restos de uma paciente que por mais que tenha deixado claro que eu não tenho salvação, tenho uma psicóloga que ainda insiste em mim.
Restos de uma amiga, que não consegue manter um diálogo por quinze minutos.
Um resto de ser humano, mendigando um canto no quintal de alguém, pra sobreviver o dia seguinte, com a ameaça constante de ser substituída por um pet melhor.
Até um tempo atrás eu valorizava restos, afinal o resto de qualquer coisa era melhor que nada, não é?
Hoje eu vejo que os restos de mim não são suficientes e que nada é muito melhor, que essa sobra de coisa alguma que eu sou obrigada a manter viva.
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Pensamentos de uma Suicida
RandomA seguinte obra se trata de um relato pessoal e exposição de pensamentos da autora. Nenhum nome além do meu será citado, para proteger a identidade dos envolvidos. Aviso que esta obra contem temas sensíveis, opiniões controversas e muito sarcasmo, c...
